É a gestão tecnológica de pessoas um contrassenso, ou uma tendência?

É a gestão tecnológica de pessoas um contrassenso, ou uma tendência?

Muitos puristas afirmam que a Gestão de Pessoas não pode ser traduzida em bits e bytes, porque as pessoas não são e não podem ser apenas números. Não concordo, porque essa é uma visão redutora da disciplina de Gestão do activo com maior potencial das organizações.

A tecnologia existe e tem de ser vista, acima de tudo, como facilitadora da vida das pessoas, aquilo que lhes permitir fazerem mais, serem melhores no que fazem e que amplia o seu potencial. O mesmo se aplica às organizações.

Neste mundo cada vez mais ligado e digital em que vivemos, os dados aglomeram-se a uma velocidade vertiginosa, provenientes de uma variedade de fontes cada vez mais ampla, de uma multiplicidade de tipos e, sobretudo, em volumes cada vez maiores. Por isso, as organizações têm de se preparar e apetrechar para uma realidade onde o número de dispositivos supera o número de utilizadores, fazendo com que caminhemos para uma Era em que a infinidade de dispositivos e dados colide com a finitude do tempo e da nossa atenção.

O cruzamento de dados (estruturados e não estruturados) de diferentes fontes e tipos é cada vez mais uma necessidade que implica novos modelos de extracção e de tratamento desses dados, de modo a ser possível correlacioná-los com coerência e qualidade, para que produzam a informação vital à tomada de decisão nos diversos campos do saber, nomeadamente a área de Gestão de Pessoas. Estou a pensar na disponibilização de ferramentas de exploração de dados e de informação mais amigáveis, na sua apresentação nos mais variados canais de acesso (tablet, PC, móvel), na implementação de modelos de análise preditiva cada vez mais complexos, na partilha da informação dentro da organização, na análise dos dados em tempo-real, de uma forma rápida, simples e flexível, etc.

Esta realidade ainda coloca alguns receios a muitos gestores de pessoas, porque o paradigma do Big Data (é disto que estamos na realidade a falar!) exige algumas competências que têm de ser apreendidas e ensaiadas. Mas, por outro lado, o potencial de aplicação à área é imenso, senão vejamos:

– Permite uma vista mais informada da população que compõe a organização – o Big Data serve de janela para o percurso e a vida profissional dos colaboradores. Ao mapear, analisar e partilhar dados relacionados com desempenho e potencial, os gestores de pessoas podem obter pistas chave gerir talento, motivação e engagement.

– Ajuda à retenção – um bom uso da tecnologia é a captação da informação chave sobre as razões porque as pessoas saem ou por que se mantêm fieis à organização. Cruzando dados de entrevistas de saída, inquéritos de clima, avaliação de desempenho, análise de sentimento em redes sociais, é possível prevenir e evitar a sangria de talento.

– Ajuda a rentabilizar o investimento e impacto da formação – cruzando informação sobre o percurso das pessoas, a formação que recebem, a avaliação de competências, o feedback 360º, é possível determinar o impacto dos investimentos na melhoria de competências e mudança comportamental.

– Permite fazer melhores recrutamentos e mais baratos – esta é talvez a área onde o Big Data mais pode ser útil aos departamentos de RH, porque com a sua inteligência pode correlacionar dados de diversas fontes (redes sociais, bases de dados, candidaturas passadas, notícias dos media, testes e outros), de modo a identificar preventivamente bolsas de talento que possam tornar mais ágeis os processos de recrutamento.

Só medimos o que conhecemos e, como tal, não medir é perder oportunidades de melhoria, de valorização, de aumento de eficiência e, acima de tudo, na prestação de um melhor serviço aos públicos internos ou externos. As organizações que compreendem isto, são muito mais competitivas na forma como gerem as suas pessoas.

A tecnologia existe para facilitar a vida, para melhorar e aprimorar a gestão e para criar as condições para que a tomada de decisão possa ser justa e informada. Não substitui naturalmente os elementares princípios da boa gestão de pessoas, que tem de ser feita de humanos para humanos.

Artigo criado para "Human Resources Portugal" e publicado online em http://hrportugal.pt/2016/08/23/e-a-gestao-tecnologica-de-pessoas-um-contrassenso-ou-uma-tendencia/ 

Márcio Rios

TH3 Agência de Marketing Online- Offline

7 a

Texto perfeito direito ao ponto

David Mota

Academy | Talent | Tech Explorer | Mindful practitioner

8 a

Muito bom artigo! Parabéns Patricia Fernandes.

Susana Gonçalves

Field Marketing Manager EMEA at Bitsight

8 a

Muito bom.

Leonor Correia

Head of General Services na Dunlop Protective Footwear

8 a

Publicação fantastica! Adoraria que muitos profissionais pudessem ler...

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