Ética além de estética, por favor.
Dia do Empreendedorismo Feminino.
Foi ontem, fiquei sabendo ontem dessa data. Após ler um post que me fez pensar muito ontem a noite, passei a olhar essa data através de um outro prisma.
Virou moda fazer de conta que se enaltece a mulher por seus feitos, suas conquistas, suas lutas. 'Parabéns pelo Dia da Mulher!', 'Parabéns pelo Dia do Empreendedorismo Feminino'.
Empoderamento feminino. Essa expressão eu sempre detestei de todas as minhas forças, porque quando tu empodera alguém, tu está dando o poder a alguém. Quando esta expressão vem da fala de um homem, eu sinto ainda mais incoerência: parece que nossa força e poder além de serem doados por outra pessoa, ainda são sancionados por um homem, como que a validação dessa força toda precisasse vir do masculino.
Anotem aí as duas primeiras coisas importantes:
1. Nós mulheres já temos poder. Somos mais fortes do que a maioria pensa, somos intensas porque vivemos em totalidade, somos além da casca que a maioria enxerga, somos capazes, somos incríveis. Não precisamos ser empoderadas. Sabe o que a gente precisa? De espaço de fala. De oportunidades para poder manifestar este PODER. Então, por favor, peço licença.
2. Nós mulheres não precisamos da validação de ninguém. tampouco da dos homens. Nós gentilmente a ouvíamos porque nos foi ensinado que mulher não deve interromper a fala de algum homem- mesmo quando interrompida , nem retrucar, nem levantar o tom de voz, pois 'não era feminino'. (fomos ensinadas por homens a reconhecer o que é e o que não é feminino. Seria irônico, se não fosse triste). Mas os tempos estão mudando e percebemos que a nossa 'gentileza' na verdade era submissão e sabe? Cansamos. Então de verdade, seria melhor apenas que essa situação desconfortável sumisse, deixasse de existir.
(Mas sabemos que não será assim. Avante).
Após ler o post de uma mulher incrível e que admiro muito - em seu perfil no instagram - comecei a pensar sobre isso tudo de modo mais amplo. Eu confesso que fui lá no perfil dela parabenizá-la por seu aniversário e pensei "nossa, que legal! Uma empreendedora fazendo aniversário no dia do Empreendedorismo Feminino". Poft. Li o post dela e passei a ter uma outra visão sobre o todo.
E lembrei de quando ainda na faculdade, tentei empreender com alguns colegas e não saiu do papel o nosso projeto - "Vocês são muito jovens, calma..." foi a resposta de um dos professores que queríamos como mentores. A ideia da Martina de 22 anos era a de desenvolver, em 2006, algo semelhante a calcinha absorvente para mentruação que hoje temos no mercado.
E lembrei de quando prestes a me formar, ouvi de um gestor que "Martina, calma. Tu ainda será muito boa, mas não é agora o momento de te ouvirmos". Eu esperei por este momento por tanto tempo, que após alguns anos, desisti e sai da empresa.
Lembrei também de quando em uma disciplina na faculdade, cuja temática eu amo até hoje - história da arte - a professora perguntava aos alunos sobre os temas que abordava e ninguém respondia. Eu olhava ao redor, para ver se alguém queria responder alguma coisa. Nada. Eu sabia daquelas respostas, então erguia o braço e respondia. Acertava, pois é um assunto de meu interesse e de meu constante estudo. Para minha surpresa, ao final de uma das aulas, a professora veio me pedir para 'tentar não ser tão participativa, pois eu inibia os demais de falar e de participar'. Poft. Se eu disser a vocês o tanto de frustração que tomou conta de mim, ainda não será o suficiente para relatar exatamente como me senti. Na próxima aula, dei boa noite aos colegas e professora, sentei no meu lugar de sempre e ali fiquei. Quieta, ouvindo a aula, sem participar. Sabem quantas perguntas foram respondidas pelos demais alunos? Nenhuma. Ao final da aula, a professora veio me perguntar o que houve. Eu respondi: "Professora, eu não sei ser meio-Martina. Ou eu sou eu mesma, ou não sou. Peço desculpas. A senhora viu como ninguém mais participou da aula? Será mesmo que eu sou o problema?" Ela me pediu desculpas.
Lembrei de quando eu montei meu primeiro estúdio e este não deu certo. Havia montado junto com meu namorado e inexperientes, fomos totalmente mal orientados. Para 'melhorar' a situação, a empresa com a qual fecharíamos um grande contrato, faliu. Percebi que eu entendia de design, mas não entendia nada de mercado.
Lembrei de quando eu tentei novamente montar algo, em 2017. E lembrei do que ouvi de amigos, familiares e outros empreendedores: "Martina, o cenário não está favorável. O nome do teu estúdio é fraco. Tem muita gente desenhando como tu. Desista".
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Em 2018 abri o Martina Viegas Surface Design. Ele está crescendo sim, obrigada. Atendo a clientes nacionais e internacionais. Hoje eu me considero narradora visual e desenho estampas, ilustro produtos e crio projetos sempre pensando em soluções visuais que sejam mais do que apenas estética: eu quero contar histórias. Eu não desisti. Fui lá aprender o que me faltava e me inscrevi em um curso para designers de superfície com uma abordagem de marketing. Isso abriu a minha mente e este ano eu me inscrevi em um curso sobre branding e sobre branding pessoal. Decolei.
2019 foi um ano incrível, mas eu não quero mais parabéns. Estou bem. Desenvolvi o site do meu negócio, criei e-mails profissionais, prospectei mais clientes, tive o meu trabalho publicado pela revista internacional Texitura [...]
Assim como a mulher incrível que eu sigo e acompanho, quero apenas espaço para crescer e que ninguém me atrapalhe. Se não puder ajudar, se optar por não ajudar, tudo bem. Apenas peço que não me parabenize e que não me atrapalhe.
Estou engajada em muitos projetos que jamais pensei que pudesse abraçar. Chamo outras mulheres designers para fazer parte destes projetos.
Voar em bando é sempre melhor do que voar solo. É no que eu acredito. Temos o Estampa do Bem, projeto que idealizei ano passado e que conta com a participação de designers mulheres fantásticas!
Hoje estou montando os meus próprios cursos, que em breve serão lançados. Hoje eu dou mentorias para outros designers que precisam de uma orientação real sobre mercado de design de superfície e ilustração. E a jornada é longa, é árdua. Mas hoje, é possível.
E foi possível principalmente porque ao invés de me apegar ao que me diziam de modo negativo, eu fui atrás de inspiração e colaboração no trabalho de outras mulheres.
Então gente, de verdade: o real empreendedorismo feminino já existe muito antes da data comemorativa existir. Marias, Joanas, Martinas, Julias, Déboras, Barbaras, Milenas, Helenas, Letícias [...] estão por aí batalhando, todos os dias. Todas nós estamos sendo julgadas por nossa aparência, por nosso entendimento dos assuntos que falamos, por nosso profissionalismo, todos os dias. Todas nós precisamos provar que somos boas no que fazemos, todos os dias... e se nos julgarem 'bonitas demais' para um cargo, não seremos selecionadas - da mesma forma que se formos julgadas 'bonitas de menos', também não.
Espero pelo dia no qual seremos reconhecidas de fato pelo quanto nós pensamos e produzimos, ao invés de sermos constantemente reduzidas a adornos que apenas enfeitam. Mas enquanto este dia não chega, seguiremos trabalhando. Afinal, temos orgulho das mulheres empreendedoras que nós nos tornamos.
Você pode acessar meu site - em construção - aqui.
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Especialista de Mídia
5 aReflexão interessante, obrigado por compartilhar.