É tempo de crise, e agora?

Ao que me parece, estamos ficando experientes quando o tema é “crise”. Claro que poderia citar várias delas, a começar pela de 1929, a crise mundial em 2008 e, recentemente, no Brasil, a recessão ocorrida entre 2014 a 2016, na qual o índice de desemprego atingiu 13,7% em março de 2017. Uma crise é considerada quando há declínio da atividade econômica. O consumo diminui, o que leva à diminuição da taxa de lucro das empresas. Como passam a lucrar menos, muitas delas demitem funcionários e isso leva ao aumento das taxas de desemprego. Com mais pessoas desempregadas, há diminuição da renda, o que leva a um menor consumo por parte das famílias, ou seja, uma menor demanda.

Para compreendermos o impacto de uma crise, precisamos considerar a sua duração e sua força. Talvez a de maior intensidade tenha sido a de 1929, a mais famosa do sistema capitalista que, por tão grave que tenha sido, foi considerada uma depressão. Diferente das recessões, caracterizadas por crises de períodos curtos - dois a três trimestres consecutivos, as depressões são crises duradouras - de três a quatro anos, com forte redução da atividade econômica, falências, altas taxas de desemprego e queda drástica do PIB – Produto Interno Bruto, principal indicador para demonstrar o nível da atividade econômica.

Cada momento de crise se comporta de forma particular, devido às suas causas, colocando-nos a frente de muitas incertezas. Agora, em 2020, vivemos uma crise sem precedentes provocada pela maior pandemia do século XXI, o COVID-19, que tem nos exigido novos aprendizados sobre a proliferação do vírus e da cura da doença, além da compreensão dos seus impactos na economia. Se não conseguimos ter perspectivas fiéis sobre o comportamento da pandemia, cujo crescimento de novos casos, no Mundo, estima-se alcançar seu ponto máximo entre os meses de abril e junho, tampouco será possível, neste momento, fazer projeções seguras para os reflexos na economia.

No entanto, alguns economistas arriscam artigos e relatos, dentre eles, o brasileiro André Medici, responsável pela área da economia da saúde no Banco Mundial. Em sua publicação, com base em projeções construídas pela Empresa Consultora Mckinsey e cenários da Oxford Economics, Medici aponta para uma queda do PIB mundial na ordem de 2% a 5,7% para dois cenários: sendo o primeiro com medidas de isolamento total durante dois a três meses e o segundo, um isolamento seletivo (ou vertical como vem sendo chamado no Brasil). O primeiro cenário, mais otimista, aponta para uma retomada do crescimento econômico no segundo semestre de 2020, fruto das medidas de contenção adotadas no segundo trimestre deste ano. No entanto, o afrouxamento nas ações de contenção poderá trazer uma segunda onda do COVID-19 no segundo semestre de 2020 e prolongar a duração da pandemia e agravar o impacto econômico – comprovando que “o que já está ruim pode piorar”.

Cada ponto percentual que a economia se encolhe, gera um impacto devastador no âmbito do trabalho e do emprego em geral. Para se ter uma ideia, com estas projeções o desemprego pode atingir de 4 até 12 milhões de pessoas, somadas àqueles 11,6 milhões de desempregados, conforme último censo do IBGE, quando divulgou a taxa média de desocupação referente o último trimestre de 2019. Chegaríamos, portanto, no Brasil, a uma taxa de 25% de desempregados, sem contar, obviamente, no aumento descontrolado da informalidade, afetando, como consequência, áreas básicas como saúde e segurança, cenário vivido pelos Estados Unidades na crise de 1929.

EVITANDO O CAOS

A Teoria do Caos, campo de estudo da Matemática, é uma das leis mais importantes do Universo, presente na essência de quase tudo o que nos cerca. Nos ensina que uma pequena mudança no início de um evento pode ocasionar uma série de consequências enormes e desconhecidas, portanto, praticamente imprevisíveis, portanto, caóticos.

Imagine que, no passado, você tenha perdido o vestibular na faculdade de seus sonhos porque um prego furou o pneu do ônibus. Desconsolado, você entra em outra universidade, em outra cidade. Então, as pessoas com quem você vai conviver serão outras, seus amigos vão mudar, os amores serão diferentes, seus filhos, profissão, jornada da vida, podem ser outros…

Eu posso ser o prego que furou o pneu do ônibus, basta não cumprir com o pagamento da escola do meu filho, por exemplo. Se vários fizerem assim, provocará uma demissão dos professores, os quais não pagarão o seu compromisso na loja ou não comprarão quando esta voltar a abrir, a qual também terá que demitir seu funcionário e assim sucessivamente, estraçalhando a roda da economia e levando a atingir níveis de crise que convergem para o caos, ou como dizemos popularmente, o fundo do poço, cuja profundidade é desconhecida.

É natural que, frente a cenários incertos como o que vivemos – e tenha certeza, não é exclusivo de uma empresa, um setor, uma cidade, País, ou determinada faixa social -, a estratégia parece ser singular: abrir mão de todos compromissos, demitir, fechar as portas da empresa, desistir de tudo. É inevitável que teremos vários negócios fechados, impactados pelo isolamento social e falta de lastro financeiro, mas esse número pode ser menor, caso agirmos com a cautela que o momento exige. Estamos vivendo um momento de sobrevivência que exige ação com cautela, parceria e muita responsabilidade, pois tudo o que fizermos agora ou deixarmos de fazer, afetará o nosso futuro.

Recentemente publiquei um e-book falando sobre “o vocabulário” que deve fazer parte de nosso dia a dia, como empresários, em uma época de crise. Intitulei ele como “Qual o vocabulário para evoluir em épocas de crise?” que pode ser acessado gratuitamente em meu site www.souevoluir.com.br. Mas, para este artigo, penso ser importante listar alguns pontos que exigem muita cautela para este momento, a seguir:

PRINCIPAIS PONTOS DE CAUTELA PARA ESTE MOMENTO:

1 – Atuar com transparência: Utilizar-se do cenário para tirar vantagem ou deixar de cumprir com um compromisso, seja ele financeiro ou não, seria totalmente inapropriado. Portanto, mantenha comunicados e contatos frequentes com funcionários, fornecedores e clientes, expondo a situação real da empresa.

2 – Ter aproximação com os funcionários: Converse com os funcionários, exponha a situação da sua empresa e suas preocupações, abra o jogo – lembre-se, você não é o único afetado por essa crise, e negocie alternativas de forma que tenha menor impacto negativo para as duas partes: empregador e empregado, agindo com senso de parceria. Conte com sugestões, monitore o trabalho quando estiver sendo feito à distância. O seu custo aumentará caso não sejam minimamente produtivos nestes meses de quarentena.

3 – Utilizar mecanismos do governo: O governo está disponibilizando gatilhos que podem ser utilizados, tais como redimensionamento de jornada, trabalho em casa, antecipação de férias entre outros. Conte com o auxílio do seu Contador para avaliar as formas pelas quais a sua empresa pode ser beneficiada com estas medidas provisórias.

4 – Notificar Sindicatos: Mantenha Sindicatos notificados, quando aplicável, sobre qualquer negociação que fizer com seus funcionários. Quando oportuno, conte com o apoio de um Advogado, visando manter uma segurança jurídica sobre suas decisões.

5 – Manter compromissos com seus fornecedores: O seu fornecedor pode ser uma peça muito importante para o futuro da sua empresa. Procure manter os compromissos com fornecedores críticos, caso necessário, converse com eles, negocie. Lembre que você poderá precisar dele logo mais à frente para manter a sua operação em funcionamento e este poderá ser um grande parceiro.

6 – Projetar um fluxo de caixa adequado: Calcule quais são as suas despesas fixas, seus compromissos em aberto, suas contas a pagar. Faça um mapeamento do contas a receber mais a sua contingência financeira (gordura) e veja quantos meses você consegue atravessar, mesmo com menor movimento. Considere nesta projeção um risco financeiro por inadimplência. Em momentos de incerteza, o plano é inútil, mas o planejamento é indispensável.

7 – Repensar processos e, até mesmo, produtos: Nunca uma expressão teve tanta importância. Se você não consegue vender na loja física, por exemplo, adote um atendimento Delivery. Repense, de forma rápida, como divulgar seus produtos – talvez as redes sociais sejam uma excelente vitrina neste momento. Tenha flexibilidade em adotar padrões, até então, considerados impossíveis.

8 – Buscar novos conhecimentos: Reclamar da situação nunca ajudou, e não é agora que vai ser o remédio certo. Utilize o seu tempo dedicando-se à busca de novos conhecimentos, novas alternativas. Praticamente tudo que você sabia até agora não será mais útil durante e depois da quarentena, pois nada mais será como era antes. Conte com o apoio de consultorias, aulas à distância, cursos gratuitos online como os disponibilizados pelo Sebrae, FGV – Fundação Getúlio Vargas, entre outras instituições reconhecidas que estão oferecendo a sua ajuda.

9 – Manter contatos com clientes: Não se ausente, mantenha contatos frequentes com seus clientes, mesmo para lembrar que você existe. Não é o caso, necessariamente, de pensar em promoções, pois todos estamos apreensivos com as incertezas do momento. Mas, enviar mensagens ou fazer contatos telefônicos ou por aplicativos, até para solidarizar-se com a situação são maneiras de marcar presença e ajudará quando da retomada da economia, fortalecendo o vínculo de relacionamento.

10 – Pensar positivo: Se você pensar que pode ou que não pode, estará certo. Portanto, pense que pode. Não se deixe levar por notícias ou boatos, pois, apesar de estarmos todos na mesma tempestade, estamos em barcos diferentes. Conhecer-se profundamente, conhecer a realidade do seu negócio e o ambiente onde está inserido são fundamentais para que você faça as ações de forma adequada. A única força que fará você atravessar o momento de crise será a sua força de vontade e pensamento positivo. Foco no positivo ajudará a clarear ideias novas para o seu negócio.


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