A escola transforma ou reproduz a sociedade?
Grande parte dos professores, coordenadores pedagógicos e diretores de escolas públicas afirmam que, ao discutir os problemas enfrentados atualmente pela Educação, não consegue enxergar a escola fora do contexto caótico pelo qual estão passando [e falindo] as instituições. Desde a família ao Congresso Nacional, também a escola é mais uma instituição em crise. A sociedade, segundo eles, ao buscar as causas de tudo isso, culpa a Educação, fazendo com que ela viva diariamente nessa ‘fritura’, esquecendo-se de observar o cenário no qual a escola encontra-se inserida. Alegam, também, que nesse contexto há outras instituições nas quais não se pode encontrar perfeição, muita gente despreparada, que não tem oportunidades para melhorar profissionalmente, muitos analfabetos funcionais, limitados a trabalhos mecânicos, braçais.
Em meio a tudo isso, a escola se depara com a violência. Aí percebem que, da Segurança Pública ao Supremo Tribunal Federal, tudo está caótico. E perguntam: Esse contexto contribui para uma boa escola pública? Um professor tem condições de fazer milagres em meio ao caos? Segundo esses profissionais, a Educação engloba outras necessidades que estão postas na segurança pública, no transporte, na saúde, e não depende apenas de professores.
Mas não estamos falando da Educação escolar, em que uma das principais funções é o ensino formal, ou de uma Educação mais abrangente?
A sociedade é o lugar onde a Educação escolar se torna realidade concreta, beneficiando-a em todas as áreas e estando ao alcance de todos os seus membros. Entretanto, somente a Educação pura e plena deve ser apresentada à comunidade pela escola, e também ser percebida, experimentada e desfrutada por todos. Após apresentada, percebida, experimentada e desfrutada, ela indubitavelmente será expressa na vida prática da sociedade. Temos, então, a sua apresentação, a sua percepção, a sua experimentação, o seu desfrute e a sua expressão.
É por isso que a Educação escolar deve estar livre de ideologias. Tanto a pedagogia tradicional quanto a construtivista são ideológicas. As ideologias objetivam o controle da mente e, por conseguinte, o controle da sociedade. Um eleitor que vivenciou a Educação pura é perigoso para o sistema político-ideológico.
A política jamais trabalhará em prol de uma Educação escolar pura, pois a sua plenitude lhe é subversiva.
É extremamente desinteressante e de certo modo perigoso para o sistema político que um indivíduo deixe de viver por meio ou sob a influência da ideologia e passe a viver por meio da Educação formal plena. A mente posta na ideologia é uma mente imbecilizada, ignorante, morta; a mente posta na Educação plena é uma mente que tem discernimento e, portanto, viva.
A Educação escolar não deve ser apenas libertadora. Isso é muito pouco. Ela também precisa ser transformadora e edificadora. O ponto básico da Educação escolar é a preparação do indivíduo para o desfrute da cidadania plena, ajudando-o a perceber suas complexidades como ser humano imperfeito, consciente de seus direitos e deveres e com sua mente livre de ideologias e apta para discernir, analisar e refletir sobre tudo. A cidadania plena, adquirida por meio da Educação escolar pura, vivifica o indivíduo, a sociedade e a nação. Por isso a Educação escolar pura é a principal inimiga das ideologias. As ideologias se opõem à efetivação da Educação pura por ela ser libertadora, conscientizadora, transformadora e edificadora. A ideologia é um inimigo a ser vencido pela escola.
Se o objetivo da escola for apenas o de formar bons médicos, advogados, engenheiros etc., jamais contribuirá para a construção de uma sociedade igualitária, fraterna e justa, pois estará desconsiderando a formação integral do ser humano.
Um dos principais motivos da existência das escolas é produzir uma profunda transformação na sociedade por meio da preparação e edificação do indivíduo. E o professor, como um dos principais agentes da escola, tem uma imensa responsabilidade nesse processo. Infelizmente, existem professores que não são capazes de produzir mudanças efetivas nem em si mesmos, quanto mais na sociedade, na comunidade da qual fazem parte.
Mas que preparação é essa? O que é mais importante: a acumulação de conhecimento ou o desenvolvimento integral do indivíduo? As escolas que têm uma visão de futuro e uma missão estão aquém de educar seus alunos integralmente como indivíduos. Elas apenas corrompem a mente dos seus alunos. O mesmo acontece com as ideologias pedagógicas, como o escolanovismo, o construtivismo e quantos “ismos” criam por aí.
Um dos fins da escola é proporcionar aos alunos e aos professores um florescimento natural que os leve à frutificação para a vida e para a sociedade. Qual é o principal propósito da escola? Posso dizer, caro leitor, que não é ensinar os alunos a fazerem prova e a tirarem boas notas, nem a formar bons profissionais.
Nossa sociedade está cheia de bons profissionais vazios como pessoas e como cidadãos, que tiraram boas notas nas provas escolares.
As escolas não deveriam estar preocupadas somente em repassar teorias, conceitos e ideias dos conteúdos curriculares; elas devem, isto sim, preocupar-se de forma que esse aprendizado seja útil e aplicável nas atividades da vida diária dos alunos. Desta forma a sociedade também é beneficiada.
Qual é o principal objetivo e fundamental papel da escola perante a sociedade neste milênio, especialmente nas quatro primeiras décadas? Não seria formar [e não deformar] uma geração de seres humanos menos egocêntricos? O que fez a escola brasileira na primeira década do século XXI?
A escola que, inserida no espaço geográfico de uma comunidade, não interfere de forma positiva nessa mesma comunidade, contribuindo para o crescimento e edificação de seus membros como pessoas e como cidadãos, proporcionando-lhes a busca por uma vida cada vez melhor, participativa e solidária em sociedade, nada mais é que uma escola inútil, uma escola morta.
Prof. Maurício Apolinário é gerente de projetos educacionais, licenciado em Letras, especialista em Gestão de Pessoas e Gestão Escolar, e atua como freelancer nas áreas de comunicação e educação. Revisor gramatical.
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