O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira que está feliz com o trabalho do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, indiciado pela Polícia Federal (PF) por suspeita de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
— Estou feliz com Fufuca (ministro do Esporte), com Juscelino (ministro das Comunicações) e com a Sonia Guajajara (ministra dos Povos Indígenas). Tem um problema de indiciamento com Juscelino, mas eu tenho uma filosofia, todo cidadão é inocente até que se prove o contrário. Se o cidadão tem um pedido de indiciamento que ainda não foi concedido pela PGR e nem pela Suprema Corte, eu tenho que aguardar o processo. (...) O Juscelino está prestando um bom serviço no governo.
O inquérito da PF investiga suspeitas de desvio de emendas parlamentares para pavimentação de ruas de Vitorino Freire, no interior do Maranhão, quando ele ainda era deputado federal. É a primeira vez que um integrante do primeiro escalão do atual mandato de Lula é indiciado, o que aumentou a pressão, vinda do PT, pela demissão do ministro.
Uma troca, no entanto, é vista como improvável por ora no Palácio do Planalto diante dos desgastes do governo no Congresso. Em nota, o ministro negou irregularidades e apontou “ação política” da corporação.
A cidade maranhense é comandada pela irmã de Juscelino, Luanna Rezende, que chegou a ser afastada do cargo no ano passado, mas retomou o mandato após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A emenda parlamentar investigada foi indicada quando ele ainda era parlamentar, ou seja, antes de assumir o cargo no governo. O dinheiro foi enviado por meio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no Maranhão.
Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que 80% da estrada custeada pela emenda beneficiou propriedades dele e de seus familiares na região.
A obra de pavimentação da estrada foi orçada em R$ 7,5 milhões e feita pela Construservice, que tinha como sócio oculto, segundo a investigação, o empresário Eduardo José Barros Costa, mais conhecido como “Eduardo DP” ou “Imperador”. Ele nega irregularidades.
Em nota, o ministro afirmou que a investigação “parece ter se desviado de seu propósito original” e repete métodos da Lava-Jato. “O indiciamento é uma ação política e previsível, que parte de uma apuração que distorceu premissas, ignorou fatos e sequer ouviu a defesa sobre o escopo do inquérito. Não há absolutamente nada que envolva minha atuação no Ministério das Comunicações”, afirmou Juscelino, reclamando que a PF fez uma “devassa” sobre ele e familiares.
Margem equatorial
Lula também voltou a falar sobre a decisão de explorar as reservas de petróleo na chamada Margem Equatorial, próximo à Foz do Amazonas. A região é considerada a mais nova fronteira exploratória em águas profundas, se estendendo por mais de 2.200 km ao longo da costa entre o Rio Grande do Norte e o município de Oiapoque, no Amapá.
— Nós vamos explorar a Margem Equatorial (...) Por enquanto, vamos certificar se tem e qual a quantidade de riqueza que tem lá embaixo. E, se tiver, a Petrobras é a maior empresa de competência tecnológica para explorar riquezas em águas profundas.
Na última terça-feira, o presidente admitiu que a exploração do petróleo vai contra o compromisso do governo com a transição energética. A declaração foi feita em entrevista à CBN.
— Enquanto a transição energética não resolve o nosso problema, o Brasil tem que ganhar dinheiro com esse petróleo — disse, na ocasião.
Agenda no Maranhão
Lula concede entrevista à rádio Mirante News FM, de São Luís (MA), nesta sexta-feira, 21. A conversa antecede uma cerimônia de anúncios de investimentos no estado.
Esta é a quarta entrevista do presidente nesta semana. Lula está no Nordeste desde quinta-feira e volta para Brasília nesta noite.
Em entrevista à uma rádio do Piauí mais cedo, Lula voltou a afirmar que vai se movimentar com cautela nas eleições municipais para evitar indisposições com os partidos que o apoiam no Congresso e fez críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Também falou que irá sancionar o projeto de lei que autoriza jogo do bicho e apostas e afirmou que o leilão do arroz foi anulado pelo governo após identificação de uma "falcatrua".