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Por O Globo, com agências internacionais — Rafah, Gaza

Com tanques, as Forças Armadas de Israel tomaram o controle nesta terça-feira do posto fronteiriço de Rafah, que separa a Faixa de Gaza e o Egito, substituindo bandeiras palestinas por israelenses antes de uma possível grande incursão terrestre na cidade do extremo sul do enclave. Esta é a primeira vez que o Exército de Israel entrou nessa parte de Gaza desde o início da guerra com o grupo terrorista Hamas, em outubro do ano passado. Funcionários palestinos disseram que todo o fluxo de ajuda do Egito para Gaza parou depois da tomada de controle da passagem de Rafah, com a ONU alertando que a crise humanitária no território pode piorar, já que Israel já havia fechado a passagem de Kerem Shalom após a morte de quatro soldados em um ataque no domingo — as duas são as principais rotas para entrada de suprimentos em Gaza.

Em uma publicação nas redes sociais, as FDI mostraram imagens de tanques com as bandeiras do país circulando em Rafah e afirmaram que a ação é uma "operação de contraterrorismo" com objetivo de "eliminar terroristas e infraestruturas do Hamas". Os militares indicaram também que o ataque ficará limitado a áreas específicas do leste da cidade. As Brigadas al-Qassam, braço armado do Hamas, confirmaram que entraram em confronto com soldados israelenses na fronteira nesta terça-feira. O grupo também voltou a disparar foguetes contra a passagem de Kerem Shalom.

A ofensiva israelense foi lançada contra Rafah um dia após o Exército do país emitir alertas para que a população civil deixasse setores da cidade, antecipando que uma invasão terrestre estava em preparação. Os militares estimaram que cerca de 100 mil pessoas seriam afetadas pelo aviso do que chamaram de "deslocamento temporário", mas fontes palestinas falam em um número superior a 200 mil pessoas.

Enquanto Israel fazia sua advertência na segunda-feira, o Hamas chegou a anunciar que aceitara os termos para um cessar-fogo em Gaza, em um comunicado citando o líder do grupo, Ismail Haniyeh. Autoridades de Israel afirmaram contudo, que o grupo palestino aceitou uma proposta "suavizada" pelo Egito, que atua como mediador. O texto aprovado pelo Hamas inclui termos que levam a um cessar-fogo definitivo, com a retirada das tropas israelenses do território de Gaza, o que não é aceito pelo Estado judeu. A proposta previamente aprovada pelos israelenses falava apenas em uma trégua temporária para troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.

Para a comunidade internacional, a operação militar contra Rafah é considerada preocupante pela grande quantidade de civis. Antes da guerra Israel x Hamas, Rafah abrigava 250 mil pessoas em seus 65 km², população que aumentou para quase 1,5 milhão — mais da metade dos 2,3 milhões habitantes do enclave — com o deslocamento forçado pelo conflito. O comando militar israelense garante que os últimos batalhões operacionais do Hamas estão escondidos na região, enquanto líderes estrangeiros, incluindo aliados como o presidente americano, Joe Biden, criticaram a medida apontando o risco de a ação se converter em uma catástrofe humanitária.

A pressão internacional não foi suficiente para demover as autoridades israelenses. Mesmo durante as negociações de cessar-fogo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que a invasão por terra de Rafah ocorreria com ou sem uma trégua para a libertação de reféns. O líder israelense também sofre pressões internas da linha-dura de seu Gabinete, que exige que o Hamas seja destruído.

Exército de Israel ordena retirada de ao menos 100 mil de área em Rafah, no extremo sul de Gaza — Foto: Arte/ O GLOBO
Exército de Israel ordena retirada de ao menos 100 mil de área em Rafah, no extremo sul de Gaza — Foto: Arte/ O GLOBO

Embora tenha sido anunciada como uma operação de escopo limitado, organizações internacionais e ONGs com atuação em Gaza criticaram a interrupção da entrada de ajuda humanitária. Segundo o porta-voz do escritório humanitário da ONU, Jens Laerke, Israel negou acesso a funcionários da organização em Rafah e Kerem Shalom e disse que o enclave tem apenas "um dia de combustível" restante.

— Seria uma forma muito eficaz de enterrar a operação humanitária — alertou o porta-voz.

Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, reivindicou a reabertura imediata dos postos em Rafah e Kerem Shalom, instando o governo israelense a "parar a escalada".

— O fechamento, ao mesmo tempo, dos corredores de Rafah e Kerem Shalom é particularmente prejudicial em meio a uma situação humanitária já desesperadora. Eles devem ser reabertos imediatamente — disse Guterres a jornalistas. — Peço ao governo de Israel que pare qualquer escalada e se envolva de forma construtiva nas negociações diplomáticas.

Na segunda-feira, o governo brasileiro divulgou uma nota apontando “grande preocupação” com potencial operação israelense em Rafah.

“Ao optar, com essa ação militar, por deliberadamente intensificar o conflito em área sabidamente de alta concentração da população civil de Gaza neste momento, o governo israelense mostra, novamente, descaso pela observância aos princípios básicos dos direitos humanos e do direito humanitário, a despeito dos apelos da comunidade internacional, inclusive de seus aliados mais próximos. Tal operação pode, ademais, comprometer esforços de mediação e diálogo em curso”, diz um trecho da nota.

Negociação travada

Embora Israel tenha se comprometido a enviar nesta terça-feira uma delegação diplomática ao Cairo para discutir os termos de um acordo de cessar-fogo com o Hamas, a expectativa de acerto entre as partes diminuiu. O principal impasse é a discordância sobre a duração do cessar-fogo, se temporário ou definitivo. Porta-vozes do Hamas afirmaram que a invasão de Rafah prejudica as negociações.

A proposta aceita pelo Hamas na segunda-feira prevê três etapas de troca de reféns por prisioneiros, cada uma com 42 dias de duração. A primeira incluiria o início de uma trégua, a retirada israelense do chamado Corredor de Netzarim, que divide a Faixa de Gaza ao meio, o retorno dos deslocados internos a suas áreas de origem e a troca de 33 reféns por um número a ser determinado de prisioneiros palestinos.

Hamas divulga novo vídeo de refém sequestrado durante ataque a Israel em outubro

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A segunda fase envolveria a aprovação de uma "calma sustentável", termo usado para evitar a menção à expressão "cessar-fogo permanente", a retirada total das forças israelenses de Gaza e a libertação de reservistas de Israel detidos pelo Hamas em troca de mais prisioneiros. A terceira e última etapa seria o fim do bloqueio de Gaza e o início da implementação do plano para reconstruir o território sob supervisão de Catar, Egito e ONU.

Autoridades de Israel reafirmaram, nos últimos dias, que não concordariam com nenhum acordo que mencionasse um cessar-fogo definitivo. Também deve dificultar a construção de uma proposta decisiva o fato de que, provavelmente, nem todos os 33 reféns que seriam libertados na primeira fase da troca estão vivos. A informação foi repassada pelo Hamas aos mediadores, na segunda-feira, de acordo com fontes consultadas pelo New York Times, a par das tratativas.

A revelação teria sido feita durante a apresentação da contraproposta. Não ficou claro se o Hamas revelou quantos dos 33 reféns ainda estão vivos e quantos estão mortos.

Sob condição de anonimato, um líder do Hamas disse à AFP nesta terça-feira que a atual negociação é a "última oportunidade para [o primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu e para as famílias [dos reféns] voltarem a ver seus filhos".

Em comunicado divulgado antes da planejada retomada dos contatos diplomáticos, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou que as operações militares em Gaza iriam se intensificar, se o processo para a libertação dos reféns não mostrarem progresso. Gallant disse que Israel está disposto a "fazer concessões" para libertar os reféns, mas sem progressos nesta questão, "a operação em toda a Faixa de Gaza será intensificada".

'Não há lugar seguro em Gaza'

Durante a noite, antes da incursão terrestre no posto de passagem, pesados bombardeios atingiram Rafah, informou um correspondente da AFP na região. O Hospital al-Kuwait disse que 23 pessoas morreram, enquanto o Hospital al-Najjar registrou outras quatro mortes.

A chefe de operações do Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) em Gaza, Suze van Meegen, disse ter visto milhares de pessoas fugindo dos ataques aéreos nesta terça-feira.

— Não só não há lugar seguro para ir, como para muitas pessoas também não há como chegar lá — disse Suze, em entrevista à rede americana CNN. (Com AFP e NYT)

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