Ô FERRÃOZINHO PERVERSO!
Dessa vez a história aconteceu na cidade de Socorro - SP. Estávamos desenvolvendo um trabalho que tinha se iniciado na cidade de Itapira, quando descobrimos uma série de utensílios líticos. Socorro se apresentou como sendo o sítio origem dos materiais encontrados em Itapira.
Tínhamos na equipe um integrante que tinha família na cidade e isso facilitava muito as coisas.
Lá na cidade, com toda a minha equipe, fizemos, primeiramente um levantamento obtendo informações pertinentes aos nossos estudos.
Desse levantamento, acabamos por descobrir que em um sítio da região, pessoas haviam encontrado, após chuvas intensas, pequenas lascas de sílex e algumas pontas semelhantes a pontas de flechas.
Como o Fernando do Nascimento, irmão de Tereza, integrante da nossa equipe, conhecia muito da região, se ofereceu para ser nosso guia.
Sendo Socorro uma cidade pequena todo mundo se conhecia, ficando fácil chegar e ter informações.
Foi dessa forma que conseguimos encontrar um sítio de onde exumamos muitos cacos de sílex e inúmeras pontas de flechas.
Mas não era suficiente. Era preciso mais, afinal quem fabricou tais utensílios provavelmente tinha vivido em aldeamentos e eram tais vestígios que buscávamos agora.
Uma caverna poderia ser um bom começo para investigações, mas as pessoas não tinham conhecimento de nenhuma. Foi quando olhando de onde estávamos para um morro distante, pude notar que havia uma ligeira modificação na coloração da vegetação, o que indicava que naquele local poderia existir a entrada de uma caverna. Daí começa o motivo de narrar tal história.
Fernando nos acompanhou, pois garantiu que, apesar de jamais ter tido qualquer informação sobre tal caverna na região, confirmado pelo próprio dono da fazenda em que nos encontrávamos, sabia com facilidade encontrar uma trilha que nos levasse até o ponto indicado por mim.
Partimos com nossos equipamentos, na certeza de registrarmos tal acidente geográfico.
Cortar o vale foi tranquilo, pois não havia nada que interferisse no trajeto. O problema começou quando começamos a subir o morro pra chegarmos no que eu imaginava ser a boca de uma caverna.
Não era apenas mato alto, mas uma floresta que tomava conta do morro o qual era muito íngreme e o chão bastante escorregadio.
Nos apoiando nas árvores e nos escorando a cada passo, fomos seguindo meu instinto até que chegamos na boca da caverna. Mas, cadê a caverna? Ela mais se assemelhava a uma gruta de pequena profundidade. Resolvi analisar mais de perto e percebi que rochas haviam se desprendido do teto e fechado a boca. Significava que havia, sim, uma caverna mais profunda. O problema eram as pedras que teriam que ser removidas. Começamos a dividir os trabalhos, pois tínhamos plena convicção de que lá dentro encontraríamos algo de valor arqueológico.
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Nesse ínterim, ouvimos um zumbido que cada vez mais se avolumava. Olhei para cima, e numa pequena fresta entre as rochas superiores e o teto da tal caverna, começaram a sair as guardiãs do lugar. Abelhas. Muitas abelhas.
Se vocês pudessem ver com que rapidez o José Ítalo Silvestrin, nosso consultor técnico, desceu o morro e desapareceu na mata, você simplesmente diria que tudo o que disse em relação às dificuldades na subida eram enganação. Ele simplesmente despareceu num piscar de olhos.
Nisso, o Fernando gritou para que todos se deitassem no chão e ficassem bem quietos. Segundo o que sabíamos as abelhas não voam próximas ao chão. Só nos esquecemos de avaliar que estávamos na encosta de um morro e que deitados ficávamos a quase 60°. Mesmo assim seguimos o protocolo. Fernando era o que estava mais perto da saída e sentiu quando uma delas pousou entre seus olhos. Disse ele que fechou os olhos e evitou até respirar, esperando que ela decolasse.
Pedi que Hélio Funari, nosso enfermeiro, que estava mais distante, fizesse um fogo verde, ou seja, queimasse folhas verdes pra fazer bastante fumaça. Assim ele fez e quando o barulho foi diminuindo e as abelhas se acalmando, pudemos seguir adiante e verificar os estragos.
De todos nós, apenas o Fernando tinha sido premiado. Lembram-se da abelhinha que pousou entre seus olhos? Pois é. Não fez por menos e se vingou pela colmeia toda. Ô ferrãozinho perverso!
Enquanto voltávamos para nosso ponto de origem, Fernando foi se transformando. Seu rosto inchou de tal forma que mal podia enxergar. Antes que entrássemos em sua casa e que ele pudesse se olhar no espelho, disse-nos que tinha um baile pra ir à noite e que não poderia perder, pois tinha um encontro marcado. Nosso enfermeiro deu-lhe medicação e disse que a dor passaria logo, mas o inchaço levaria mais tempo.
Mesmo com a dor da picada e deformado como estava seu rosto, não perdeu o humor e comentou:
−Faz de conta que é um baile de máscaras.
Foi quando observei:
−Esse é um acessório, que no seu caso, não será necessário.
No dia seguinte soubemos, que apesar de tudo, Fernando conseguiu conquistar a garota do baile. Foi mais uma versão de “A bela e a fera”.
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HISTÓRIAS E AVENTURAS(Omar Carline Bueno)
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