A 1ª Lição (inusitada) que Aprendi com Meu Chefe

Não fazia 3 meses que havia começado a trabalhar na empresa e havia um papo recorrente que estava rolando em meio à liderança: mobilidade urbana.

Para ser mais específico, a pergunta que circulava entre nós era: quais são as outras formas de chegar ao trabalho que não seja de carro? Obs: nossa sede fica no centrão nervoso de Curitiba e todos já estavam meio sacudos que ter que usar carro.

E aí, foram listadas várias opções: a pé, busão, uber, patinete, bicicleta, carona, jegue, etc.

Acontece que meu chefe havia adotado a tal da bike elétrica para ir ao trabalho. E isso muito tempo antes da modinha.

O que bicicleta tem a ver com trabalho? O que isso tem a ver com Linked In? Calma que você vai entender…

Um certo dia, meu chefe me faz um convite e diz:

“Rapha, vou te emprestar minha bicicleta para você voltar para casa hoje. Aí você vê se gosta. Eu acho que você vai amar!”

Veja bem.

Uma coisa é andar de bicicleta no parque. Outra coisa é dividir as ruas com carros. Eram 7.8 km de trajeto do centro para minha casa. Então bateu uma leve apreensão mas aceitei o convite (que estava mais com cara de desafio. risos).

No meio do caminho, o 1º fato inustidade acontece. Eu estava pedalando e fiz um leve movimento ficando em pé na bicicleta e um movimento para sentar no banco. Para minha surpresa, e desespero, o banco quebra. Isso mesmo. Ele literalmente descola do suporte e cai no chão. Eu paro a bike, chocado.

Encostei a bicicleta e dei um jeito de posicionar o banquinho no suporte. Não sei como fiz isso mas simplesmente sentei em cima para que ele não caisse e fui até em casa assim. Sufoco.

No dia seguinte, eu chego cedinho no trabalho para devolver a bicicleta com banco quebrado. Como que eu ia dar a notícia para o boss? Ah, detalhe: eu fui de casa até o trabalho com o banco quebrado, preso e amarrado firmemente com fita adesiva.

Aí vem o 2º fato inusitado.

Enquanto eu esperava em pé do lado de fora da empresa para abrirem o portão da garagem, a bicicleta estava apoiada na minha cintura. Eu fiz um movimento para pegar meu celular na mochila e a bicicleta “desliza” rapidamente, se espatifando no chão. Resultado: eu acabei de quebrar mais uma peça da bicicleta: o retrovisor esquerdo.

Agora eu estou quase suando frio. Fiquei me perguntando como alguém consegue quebrar o banco e um retrovisor de uma bicicleta em menos de 24h? De uma bicicleta emprestada, diga-se de passagem. E ainda que pertence ao seu chefe!?

Chegou o grande momento da saraivada. Entreguei a bike para ele e ele perguntou:

“E aí? Gostou?!”

Eu disse que havia gostado mas que tinha acontecido um pequeno “imprevisto.” Soltei a notícia bombástica, daquele jeito, com aquela vergonha que faz o cachorro ficar com o rabinho entre as pernas. Pedi mil desculpas e ofereci para pagar o concerto mas ele não aceitou. Vida que segue.

Ainda no mesmo dia, após o almoço, tive uma surpresa: o 3º fato mais que inusitado.

Eu estava sentado na minha mesa quando ele chega por trás, coloca a mão no meu ombro, abaixa um pouco e diz com um sorriso no rosto:

“Rapha, muito obrigado. Eu acabei de comprar um banco infitamente melhor que o outro. Parece uma bacia! Uma delícia!”

Eu soltei um “Ah, que bom” com um sorriso amarelo.

Demorei alguns segundos para entender a mensagem. Nesse momento percebi que meu chefe tinha (e ainda tem) um “drive” diferente. Um jeito próprio de pensar. Um ponto de vista peculiar. Uma forma de encarar os problemas com otimisto, coragem e muita resiliência.

Isso me marcou. Bastante.

Acredite: as vergonhas que passamos no trabalho, as “sinucas de bico” que enfrentamos e os desafios inesperados são apenas oportunidades disfarçadas para crescimento pessoal.

E assim, entre risos e agradecimentos, percebemos que a vida, de fato, tem uma maneira única de nos ensinar lições valiosas.

Afinal, só não tem jeito pra morte. Pro resto, a gente dá um jeito.