16% dos funcionários não estão nem aí para a sua empresa
Ruy Shiozawa CEO at Great Place to Work® Brasil

16% dos funcionários não estão nem aí para a sua empresa

O que você faria ao saber que 16% dos seus funcionários não estão comprometidos com os propósitos e objetivos da sua empresa? Em outras palavras, 16% ficam motivados apenas quando acaba o expediente e podem se mandar. Ou ainda pior: até passam o dia na empresa, mas com a cabeça e o celular em um mundo paralelo. Agora pensem comigo: quanto custam esses 16%, considerando salários, benefícios, treinamento, espaço físico, computador? Mais ainda: pense nos 16% desperdiçados e compare com o crescimento de apenas 0,1% do PIB brasileiro no ano passado, ou a previsão de retração este ano de 2 a 3%. Isso poderia salvar seu ano – ou a sua década!

Na realidade, este é o indicador conseguido com muito esforço nas empresas com alto grau de maturidade em termos de conquistar o melhor das pessoas e, portanto, campeãs em ganhos de produtividade. Corresponde ao seletíssimo grupo das 135 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil, na pesquisa Great Place to Work / Revista Época. Se considerarmos as empresas que ainda estão longe desta excelência – e que infelizmente ainda são a maioria no Brasil, o indicador do “não estou nem aí” salta de 16% para alarmantes 50%, 60% e até 70%! Outra característica é que este índice atinge empresas de todo o tipo e porte, inclusive algumas que frequentam as capas das principais revistas de negócio.

Diferente do faturamento ou patrimônio líquido, que são dados públicos ou em geral facilmente estimados, o índice de confiança dos colaboradores da organização precisa de atenção da alta gestão e deve ser incorporado ao modelo de gestão da empresa. Cuidado, pois temos a grande tendência de “terceirizar” a culpa pelos problemas de baixa performance da organização: seu principal obstáculo à produtividade pode estar dentro de casa e não no Governo, na Economia ou na Lava-Jato.

A excelente notícia é que uma Nova Liderança está surgindo nas organizações e tomando a dianteira não apenas no debate, mas especialmente nas ações. São práticas simples e muitas vezes sem custo mas muito efetivas para reverter o quadro apresentado acima, criando ambientes de confiança, onde as pessoas estão de fato comprometidas pois consideram que suas empresas são muito mais do que "apenas um emprego".

Produtividade em Tempos de Crise” foi o tema de um interessantíssimo encontro entre os CEOs das Melhores Empresas para Trabalhar do Rio de Janeiro. A troca de experiências foi estimulada pelo jornalista George Vidor do Jornal O GLOBO. Vidor brindou os presentes com uma excelente dica: está desanimado e pessimista com a situação do País? Olhe para o retrovisor e veja o que ficou para trás. Em um momento em que discutimos se a Presidente deve ou não ficar no Planalto, George Vidor nos relembra que, à época da eleição de Juscelino, metade da população não podia votar pois era analfabeta e tínhamos apenas uma estrada asfaltada no Brasil. Isso não deve servir de consolo mas nos ajuda a olhar para a frente e focar em nossas próprias ações.

Essa Nova Liderança é o ponto de partida de um período que podemos caracterizar como a Era dos Excelentes Ambientes de Trabalho. Essa liderança está à frente de organizações que geram resultados de negócio muito superiores às médias de mercado e obtém ganhos de produtividade nesses difíceis momentos de crise. Seu segredo: conseguem obter o melhor de cada pessoa e criam um forte espírito de colaboração.

Na prática, esta Nova Liderança desenvolve melhores profissionais para suas empresas e melhores cidadãos para a sociedade. No debate em questão, os CEOs presentes deixaram claro que em seus planos de trabalho cotidianos – e não em utópicos documentos a serem discutidos em algum castelo nas nuvens – incorporam ações relativas a duas questões que consideram prioridade absoluta:

Educação: graves deficiências educacionais que enfrentamos geram profissionais para o mercado de trabalho com enormes lacunas que, obviamente, leva a produtividade brasileira a patamares muito baixos. A maioria das Melhores Empresas Para Trabalhar investe não apenas no treinamento técnico interno, mas em educação para seus profissionais e para as comunidades ao redor das suas instalações.

Empreendedorismo: modelos paternalistas de gestão nas empresas e no País, baseados no acobertamento dos erros e no assistencialismo estatal, destroem a veia empreendedora das pessoas e transformam a inovação em uma peça de ficção. Isso completa a equação da falta de competitividade do Brasil.

O que podemos fazer?

Mais uma vez as empresas GPTW indicam o caminho. Cinco anos atrás, a Coelce - empresa de energia do Ceará, hoje parte do grupo italiano Enel - foi a primeira empresa do estado premiada pelo Great Place to Work. Seu CEO, Abel Rochinha, compreendendo os grandes benefícios que um excelente ambiente de trabalho trouxe aos seus negócios, passou a estimular todos os seus 50 fornecedores a também se engajarem no processo de transformação de suas práticas de gestão de pessoas. Hoje várias destas empresas também são um GPTW, reconhecidas nacionalmente.

Neste ano, a Elektro - a melhor empresa para Trabalhar no Brasil nos últimos 3 anos - amplificou a ideia convocando mais de 200 fornecedores a fazerem o mesmo. Dentro de um ano, as empresas que se destacarem nesta promissora missão receberão um selo conjunto – Elektro/GPTW – reconhecendo suas ações no desenvolvimento desta Nova Liderança que obtém resultados através das pessoas – e não apesar delas!

São ações desse tipo: simples porém poderosas, que geram um enorme efeito multiplicador, contagiando milhares de outras empresas. A Nova Liderança não está escrevendo livros de autoajuda, mas sim atuando para gerar resultados diferenciados em suas empresas. E para construir um país melhor!

IMPORTANTE: Recebi vários comentários discutindo o indicador de 16%. Para complementar as informações sobre este número, gostaria de adicionar duas informações:

1 - Os 16% vêm dos resultados da pesquisa nacional GPTW deste ano. A média do índice de confiança das 135 empresas premiadas este ano foi de 84 (em uma escala de zero a 100). Isso quer dizer que os 16 pontos percentuais restantes representam uma enorme oportunidade para ganhos de produtividade. Colaboradores identificados com os propósito e valores da empresa dão o melhor de si, trabalham em equipe e superam seus objetivos !

2 - Notem que os 16% referem-se ao gap de oportunidade para as empresas premiadas, ou seja, os melhores ambientes de trabalho do país. Conforme descrito no texto, nas demais empresas este gap transforma-se em um abismo, atingindo cifras entre 50 e 70%! Ou seja, de cada 3 pessoas, apenas 1 ou 2 estão de fato produzindo.

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