Está nos acertos finais a tratativa entre o Grupo Silvio Santos e o Grupo Cimed para a venda da Jequiti à farmacêutica de João Adibe Marques. O que vinha sendo tratado inicialmente como venda de uma participação majoritária já evoluiu nas últimas semanas para uma venda integral. Os ajustes agora estão em torno de preço.
A Jequiti está sendo avaliada em cerca de R$ 450 milhões, mesma cifra de sua receita, apurou o Pipeline. A Cimed tenta desconto, o Grupo Silvio Santos tenta prêmio, mas o cheque vai ficar nesse entorno, garantiram as fontes.
“Já havia um consenso do preço na participação majoritária e a Cimed já tem todo o desenho do que vai fazer com a operação e, quando a discussão entrou nos detalhes de acordo de acionistas, ficou claro para as duas partes que seria mais adequado a transação na integralidade”, diz uma fonte.
O acordo também prevê uma exposição facilitada da marca no horário nobre do SBT, semelhante ao que acontece hoje. A marca foi impulsionada na TV na última década pela programa Roda a Roda Jequiti, que atrai clientes e consultoras em busca de prêmios.
Marques também já apertou a mão do governador Romeu Zema, num acordo para colocar fábrica e centro de distribuição dos cosméticos no sul de Minas, com incentivo fiscal, apurou o Pipeline.
A Jequiti, que ficou anos no vermelho, já retomou resultados positivos. A nova proprietária vai agregar uma distribuição nacional de alta capilaridade, levando os produtos de uma das principais marcas da classe C para as pequenas farmácias de bairro nas cidades do interior.
Por outro lado, a Jequiti agrega à Cimed uma força terceirizada de vendas: as revendedoras da marca, uma estratégia porta a porta que Marques tinha colocado no radar para suas vitaminas, produtos para bebês e itens de higiene e beleza. A Jequiti tem um batalhão de mais de 200 mil consultoras e o plano de Marques é iniciar essa frente de venda direta no segundo semestre deste ano, usando o estoque das farmácias - no que define como o balconista fora da loja, e não revendedora.
“É transformacional para a Cimed. A empresa já vinha crescendo com produtos de consumo, além dos genéricos, mas a Jequiti abre uma vertical inteira”, avalia um executivo com conhecimento do assunto. A experiência com os hidratantes labiais Carmed mostrou que Marques sabe vender itens de consumo: em colabs e versões temporárias, a Carmed fez R$ 400 milhões em receita no segundo semestre do ano passado. A meta é ter receita anual de R$ 1 bilhão só neste produto.
Na transação da Jequiti, a Cimed tem assessoria jurídica do escritório Machado Meyer, sem assessor financeiro. O Grupo Silvio Santos é assessorado pelo Bradesco BBI e pelo escritório Lefosse Advogados.
A companhia tem a vantagem de baixa alavancagem, com espaço para M&A, e baixo custo de financiamento no mercado de capitais. A alavancagem está abaixo de 0,8x e o grupo fez recentemente sua terceira emissão de debêntures. Distribuída na XP, levantou R$ 600 milhões com taxa de DI mais 0,75% ao ano (menos da metade do spread da emissão anterior) e prazo de cinco anos.
A Cimed, que faturou R$ 3 bilhões no ano passado, tem a meta de chegar aos R$ 5 bilhões em 2025, cifra que a deixaria mais perto de um IPO.