7 MESES DE SÃO PAULO! 💪🏻
E o que isso representa na vida e no trabalho?
Mudar do Rio para São Paulo é como sair de uma corrida de kart e entrar numa de Fórmula 1.
O nível de exigência, velocidade, qualidade dos competidores e os riscos e recompensas aumentam exponencialmente. Se você só queria dar uma voltinha, seu lugar não é aqui.
Não há como negar que a falta de poesia urbana e a inexistência do ócio como possibilidade criativa moldam muito mais as pessoas em trilhos, limitando as possibilidades de expansão da mente e da imaginação. E nada disso é só sobre trabalho ou vida social. É sobre tudo isso. Eu diria que é mais um diagnóstico humano e antropológico do que a sua aplicação à circunstância A, B ou C - e que funciona como um separador de espécies.
O Rio é um gerador de sinal, de pulso criativo. Uma cidade curvilínea, sinuosa em seus morros, orlas e linhas do mar. Mas não só na natureza. As curvas vêm sobretudo na produção humana. Na melodia da bossa-nova, no calçadão de Copacabana, no gingado da mulata, no sotaque arrastado e sem “pontas”, no jeitinho pra tudo - herança do “homem cordial”, arquétipo magistralmente retratado por Sérgio Buarque de Hollanda em seu clássico Raízes do Brasil. Nas resenhas sem objetividade, que fazem curvas mas não chegam a “lugar nenhum”. Porque no Rio, o processo é mais importante que o fim. O que dizer de uma cidade que inventou um esporte em que um fica batendo uma bolinha para o outro, sem um vencedor? Pois é, esse é o frescobol.
São Paulo é o complemento.
É o roteador desse sinal criativo que o Rio gera. Replica, multiplica. Vai lá e entrega na ponta. Busca o gol o tempo todo. Cumpre o que combina. É a obstinação dos bandeirantes que capinaram o mato para desbravar novos horizontes. O lugar da ética do trabalho e do senso de missão. O frescobol jamais teria sido inventado aqui, porque aqui eu quero ser melhor do que você. Em São Paulo não tem graça manter a bolinha no ar.
Apesar de cariocas e paulistas serem feitos em moldes completamente diferentes, não me vejo mais em outro lugar.
Depois de 40 anos no Rio, hoje moro na esquina da Faria Lima, corro em um parque, pedalo na Marginal e meus principais projetos acontecem em shoppings.
Quando preciso voltar pros boxes pra restaurar alguma peça avariada, pego uma ponte aérea, um samba raiz e um tibum com frescobol. Volto pra pista zerado.
O mais legal disso tudo é viver esses dois extremos culturais.
O fato é que não sou nem de longe a mesma pessoa que era há sete meses. A troca de floresta também nos obriga a trocar de camuflagem. E esse camaleonismo compulsório nos leva ao amadurecimento.
Já diria Bruce Lee: "be water, my friend".
Porque, sendo água, você toma a forma de um bule se a vida te der um bule, ou de uma xícara se ela te der uma xícara. Ser flexível e adaptável é mais importante do que ser forte. O bambu enverga, mas não quebra com o vento.
E assim seguimos. Curtindo o caminho. E equilibrando poesia e pragmatismo.
Bora, SP! 🚀