Bem-estar
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Por Bernardo Yoneshigue — Rio de Janeiro

Rica em gordura e pobre em carboidratos e proteínas. A dieta cetogênica tem ganhado adeptos especialmente entre celebridades que apostam na alimentação para auxiliar na perda de peso. A estratégia pode de fato ser bem-sucedida, porém cada vez mais estudos destacam que o aspecto neuroprotetor da dieta, com impactos positivos para a cognição e o controle de doenças que afetam o cérebro, é o verdadeiro potencial por trás da rotina alimentar. Mas afinal, o que é a dieta cetogênica e para quais objetivos ela é uma boa alternativa?

O endocrinologista e nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), explica que essa forma de alimentação consiste em limitar a ingestão diária de carboidratos a uma quantidade entre 20 e 50 gramas. É uma versão mais restrita da dieta low carb, que permite até cerca de 130 gramas. O resto é preenchido pelas “gorduras boas”. Isso estimula de forma recorrente um processo metabólico no corpo chamado de cetose, que acontece quando o organismo utiliza a gordura como fonte de energia.

— Quando não há quantidade suficiente de glicose, que é a principal fonte de energia do organismo, o corpo passa a utilizar a gordura como fonte. Esse é um processo natural, mas a dieta cetogênica busca estimular esse mecanismo. Então o corpo passa a utilizar mais corpos cetônicos, resultado da destruição das células de gordura, do que glicose para funcionar — afirma o especialista.

Esse mecanismo, de estímulo ao uso da gordura como fonte principal de energia, é o que leva à ideia de que ela acelera o processo de perda de peso, embora ainda não existam muitas evidências sobre a eficácia real para o emagrecimento. Por outro lado, porém, os aspectos positivos para a cognição já são contemplados por um amplo número de estudos.

Em uma revisão publicada no periódico European Journal of Clinical Nutrition, pesquisadores destacaram que “as dietas cetogênicas são comumente consideradas uma ferramenta útil para o controle de peso”, mas chamaram atenção para os “cenários novos e empolgantes” sobre o uso para “doenças cardiovasculares e neurológicas”.

Esse potencial não é à toa, afinal a alimentação foi pensada inicialmente para atuar em quadros de epilepsia em crianças. Um estudo, publicado na revista científica The Lancet Neurology, conduzido por pesquisadores britânicos, foi o primeiro a dividir participantes em dois grupos para avaliar a capacidade de controlar as convulsões em crianças epilépticas com resistência aos medicamentos.

Para isso, 145 crianças, de 2 a 16 anos, foram separadas para que metade adotasse a dieta cetogênica e a outra servisse como um grupo de controle, para fins de comparação. Ao final de três meses, aquelas que passaram pela mudança na alimentação tiveram uma redução de, em média, 75% nas convulsões. Para 7% dos que adotaram a dieta, a diminuição chegou a ser de 90%.

— O cérebro é muito metabolicamente ativo, então ele consome muito açúcar. Mas com a dieta você permite trocar a glicose pelos corpos cetônicos, o que o órgão metaboliza melhor. Quando a dieta cetogênica começou para o tratamento de crianças com epilepsia, os médicos tiveram sucesso em reduzir as convulsões. Foi muito utilizada até que surgiram novos remédios, que é uma forma mais fácil de administrar. Mas hoje os estudos mostram que a dieta oferece uma série de benefícios para a melhora da cognição no geral, além da epilepsia — conta o médico endocrinologista Fabiano Serfaty.

Uma revisão de 63 estudos publicados entre 2004 e 2019, conduzida por pesquisadores da Universidade de Deusto, na Espanha, buscou identificar se o mecanismo por trás do controle das convulsões leva a dieta cetogênica leva a uma melhora nas habilidades cognitivas de pacientes com Alzheimer, Parkinson e diabetes tipo 1, além da própria epilepsia refratária.

Embora as doenças tenham suas particularidades, os cientistas afirmam que elas compartilham semelhanças, como o estresse oxidativo e a neuroinflamação. Na revisão, publicada na revista científica Nutrition Reviews, eles escrevem que a dieta foi de fato associada a uma preservação das funções cognitivas dos participantes.

“A dieta cetogênica não pode ser concebida como uma dieta milagrosa ou como a cura para doenças. No entanto, incentivar a pesquisa sobre seus benefícios cognitivos pode nos fornecer uma ferramenta poderosa para melhorar a qualidade de vida desses indivíduos”, escreveram os responsáveis pelo estudo.

Em outro estudo, publicado no periódico Journal of Alzheimer's Disease, pesquisadores da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, analisaram 14 idosos com comprometimento cognitivo leve, em que parte adotou a dieta cetogênica. Eles observaram que os benefícios foram modestos, mas mensuráveis em testes padronizados de memória.

“Se pudermos confirmar essas descobertas preliminares, o uso de mudanças na dieta para mitigar a perda cognitiva na demência em estágio inicial seria um verdadeiro divisor de águas. É algo que mais de 400 medicamentos experimentais não foram capazes de fazer na clínica ensaios”, explicou o professor de psiquiatria e ciências comportamentais e neurologia da universidade e autor do estudo, Jason Brandt, em comunicado.

Ele explica que isso acontece porque o cérebro normalmente utiliza a glicose como combustível primário, porém no estágio inicial da doença de Alzheimer o órgão não é capaz de fazer essa metabolização com tanta eficiência. Nesse caso, as cetonas seriam uma opção ainda melhor como fonte de energia.

Carboidratos. — Foto: Arte O Globo
Carboidratos. — Foto: Arte O Globo

Dieta demanda acompanhamento de especialista

Os especialistas destacam que, por envolver uma mudança drástica na forma de funcionamento do organismo, a dieta cetogênica demanda o acompanhamento e orientação de um especialista, como um profissional médico ou de nutrição.

— O grande desafio da dieta cetogênica é você começar e manter, porque envolve uma mudança grande no estilo de vida — destaca Serfaty.

Além das dificuldades referentes a se acostumar com a nova alimentação, a dieta pode levar a alguns efeitos colaterais no início, como fadiga, dores de cabeça e alterações de humor e mau hálito, que podem durar dias ou semanas.

— Em alguns casos, é até necessária a prescrição de suplementos como vitaminas e minerais, pois a redução agressiva de carboidratos pode também diminuir o aporte destas substâncias e causar desnutrição — alerta Durval Filho.

Ele destaca ainda que há contraindicações para adotar a alimentação, como mulheres grávidas, pessoas com transtornos alimentares ou com histórico de problemas renais, de fígado e alterações cardiovasculares.

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