Cinema
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Por — Rio de Janeiro

Por um lado, “Grande sertão” é uma empreitada corajosa. O diretor Guel Arraes, também responsável pelo roteiro (em parceria com Jorge Furtado), aposta numa apropriação radical de “Grande sertão: veredas”, livro monumental de João Guimarães Rosa. Caminhando na contramão do universo do escritor, Guel troca o sertão por um ambiente urbano extremamente violento, marcado por disputas de poder que, com frequência, geram a morte da população inocente — contexto que suscita articulação imediata com a realidade atual. Uma ousadia, sem dúvida.

Por outro lado, a proposta evidencia concessões, perceptíveis na substituição do teor reflexivo do romance por sequências de ação desenfreada, no tom sempre grandiloquente, no reduzido espaço para introspecção, nas atuações que exibem visceralidade e numa narração que situa os sentimentos de Riobaldo (Caio Blat) em relação a Diadorim (Luísa Arraes). São facilitações possivelmente decorrentes do desejo de Guel de atrair o público jovem. Mas, mesmo em meio a ruidosas manifestações físicas de fúria, a palavra sobrevive, em especial nas interpretações de Caio e Luís Miranda. E a excelência da produção é inegável.

Guel se distancia aqui de áridas e arriscadas transposições de obras literárias para a tela, como a versão de Bia Lessa, bastante diversa, de “Grande sertão: veredas” — intitulada “O diabo na rua no meio do redemunho” (2023). A diretora, inclusive, adaptou o livro de Guimarães Rosa para o teatro antes de levá-lo para o cinema. Na peça e no filme de Bia e agora nessa nova realização de Guel, Caio Blat e Luisa Arraes surgem em destaque.

Bonequinho olha.

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