É possível treinar a atenção?

É possível treinar a atenção?

Entre todas as habilidades da nossa mente esta é considerada a ´chefe´ de todas as outras. Ela nos permite perceber, selecionar e direcionar os recursos de processamento do cérebro. Mais de seis mil estudos, conduzidos por instituições de referência, como a Universidade da Califórnia, apontam que a prática da meditação mindfulness pode ser considerada um treinamento para a nossa atenção, modificando inclusive a plasticidade do cérebro


por Marcelo Maia 

Em uma palestra sobre atenção, apresentada na série de conferências TED, a neurocientista indiana Amish Jha afirmou que a ideia de que só usamos 10% do nosso cérebro é falsa. Usamos 100% dele mas nossos cérebros estão sobrecarregados com muito mais informação do que podemos processar. Uma solução, segundo suas pesquisas, estaria num aspecto da nossa própria evolução: o “sistema de atenção” do cérebro. 

A atenção nos permite perceber, selecionar e direcionar os recursos de processamento do cérebro. Para Amish, podemos considerar a atenção como a “chefe” da nossa mente, uma “voz” que nos guia a nos afastar de algumas coisas para lidar de forma efetiva com outras. 

Mas como a atenção funciona e por que às vezes nos sentimos tão desatentos?

Nosso cérebro recebe o tempo todo milhares de estímulos externos (sons, Imagens, cheiros, sabores) e internos (pensamentos, sensações, emoções, memórias). E não é só isso. Ele ainda precisa processar nossas tarefas do dia a dia. É quando a atenção entra para nos ajudar a ter foco. Ocorre, no entanto, que isso acabou se tornando um desafio em meio a tanta distração. 

Segundo a neurocientista, com base em um estudo que usou imagens das ondas no cérebro, quando estamos estressados ou distraídos, a atenção não “funciona” tão bem. Por consequência dessas observações, Amish concluiu que é possível treinar nossa concentração. 

E como o cérebro escolhe no que focar? A resposta está na formação reticular, região que faz parte do tronco encefálico e está envolvida, entre outras funções, na filtragem da informação, definindo em quais estímulos vamos colocar a atenção e acionando o córtex cerebral. 

Tipos de atenção

Existem diferentes pontos de partida e caminhos que classificam nossa concentração. 

Atenção seletiva ou concentrada – É quando conscientemente escolhemos um foco. Já repararam que quando estamos focados em algo, muitas vezes acabamos não percebendo outros estímulos? É a famosa cena de alguém vir falar com a gente enquanto estamos, por exemplo, lendo ou escrevendo um texto. “Como? Desculpa, não ouvi...”

Atenção tardia – Aqui, acabamos demorando um tempo para focar e entender uma informação. Captamos as informações na hora, mas entendemos depois. Um exemplo são as situações em que você não entende o que alguém falou, mas logo em seguida, mesmo sem a pessoa repetir a frase, você a monta na cabeça.

Atenção voluntária – Ela nos permite processar informações em meio a uma enxurrada de estímulos. Imagine-se numa feira livre, com mil estímulos e ofertas de produtos, mas mesmo assim você foca naquilo que precisa ou quer comprar. 

Atenção involuntária – É meio que o contrário da anterior: você acaba tendo a atenção “roubada” por algo que não estava previsto. 

Atenção alternada – Quando mudamos o foco alternadamente. Ela é sustentada ao mantemos o foco por um longo período.

Transtorno de déficit de atenção (TDAH)

Nem todos conseguem ter esse controle sobre a atenção. Em quadros do chamado transtorno de déficit de atenção (TDAH), surge uma enorme dificuldade em se concentrar. 

Os sintomas tendem a aparecer logo na infância, quando percebemos as crianças mais agitadas do que seria comum para a energia dessa fase da vida. Há problemas até para a criança permanecer sentada durante a aula na escola. 

Estima-se que cerca de 5% das crianças norte-americanas apresentem esse problema. E as características principais são: a falta de atenção, hiperatividade e a impulsividade.

A meditação da atenção plena e o treinamento de atenção

Baseado em uma prática budista, o mindfulness é um técnica laica e que vem, desde a década de 1970, conquistado cada vez mais adeptos no mundo ocidental.

Mais de seis mil estudos, conduzidos por instituições de referência, como a Universidade da Califórnia, apontam que a prática dessa meditação pode ser considerada um treinamento para a nossa atenção, modificando inclusive a plasticidade do cérebro. 

A neurocientista Amish Jha explicou em seu TED que nossa atenção é prejudicada quando estamos estressados ou distraídos. A prática da atenção plena ajuda a termos maior controle de nossa atenção mesmo em momentos desafiadores.

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