A propósito de "sem procura não há energia renovável"
Após tantos anos a promover a eficiência energética e o consumo racional de energia, soa algo estranho esta nova tendência de 'estimular' o consumo para acomodar mais renováveis. A mensagem que deve passar não é a de 'estimular o consumo', mas sim de 'eletrificação do consumo'. Esta transição não se justifica apenas pela 'necessidade de integrar mais renováveis', mas pelo objetivo mais amplo de 'substituir fontes de energia fósseis'. Parece o mesmo, mas não é! O foco deve estar no essencial: transformar a matriz energética para garantir um desenvolvimento sustentável. O que é excessivo deixa de ser sustentável – até as renováveis – seja na vertente ambiental, económica ou social.
O desafio é definir quanto das fontes fósseis é possível substituir e qual a forma mais económica de o fazer. Pensar a estratégia para o país não é tão diferente de pensar a estratégia para a nossa casa. Queres uma casa 100% renovável? Se sim, como? Excesso de painéis fotovoltaicos, baterias com sobrecusto, ou acesso à energia dos painéis do vizinho? A que preço? Caricato, mas eu diria que é mais provável um decisor político definir para o país uma estratégia de 100% renováveis do que implementar ele próprio uma solução de 100% renováveis em casa.
Aproveito para deixar uma sugestão minha antiga para melhorar a afetação da eletricidade de fontes renováveis aos consumos. É uma ideia que já explorei em teses que orientei, mas que nunca encontrou recetividade. Consiste em criar uma tarifa de acesso às redes dinâmica e preditiva, indexada à fração de produção renovável prevista para cada hora dos dias seguintes. Simplificando, este modelo definiria a tarifa de acesso às redes com 1 a 3 dias de antecedência, com preços mais baixos quando a previsão de produção renovável é alta, e mais altos quando é baixa. É um mecanismo simples de definição dinâmica de preço, que a REN ou ERSE poderiam implementar com facilidade, embora adaptar para tarifários de consumo direto seja mais complexo (mas viável).
Esta abordagem incentiva o consumo interno de eletricidade de fontes renováveis, mais vantajosa do que a exportação a preços reduzidos. Além disso, o modelo é independente do mercado internacional, já que atua apenas na tarifa de acesso às redes, sob competência nacional. Cria sinais de preço adicionais e eficazes para estimular a resposta de consumo elétrico nacional, sem interferir diretamente no mercado de eletricidade.
É uma ideia ousada, mas esse é o papel de um académico: propor soluções criativas, que, com sorte, funcionem.
https://lnkd.in/dShNQEJ9
Kvalitetschef Anslutningstjänster på Ellevio AB
3 mBom trabalho EDP e parabéns por o esforço coletivo para tornar o mundo um lugar mais sustentável.