#2 Quando dois carros quebram, o Estoicismo te mostra como se manter em movimento
[Remédio filosófico] Um pouco de sabedoria estoica para lidar com a vida (e seus problemas)
Apenas quando saímos do olho do furacão e olhamos os problemas um pouco distante, podemos dar-lhes a proporção adequada. A proximidade do problema agita as emoções, fica difícil discernir nesses momentos.
No final eu irei fazer uma ponte com ensinamentos do Estoicismo para não ficar refém dos problemas e, assim, poder encarar a vida com mais sobriedade e leveza.
Dos Fatos
Após um final de semana de descanso e reencontro com meus pais no litoral norte paraibano, voltamos para Campina Grande com um carro semi-novo, mas bem mais novo que o anterior, agora chamado “o carro velho”.
O semi-novo (eu não criei afeto por ele) estava em bom estado de conservação, exteriormente. Até que na segunda à noite, o semi-novo apresentou um problema, uma fraqueza. Tinha tudo pra ser bateria.
Na manhã seguinte, o olhar apurado do técnico que veio em casa trocar a bateria constatou que a água do radiador fluía para o motor. Eu não entendo de carro, mas sei que tudo relacionado a motor de carro é sério e caro.
Resultado? O carro foi guinchado de volta para Natal. Menos de 48 horas em Campina Grande, não conheceu nada.
O semi-novo havia saído da concessionária na quarta anterior. Entrada, financiamento e toda burocracia encaminhada. Situação chata, mas ainda tínhamos o carro velho - que seria vendido - agora ele iria nos socorrer.
Dois dias depois, o carro velho também parou. Guinchado para o mecânico de confiança, foi identificado o problema no segundo cilindro, que fica dentro do cabeçote, no motor! Mais uma vez, o motor.
Agora que escrevo, estou pensando se por acaso dois carros com problema no motor, não seria uma mensagem (direta) da vida para mim. Entendo a perspectiva de enxergar as doenças como símbolo, mas, os carros? É novidade, de toda forma, vale a reflexão sobre o meu motor interno.
Voltando ao cenário, fica a lição: mais vale um carrinho simples (imagine qual carro quiser, quero evitar cancelamentos por motivos bobos) com o motor em dia, do que dois carros simples, talvez não tão simples quanto você imaginou, com motores na UTI.
A semana inteira sem carro. Atrapalhando, mas está passando. A previsão é do carro velho sair na quarta que vem (hoje é sexta à noite). O semi-novo foi devolvido e o negócio será desfeito. Foram 2 dias e meio no olho do furacão até decidir aceitar os planos da vida para os carros.
O remédio filosófico
A filosofia estoica tem um ensinamento muito precioso que diz, de forma direta e simples: que devemos nos preocupar apenas com aquilo que depende de nós; das coisas que não dependem de nós, nada podemos fazer. E ficar preocupado ou angustiado não resolve nada.
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É simples e verdadeiro, mas como todo ensinamento simples e verdadeiro de ser entendido intelectualmente, a sua aplicação prática exige alguns anos de treino.
Anos de treino. São necessários para nos ajudar a identificar o que REALMENTE está sob nosso controle e o que NÃO está sob nosso domínio. Geralmente, confundimos e queremos mudar o que não podemos enquanto não mexemos naquilo que depende só da gente.
Epiteto, um dos maiores nomes do estoicismo ensinou:
Eu, em correntes? Você pode colocar grilhões em meus pés, mas a minha vontade, nem mesmo o próprio Zeus pode dominar
Vamos colocar uma lupa na frase. Quando Epiteto diz: “Eu, em correntes?”, ele nos mostra ter consciência que alguma parte dele pode ser aprisionada, no caso, todo o seu corpo, mas não a sua alma e sua vontade.
Os seus valores e a forma como ele participa do mundo, nada disso pode ser controlado por ninguém. Nem mesmo pelo mais poderoso dos deuses. Sua alma é livre, assim como a sua consciência, que é desperta, e não apegada às circunstâncias externas.
Na condição de escravo, Epiteto foi um dos personagens mais livres da história.
Ele decidia, conscientemente, como agir diante dos fatos. Instinto, desejo, cólera, nada disso parecia exercer influência sobre ele. Estavam ali, mas ele decidia o que iria prevalecer. Isso é exercer a vontade.
Temos o livre arbítrio para decidir como vamos ver nossa vida e todas as suas várias circunstâncias. Há dois dias e meio eu decidi dar o justo tratamento a toda essa questão dos carros. Já tomaram mais do meu tempo do que deveriam, agora é esperar e andar de Uber.
Posso controlar apenas a minha atitude diante dos fatos e, agora, já distante do furacão, vejo que é muito mais nobre e digno dar aos fatos o tamanho que eles têm, por mais desagradáveis que sejam no momento.
Enquanto escrevo, me dou conta como foi inútil e pouco produtivo todo o estresse que tive e senti no começo da semana, serviram apenas para encurtar em alguns meses a minha vida - espero que a academia possa recuperar.
Passado o furacão, que estava mais para vendaval, ficam os aprendizados. Sempre eles, salvando quando tudo parecia ser apenas problema, eles apontam o que é verdadeiramente viver, aprender.
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