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Embora o Brasil seja conhecido por abrigar a maior reserva de água doce do mundo, a realidade da distribuição revela um cenário preocupante. Em 2022, 37,8% da água tratada não chegou ao consumidor e se perdeu, segundo estudo do Instituto Trata Brasil, especializado em saneamento básico. Isso equivale a 1.400 piscinas olímpicas por dia.

É verdade que, apesar do índice alto, pela primeira vez em sete anos houve redução no desperdício (no ano passado, a perda foi de 40,3%). Mas a meta do governo é 25%, objetivo ainda distante. Em países ricos, os índices giram ao redor de 15%. O Brasil está em posição intermediária mesmo na América Latina: Argentina (39,7%), Peru (40,8%) e Uruguai (50,2%) apresentam desperdício maior, enquanto Chile (31,4%) e Bolívia (27,8%) registram índices mais baixos.

Há otimismo depois das reformas introduzidas pelo Novo Marco Legal do Saneamento, aprovado em 2020. Antes dominado por estatais regionais incapazes de investir adequadamente, o setor começa a atrair capital privado. A privatização da estatal Cedae em 2021, no Rio de Janeiro, e os avanços na venda da Sabesp, em São Paulo, são sinais promissores dessa mudança.

No levantamento do Trata Brasil, a Cedae e as demais concessionárias do Rio se destacam negativamente entre as capitais, perdendo o equivalente a 403 piscinas olímpicas de água tratada por dia. Comparativamente, a Sabesp perde 102 enquanto Cesan (Vitória) e Saneatins (Palmas), de gestão privada a cargo do grupo Brookfield, perdem, respectivamente, 9,5 e cinco piscinas olímpicas por dia. As empresas do Espírito Santo e de Tocantins registram índices de 32,3% e 31,7%, abaixo da média nacional. De modo geral, as empresas com participação privada têm apresentado melhores resultados na gestão da distribuição de água.

Apenas duas das 27 capitais brasileiras, Goiânia (Saneago) e Campo Grande (AG), têm índices de perda inferiores à meta de 25%. A média das capitais é alarmante, com 43,2% de água tratada desperdiçada. Porto Velho e Macapá apresentam perdas de 77,3% e 71,4%, respectivamente. Para essas cidades, alcançar a meta de 25% exigirá um esforço colossal.

Parte significativa dessa perda, cerca de 40%, é decorrente de desvios ilegais conhecidos como “gatos”. O restante é desperdício puro e pode ser atribuído à ineficiência das redes de distribuição. Ao combater tanto os desvios ilegais quanto o desperdício na rede, as empresas de saneamento não apenas reduziriam as perdas, mas também aumentariam substancialmente seu faturamento e, consequentemente, poderiam investir na melhoria dos serviços.

Enquanto as reformas recentes e a atração de capital privado traçam um rumo promissor, ainda há um longo caminho para o Brasil superar seu atraso no saneamento básico. É essencial que os esforços combinem investimentos em infraestrutura com a repressão aos desvios ilegais. Somente assim será possível garantir um uso mais eficiente dos recursos hídricos e um serviço de saneamento de qualidade para todos os brasileiros.

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