O RH é hoje a área menos técnica das organizações.
E tem nas mãos o maior valor agregado: cultura organizacional, estratégia de talentos e a governança trabalhista e de riscos de mão-de-obra.
O orçamento de pessoal está entre os 3 principais custos de qualquer empresa. E por mais que o "jeito de fazer" mude, existe uma base técnica similar se você é da contabilidade, logística ou financeiro, mas os RHs mudam - radicalmente - de uma empresa pra outra.
Não tem a ver com tamanho ou disponibilidade financeira. Há grandes companhias que ainda recebem currículos por email e pesquisas de clima são impressas e tabuladas por meses para um diagnóstico que - quando chega - não está mais aderente à "dor" do momento.
Duas décadas atrás, os RHs eram formais, lentos e processuais, mas sem dúvida técnicos. Hoje, se a matriz calcula a folha de pagamento e o software está fora do ar, o analista na filial não sabe tirar uma dúvida trabalhista com o contracheque em mãos. Os analistas de desenvolvimento, que deveriam ser os mais estratégicos, apresentam a menor bagagem técnica (pergunte a 3 "especialistas" o melhor tipo de avaliação de performance e receba três respostas completamente distintas e pouco aderentes à necessidade - cada um é bom no que aprendeu ou atuou, não conseguem fazer diagnóstico e recomendar o melhor para aquele negócio, para o cenário que estão inseridos).
Tranformar as áreas técnicas em CoE (Centers of Expertise) também pouco contribuiu para o repertório. É como se o conhecimento fosse exclusivamente social (os 20 do 70/20/10), eu faço o que o meu gestor pede pra fazer ou que os meus pares fazem. E pós pandemia, a coisa ficou mais grave: a redução de custos bateu no RH e sobrou pouca gente sênior (que é cara, obviamente) para equilibrar os pratos.
As consequências:
1. RH se acha cliente quando na verdade é fornecedor. Reclama de candidato (as carinhas de palhaço), da cultura, dos processos e dos líderes. Há pouca sensibilidade para entender que seu papel é justamente fornecer a expertise de gente que mais ninguém tem e atuar na zona de influência. Há consultoras aqui incluindo o título do whatsapp pessoal como critério seletivo.
2. RH que não entende e não atua, rapidamente, na dor do negócio. Na pandemia, muita gente foi pro remoto e funcionou. Poderia ser hoje o nosso modelo principal: ajuda a atrair e reter os melhores talentos e diminui os custos fixos da operação. Problema: os líderes que não sabiam liderar no presencial OBVIAMENTE se perderam no remoto. O RH só assistiu.
3. RH com baixa capacidade de leitura de cenário e influência. Por continuar sendo tarefeiro, está ausente do movimento: chão de fábrica, área de vendas, desenvolvimento de produto. O mercado muda, quem tá no movimento muda, e o RH oferece as mesmas soluções que tiveram sucesso no passado.
4. A liderança não se identifica ou credibiliza os RHs como agentes de suporte e transformação, justamente porque estes carecem de base técnica.
E por aí, como anda o RH?
Eu penso que, na verdade, não existe uma perda, e sim um conflito de interesses. Muitas vezes, o profissional já atingiu seu limite naquela organização e quer novos desafios. Por outro lado, a organização não tem mais o que oferecer ou vive em uma cultura arcaica com uma visão micro do negócio.