GANHAR E PERDER - ETERNOS IRMÃOS SIAMESES
Ontem, ao ver uma partida de tênis tive a ideia de escrever sobre ganhar ou perder. Jogavam dois dos maiores tenistas da atualidade e só um iria ganhar; o outro iria perder.
Sendo fã de ambos, criou-se um dilema para torcer e ponderei, sob critérios vários, o que deveria fazer e como avaliar a vitória ou a derrota do meu escolhido.
O primeiro critério foi a qualidade de ambos, o que aumentou a dificuldade de escolha, já que ambos não causariam surpresas, como “zebras” vitoriosas. Seus 14 duelos anteriores apresentavam um “8 a 6”, equilibrado e com predominâncias distintas em épocas distintas, quando cada um dos dois estava melhor em quadra e fora dela.
Resolvi pensar, então, no valor da vitória para cada um e me abstrai dos prêmios, pois ambos já têm significativos resultados financeiros, na casa de dezenas de milhões de dólares. Foquei no valor emocional para cada um e descobri uma diferença fundamental.
Um está em atividade normal e de altíssima qualidade e ranking, enquanto o outro está vivendo um processo de recuperação de seu espaço entre os maiores, já anteriormente ocupado e passível de ser reconquistado. A quadra era, em dois olhares e um só tempo, um jardim de flores ou de saudades nunca esquecidas.
Foi o suficiente para minha decisão e, mesmo tendo uma predileção atual, torci pelo outro, que, para minha felicidade mais profunda, foi o vencedor.
Ganhar ou perder são hipóteses exaustivas e dicotômicas, quando sua medição é restrita a um único objetivo mensurável, como o “ganhou ou perdeu” de uma partida de tênis. De fato, é uma mescla de vitórias e derrotas, associadas a cada um dos concorrentes, ao ser olhada de forma mais abrangente.
Nas batalhas da vida, as vitórias e derrotas são relativizadas por fatores que vão amadurecendo e se transformando com o tempo. O mais íntimo desses fatores é a avaliação, profunda e relevante, do efeito emocional para o perdedor, por parte do vencedor e vice-versa, dois lados da mesma moeda, a cada vez, caída para um dos lados.
Um jogador, quando jovem, se sustenta e retrata sua alegria pelo resultado positivo, assim como sua tristeza pelo adverso. sem pensar no cenário em que estava seu oponente. Ele se importa com seus passos e não com o embate, sem pensar que, em outro momento, o final podia ter sido diferente e que isto não aconteceu por uma casualidade ou interferência de fatos externos.
Além disso, não ressalta o valor do adversário e tudo de bom e positivo que ele fez, vencedor ou vencido, durante o embate.
A maturidade, quando a consciência do valor das derrotas como aprendizado é apreendida e usada para aprimoramento, garante, no limite, a conclusão de que ambos ganharam e perderam, como ocorre em todos os embates da vida.
A relativização decorrente traz embutida a maior das vitórias íntimas: Não existem vitórias e derrotas absolutas e a balança mais justa da vida é a que coloca pesos em ambos os lados, até que os pratos distintos tenham o mesmo valor.