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Os incêndios florestais, em meio às ondas de calor, precisam entrar na agenda das autoridades. Do dia 8, quando a temperatura começou a subir, até o último dia 14, houve 6.395 incêndios, 74% a mais que nos mesmos dias do ano passado e 307% acima de 2021. Ainda que continue a haver queimadas em que agricultores perdem o controle das chamas, não há evidências de que estejam em alta (a temporada de queimadas costuma terminar em setembro). E também existe a combustão natural, sobretudo em razão da queda de raios na vegetação. No solo seco, fica difícil conter qualquer foco de incêndio. Independentemente da origem do fogo, seja natural, seja queimada, a principal causa do descontrole hoje é a seca.

As chamas começaram a arder há dez dias no Parque Estadual Rio Negro, em Corumbá (MS), e deixaram extenso rastro de fogo que queimou 60 mil hectares até atingir a BR-262, que liga Vitória (ES) a Corumbá. Normalmente, não ocorrem queimadas em novembro na região, por ser o início da temporada de chuvas. Segundo Marcio Yule, coordenador do Prevfogo, centro técnico de incêndios florestais do Ibama em Mato Grosso do Sul, não havia preocupação até agosto. A ocorrência de incêndios estava 25% abaixo da média histórica, seguindo a tendência nacional de queda no desmatamentos (quem desmata também costuma usar fogo para limpar o terreno). Mas a seca acabou com a tranquilidade.

No início da semana passada, um incêndio em torno do Parque Nacional do Pantanal —maior preocupação,segundo Yule — superava o de Corumbá. Desde o final de outubro, já destruiu 200 mil hectares. Voltam a aparecer fotos de jacarés calcinados, aviso de que faltará alimento para as onças-pintadas, que tornarão a rondar o que resta dos rios e lagoas atrás do que comer. Devido ao aquecimento global, a situação tende a se repetir com mais frequência, mesmo nos períodos em que o fenômeno El Niño não for intenso.

O fogo também preocupa em Santarém e Altamira, no Pará. Em outubro, incêndios na Amazônia jogaram cinzas sobre Manaus. Também há combustão em Minas, Bahia, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Maranhão e Piauí. Mesmo com a queda do desmatamento na Amazônia, ainda há incêndios, diz Mariana Napolitano, diretora de Estratégia da WWF-Brasil. A região enfrenta a seca mais severa em 120 anos. A floresta, ressecada, mais degradada, queima mais fácil.

Um plano existente desde 2021 envolve a abertura de aceiros e construção de açudes artificiais (corixos) para facilitar a luta contra as chamas. Infelizmente, apenas um corixo foi feito. As três instâncias de governo deveriam elaborar, em articulação com o setor privado, políticas contra os incêndios florestais. Ao mesmo tempo que se combate o desmatamento, deve-se alertar os agricultores sobre os riscos das queimadas, além de investir nas tecnologias de prevenção e combate ao fogo. As alterações no clima devem tornar mais frequentes as secas extremas, bem como as chuvas torrenciais. Precisaremos estar preparados.

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