É preciso ir embora

Não me (re)conheço mais na Caroline de 2014 quando decidi ir embora. Vim morar em Portugal “só para estudar” e desde então nunca mais fui a mesma. Podia dizer que aprendi a viver com a saudade da família e dos amigos, que aprendi a cozinhar e a não esquecer de tirar a carne do congelador se eu quiser comer. Mas o que eu aprendi mesmo foi a viver um dia de cada vez.

Tem os dias que não temos dúvidas da decisão acertada que tomamos, e tem aqueles que a gente para e pensa “mas o que é que eu estou fazendo aqui?!”. Tem aquele pôr do sol incrível com pessoas mais incríveis ainda que você conheceu que te fazem respirar aliviado e pensar que é exatamente ali onde você deveria estar. Mas tem aquela comemoração em família de alguma data especial que te faz ir dormir chorando e com o coração apertado.

É se sentir estranho em um outro país onde tudo é novo para você e ao mesmo tempo entusiasmado por saber que o novo é o responsável pelo frio na barriga de tantas coisas incríveis que você se permite conhecer e viver. Mas é também se sentir estranho ao voltar para casa e ver que você não se encaixa mais em alguns padrões e enxergar que certas coisas e pessoas não fazem mais sentido nessa nova versão sua que a vivência do mundo te causou.

É preciso ir embora para aprender a viver um dia de cada vez. Para aprender que está tudo bem se as coisas não saem como planejamos naquele dia. E para entender, sobretudo, que todo dia é um recomeço. É preciso ir embora para se encontrar e, aos poucos, encontrar seu lugar nesse mundo.

Fui embora e continuo me perdendo e me encontrando todos os dias, vivendo nessa montanha russa entre altos e baixos que fizeram de mim uma Caroline mais corajosa por preferir o frio na barriga e a adrenalina em encarar o desconhecido e o novo diariamente ao invés de permanecer na minha zona de conforto mascarada de “estabilidade”. 

Não sei onde estou indo, só sei que não estou perdido. Aprendi a viver um dia de cada vez. Renato Russo