Shows e concertos
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Por — Rio de Janeiro

Quando Lobão era criança, ganhou dos pais o seu primeiro instrumento, uma bateria. Mais para frente, depois de ter repetido de ano quatro vezes no colegial (atual Ensino Médio) e tentado jogar uma bomba no colégio, João Luiz Woerdenbag Filho foi expulso e acabou “sendo escolhido” pela profissão que exerce até hoje (“eu não sabia fazer mais nada, a não ser tocar”, diz o artista). Sábado (11), no Circo Voador, o músico carioca marcado pela alma rebelde e a postura provocadora celebra os 50 anos de uma carreira dedicada com vigor ao rock.

— Tenho uma vida intensa. Sempre pisei no acelerador e continuo com ele ligado — diz Lobão, de sua casa no bairro de Chácara Monte Alegre, em São Paulo, onde mora há 13 anos com Regina (com quem é casado há 35 anos), e cuida dos gatos Margarida e Charlie.

Há 13 anos, Lobão mora com a mulher numa casa no bairro de Chácara Monte Alegre, em São Paulo — Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo
Há 13 anos, Lobão mora com a mulher numa casa no bairro de Chácara Monte Alegre, em São Paulo — Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo

Ele chega ao Rio no sábado, para o nono show da turnê, que começou em abril, em Florianópolis, com hits como “Vida louca vida”, “Tranquilo”, “O rock errou” e “Vida bandida”.

— Durante a passagem de som vou decidir se aumento ou deixo o show curto. Tem mudado bastante, depende do que sentimos na hora do jogo — diz, sobre o setlist carioca.

A estratégia tem dado certo, garante, contando que, por onde passa, os fãs têm se emocionado.

— Tem sido muito intenso, caloroso. Estou um pouco surpreso com o carinho e o amor das pessoas. Acho que essa data dos 50 anos aciona um dispositivo emocional mais possante nos fãs — afirma o músico.

No palco, suas cinco décadas de vida bandida são passadas a limpo, em um movimento similar ao de 2010, quando, com o jornalista Claudio Tognolli (que, na época, chegou a definir o músico como “pregador do evangelho da irresponsabilidade”), lançou a autobiografia “50 anos a mil” —, mas com uma diferença elementar: hoje, aos 66 anos, Lobão é outro.

O status quo deve ser desafiado
— Lobão

A coleção de desafetos — que já incluiu Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Gilberto, Mano Brown, gravadoras, a esquerda — parece ter diminuído, mas ele não foge do ringue e, vez ou outra, ainda dispara sua metralhadora de críticas. Apoiador de primeira hora de Jair Bolsonaro, arrumou meia dúzia (ou mais) de brigas, mas voltou atrás, chegando a dizer, no antigo Twitter (atual X), em abril de 2019, “que havia um timing moral para qualquer um deixar de ser Bolsonaro”.

Em entrevista ao GLOBO em maio de 2022, ele lembrou dessa declaração e reconheceu que “era destrutivo”, mas passou a ser “menos desagradável”. Hoje, garante que sua força provocativa está focada no rock.

— O status quo, sendo ele abuso de poder, algum tipo de tirania ou restrição, seja do governo ou de uma instituição, deve ser desafiado — diz. — O rock tem que fazer essa provocação porque, mesmo com reações negativas, ele leva as pessoas a se confrontarem com outras maneiras de ver o mundo.

Tudo junto e misturado

No rock de Lobão, autor de hits como “Me chama” e “Corações psicodélicos” (ele tem, ao todo, 12 álbuns de estúdio), cabe de tudo um pouco (ou muito). Autodidata e eclético, ele aprendia a tocar com o que ouvia, de Dalva de Oliveira a marchinhas, de Ed Lincoln a bossa nova. Sua história na cena musical começou em 1974, aos 17 anos.

No ano seguinte, entrou para a Vímana, banda de rock progressivo com Ritchie e Lulu Santos. No final dos anos 1970, com o fim do grupo, passou a tocar para artistas como Luiz Melodia e Zé Ramalho, e chegou a criar outra banda, desta vez com Arnaldo Brandão e Arnaldo Baptista. Em 1981, fundou, com Evandro Mesquita e Fernanda Abreu, a Blitz, onde permaneceu só até o ano seguinte, para então seguir com a sua carreira solo, lançando “Cena de cinema”.

— Foi o Lulu (Santos) quem garantiu minha entrada na Vímana. E, se eu não entrasse ali, provavelmente seria farmacêutico (risos). Ele definiu o vetor da minha vida — diz, antes de falar sobre outra figura essencial na sua trajetória. — A Marina (Lima) é outra que me definiu, porque foi ela quem encasquetou que eu deveria compor. Até então, eu compunha sazonalmente e queria tocar bateria para ela a vida inteira, se fosse possível.

Os próximos 50 anos

A atual turnê pode ser uma celebração da longeva carreira, mas Lobão não tem vocação para o passado:

— Sempre olho para a frente. Tudo que fiz até agora é uma espécie de ensaio, ainda me sinto em processo.

Ex-companheiro de banda e amigo de Lobão, Arnaldo Brandão é quem vai abrir a noite sábado, tocando músicas autorais, de Frejat e Cazuza.

— Quando Lobão começou a compor e cantar, achei que também poderia fazer o mesmo — comenta Brandão. — Contestador e inquieto, ele sempre teve a coragem de falar o que pensa, e isso pode ser uma inspiração.

Para os próximos 50 anos, Lobão já tem planos:

— Penso em começar a compor direito (risos). Estou doido para fazer o próximo disco, que já tem até tema: “o vale da estranheza”. Minha sorte é que sou apaixonado pelo que faço. Meu trabalho é o meu combustível, e o melhor está sempre por vir.

Nos passos de Lobão

  • 1975: Aos 18 anos, faz sua primeira apresentação pública com a banda Vímana.
  • 1981: Com Evandro Mesquita, Fernanda Abreu e outros, funda a Blitz. Sai antes do sucesso da banda, no ano seguinte, e se lança em carreira solo.
  • 1985: Participa do filme “Areias escaldantes”, com Regina Casé, Nando Reis. No musical, em um futuro distópico, jovens revolucionários são perseguidos pela polícia.
  • 1987: É preso por porte de maconha e fica três meses na cadeia. Ao sair, lança “Vida bandida”, que vende 350 mil cópias. Até 1992, responde a 132 processos.
  • 1990: Seu show no Hollywood Rock é considerado o melhor do festival. No ano seguinte, no 2º Rock in Rio, no Maracanã, é vaiado pelos fãs de heavy metal e abandona o palco.
  • 1995: Após quatro anos sem gravar álbuns nem usar drogas, lança “Nostalgia da modernidade”, que incursiona por ritmos como samba e blues.
  • 1999: Declara guerra às gravadoras com o CD independente “A vida é doce”, numerado e vendido em bancas de jornais.
  • 2001: Lança a música “Para o mano Caetano”, com aparentes críticas a Caetano Veloso (que, por sua vez, em 2009, lançou “Lobão tem razão”).
  • 2007: Grava o show “Acústico MTV”, vencedor do Grammy Latino de melhor disco de rock. Na MTV, aliás, entre 2007 e 2010, atuou como apresentador em quatro programas”.
  • 2009: “Me chama”, escrita por ele e gravada por Marina Lima em 1984, é eleita pela Rolling Stone uma das maiores músicas brasileiras (em 47º lugar).
  • 2010: Publica a autobiografia “50 anos a mil”, que ia virar filme, mas teve o projeto cancelado.
  • 2016: Lança o primeiro álbum de inéditas em dez anos, “O rigor e a misericórdia”.
  • 2020: Durante a pandemia, regrava músicas marcantes em sua trajetória, como “Tarde em Itapoã” (Vinicius de Moraes e Toquinho), reunidas no álbum “Canções de quarentena”.

Programe-se

Onde: Circo Voador, Lapa. Quando: Sáb, a partir das 20h. Quanto: R$ 100 (4º lote, com 1kg de alimento). Assinante O GLOBO tem 50% de desconto. Doações para o Rio Grande do Sul: em parceria com a Ação da Cidadania, o Circo está recebendo alimentos, água e mantimentos. Classificação: 18 anos.

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