Para os sujeitos que compõem essa direita bolsonarista, a liberdade só se constituí possível através da legitimação do fim da liberdade. O propósito final, é a liberdade de uma democracia pautada em um sistema hierárquico de organização impositiva. A justiça institucional (STF),
neste caso, leva ao engessamento dessa ordem hierárquica. A rebeldia está no clamor pelo fortalecimento de um estado de servidão que conduzirá a liberdade. Faz sentido? Não.
Isso faz lembrar Eduardo Galeano e seu texto "Sistemas", presente na sua obra, o "Livro dos Abraços", no qual ele diz que, “As pessoas servem as coisas”. Já Kant afirma que alguns indivíduos buscam a servidão pelo conforto de não precisar
carregar o fardo de suas escolhas.
Existe neste movimento, um anseio paradoxal. Busca-se a democracia pelo
caminho da sujeição, da imposição e da submissão a um falso entendimento de ordem e honra. Trazendo novamente, Galeano que brincava com o fato de vivermos rodeados de “paradoxos”, onde tudo tem em sí uma característica dual. Neste caso, esta dualidade, os fazem viver "o desespero da incerteza", "a busca desenfreada por liberdade" e a "satisfação de sentir-se seguro" contra a insatisfação de estar "preso" a responsabilidade de ser "livre", tornando-o suscetível a certos tipos de submissão. Como o fundamentalismo político, religioso e econômico, por exemplo.
Há ali um “agir comunicativo” que busca através do uso “misturado” e até ignorante, de ideais (Democracia x Intervenção), que em uma relação analítica se constituiriam como excludentes um do outro, a busca torpe por segurança e sobrevivência
gerada por uma insatisfação a uma realidade existente virtual ou real.
Isso nos leva a pensar que a consciência filosófica e política, torna-se então, neste
caso, um espelho. Aliás, não só um, mas vários espelhos dentro de uma sala onde são refletidas e expostas às emoções, influências parentais e sentimentos passionais, para uma multidão de indivíduos que buscam observar a si e o outro. Pois sob a perspectiva de Freud sobre as massas e o que as tornar possível, a busca consciente pela representação e a sobrevivência do "eu" no coletivo, leva o sujeito a aceitar tudo para ver estampado nos outros o seu reflexo. A “consciência” politica
apresentava aqui, como diria neste caso Husserl (2012), é resultado de sua relação com “objeto” discursivo, uma realidade de consciência construída por intermédio do “Jogo de Linguagem”, usando aqui o conceito de Wittgenstein (2015).
Pode-se afirmar, fazendo ainda uso dos pensamentos do filósofo da linguagem, que essa “realidade de consciência”, oriunda de uma “estrutura” linguística intencional (o discurso), cria um “reflexo” de uma realidade que torna-se mais efetiva do que o real em sí. Tornando aqui, o sistema político e sua linguagem, uma espécie de ferramenta que possibilita a realização de desejos pessoais e individuais de uns (Bolsonaro e aqueles que ele representa), usando como força motriz, muitos.