Revi Lisbela e o Prisioneiro essa semana, e confesso que fiquei deprimido vendo o filme. O que aconteceu com as nossas comédias? Lisbela e o Prisioneiro é um filme delicioso, divertido, leve, cheio de graça e charme, com um universo visual claro e super interessante de se olhar, uma trilha sonora conectada com a obra e cheia de personalidade e um elenco comprometido à construção de personagens que não são apenas um reflexo da personalidade de seus intérpretes. Todos os atores aqui estão interpretando personagens, que foram pensados e construídos especificamente para a obra. Podemos falar isso de alguma comédia atual?
Qual foi a última vez que vimos um ator construindo um personagem numa comédia brasileira? Consigo pensar em um ou outro, e os filmes do Halder Gomes são um ótimo exemplo desse cuidado com o todo, mas é raridade dentro do volume enorme de comédias que estamos produzindo. Por quê?
Quando foi que nós decidimos jogar todo esse expertise fora, toda essa qualidade fora, e fazer apenas por fazer? Não é possível que a gente assista Lisbela, Auto, Amor Possíveis, Pequeno Dicionário, Como Ser Solteiro, e não perceba um esvaziamento completo da comédia brasileira de lá pra cá. Eu estou maratonando as comédias de 2023 por fazer parte de um júri, e é absolutamente desanimador ver o que produzimos no ano passado. É terra arrasada. E o pior é que eu realmente não sei se esses títulos ainda fazem sentido financeiramente de existir. E mesmo aqueles que deram lucro, confesso que eu acho que eles serão nefastos para o nosso cinema ao longo prazo.
É um desabafo duro, principalmente porque eu sou muito entusiasta do gênero.