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Por — Rio de Janeiro

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GERADO EM: 30/06/2024 - 07:22

Estudo do Café no Médio Paraíba do Rio

Pesquisadores da Embrapa estudam solo e grãos de fazendas de café no Médio Paraíba do Rio para obter selo de qualidade. História, produção e potencial do café na região são destacados, com ênfase na busca por diferenciais e valorização do produto.

Os corredores delimitados por folhas de um verde-escuro brilhoso são tomados pelo cheiro inconfundível. A frutinha vermelha, madura no pé, ainda é doce no paladar. Na região do Médio Paraíba, no Rio, a cereja do bolo é o café. Por lá, o caminho até a xícara passa por muitos processos e pela rica história de um lugar que chegou a ser o maior produtor do mundo no século XIX, impulsionado pelos horrores da escravidão no Brasil. Em novo momento, após a retomada do plantio, há oito anos, o café da região busca mais uma vez seu lugar ao sol, desta vez no quesito qualidade. O solo e os grãos de 15 fazendas do Vale do Café estão sendo estudados por técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para receberem a Indicação Geográfica por Denominação de Origem (IG-DO), selo de garantia de produtos especiais e únicos.

Os cafés são produzidos nos municípios de Barra do Piraí, Miguel Pereira, Piraí, Rio das Flores, Valença e Vassouras. Os pesquisadores da Embrapa fizeram a coleta do solo, da planta e dos grãos em 12 propriedades, de abril a julho, quando geralmente ocorre o período de colheita. Outras três fazendas devem entrar no estudo na segunda safra, no ano que vem.

— Para fazer o estudo, que é multifatorial, a gente analisa as condições de clima, chuva, temperatura, umidade. Analisamos o solo mais profundo, abaixo das raízes. Depois, preparamos o grão, torramos o café e preparamos a bebida para os experimentos sensoriais, quando observamos que compostos químicos aparecem e quais aromas sobressaem. Essas características vão dar um indicativo de diferencial ou não — afirma o pesquisador da Embrapa Otoniel Silva Freitas, líder do projeto.

As primeiras análises devem terminar em março de 2025. O relatório final da pesquisa com todos os dados deve ser disponibilizado dentro de dois anos aos produtores e à Associação de Produtores de Café do Estado do Rio (Arcarj). Se o resultado indicar um café diferenciado, ele poderá ser submetido ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável por conceder a Indicação Geográfica.

O café chegou ao Estado do Rio na segunda metade do século XVIII e, a partir de 1830, à região de Barra Mansa. Logo avançou: 41% do café do mundo saía do Vale já em 1846. O crescimento exponencial se deu às custas da exploração da mão de obra negra e escravizada, sequestrada do continente africano.

Como antigamente

As fazendas ainda preservam a divisão entre o que era, antigamente, a casa grande e a senzala. Na Fazenda São Luiz da Boa Sorte, em Vassouras, construída em 1841, o Museu do Café mantém a estrutura do século XIX, com chão de terra e teto de telha.

— A intenção é manter essa memória viva, através de peças originais, desde o maquinário antigo da produção até os materiais criados pelo povo africano, como um tambor de madeira macumba, máscaras africanas e imagens de negros e negras líderes da época — conta Marcelo Muller, guia turístico da Fazenda São Luiz da Boa Sorte.

A casa principal, que abrigou a realeza no Segundo Império, foi conservada e é usada como hotel com decoração de época. A produção de café, embora pequena, é o fio condutor da experiência: são 700 pés, o suficiente para consumo dos hóspedes e venda a quem visita. Ela é uma das fazendas históricas que recebem a programação do Festival do Café, entre os dias 19 e 28 de julho.

Marcelo Muller é guia de turismo na Fazenda São Luiz da Boa Sorte — Foto: Custodio Coimbra/Agência O Globo
Marcelo Muller é guia de turismo na Fazenda São Luiz da Boa Sorte — Foto: Custodio Coimbra/Agência O Globo

Atualmente o Estado do Rio produz cerca de um milhão de sacas de café, segundo a Associação de Produtores de Café do Estado do Rio (Arcarj). Na época do pós-Império, o auge, eram seis milhões de sacas. A espécie é o arábica, com as variações mais comuns: catuaí-vermelho, catucaí-amarelo e arara. O diferencial do sabor do Rio é a reunião de características propícias do microclima, com sol, sombra e regime de chuvas.

— Os cafés do Rio estão despontando como especiais, acima de 80 pontos. Não produzimos quantidade, mas sim qualidade. Um é mais cítrico, outro tem tons de açúcar mascavo, amêndoas. Conseguindo a Indicação Geográfica do INPI, a gente consegue agregar valor ao produto. Por exemplo, um saquinho de 250 gramas que valia R$ 30 passa a valer R$ 80 — explica Daniel Bastos, presidente da associação.

Toque feminino

Na Fazenda Alliança, em Barra do Piraí, a produção, que começou em 2018, é totalmente orgânica, única na região. A colheita é feita pelas mulheres locais, que tiram uma a uma as “cerejas” do pé, e, depois de secar e descascar todas, selecionam semente por semente para ter o melhor café.

— No futuro, todo o meu café vai ser de agricultura sintrópica, onde a própria floresta se equilibra, sem necessidade de insumos. Melhora a fertilidade do solo, a qualidade do grão, e o café é melhor. Ele só depende de podas e de variedade de espécies para ter um habitat perfeito — conta Josefina Durini, proprietária da fazenda, que também funciona como hotel.

Assim como a Fazenda Alliança, a Fazenda da Taquara, também em Barra do Piraí, foi uma das primeiras a receber consultoria do Sebrae a partir de 2015, com o objetivo de resgatar a cultura do café na região do Vale em pequena escala.

— Essa fazenda era do meu tataravô. Meu pai chegou a plantar alguns pés entre as décadas de 1970 e 1990. E eu retomei a produção em 2015 com o apoio do Sebrae. A gente entende que o café é a cereja do bolo, o complemento do turismo histórico da região. Certificar nosso produto ajuda muito — afirma Marcelo Estreva, proprietário da Taquara.

Indicações Geográficas já registradas no Estado do Rio:

  • Cachaça de Paraty
  • Laranja de Tanguá (nas cidades de Araruama, Itaboraí, Rio Bonito e Tanguá)
  • Pedras carijós (rocha ornamental usada em revestimentos) do Noroeste Fluminense (de Santo Antônio de Pádua até Varre-Sai)

Produtos à espera de receber a Indicação Geográfica por Denominação de Origem:

  • Arroz anã de Porto Marinho (Cantagalo)
  • Café especial da Região Noroeste
  • Café especial da Região Serrana
  • Café do Médio Paraíba (o Vale do Café)
  • Palmito pupunha do Vale de Mambucaba (Angra dos Reis)
  • Tainha da Lagoa de Araruama
  • Abacaxi do Norte Fluminense

Produtos que aguardam a Indicação Geográfica de Procedência:

  • Moda praia da Rua dos Biquínis de Cabo Frio
  • Moda íntima de Nova Friburgo
  • Farinha de mandioca de São Francisco de Itabapoana.

A diferença entre os dois tipos de Indicação Geográfica:

Na Denominação de Origem, as qualidades e as características do produto se devem essencialmente ao meio geográfico, incluindo fatores naturais e humanos.

A Indicação de Procedência é quando um lugar é referência para o público pela produção, extração ou fabricação de determinado produto.

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