20 anos de ESG
Me lembro de, no final da década de 1990, receber a instrução do meu então chefe “Pare tudo que estiver fazendo, vá estudar esse tal de XML. Tá todo mundo falando nisso, precisamos entender o que é”. Eu, então estagiária de TI, não sabia nem por onde começar a buscar informações, e quando comecei a encontrá-las, não sabia o valor daquilo, nem como usar no que eu já estava trabalhando.
Hoje, imagino a cena sendo vivida por centenas de pessoas, mas com a sigla do momento: “Pare tudo que estiver fazendo, vá estudar esse tal de ESG. Tá todo mundo falando nisso, precisamos entender o que é”. Da mesma forma, a maioria destas pessoas não sabe nem por onde começar a aprender, e quando encontra as primeiras informações, fica sem saber como aplicar isso no trem em movimento que é a empresa onde ela trabalha.
Em 2024, ESG completa 20 anos, mas só agora, como diriam minhas filhas, ele está passando pelo Glow Up! As pessoas estão vendo ESG, falando de ESG, fazendo ESG. Assim como, na área tecnológica o padrão XML veio para ficar, o ESG veio para sacudir e abrir espaço nas ações de todas as empresas que planejam crescer e deixar algum legado.
Primeiro, gostaria de frisar que há novidades no tema. E (Enviromental) de ambiental, S (Social) de social, G (Governance) de governança são temas que rondam nossa vida há anos. A diferença é que agora eles caminham juntos, com mais clareza, intensidade e intencionalidade. À medida que você for aprendendo mais, sobre o(s) tema(s) ESG, vai percebendo que no fundo, o plano é fazer o que a gente já sabia que deveria ser feito.
Segundo, assim como XML veio para ficar, o ESG também. Esperar mais um pouco pra ‘ver no que vai dar’ pode não ser a melhor estratégia pra quem não gosta de perder o bonde. Não é modinha, aceita duma vez, respira fundo e segue a gente pra acelerar o aprendizado sobre o assunto.
As mudanças climáticas, a pobreza e desigualdades, a corrupção generalizada tem sido percebidas e tem afetado o mundo todo de maneira geral há anos. Desde 2004, a turma do mercado financeiro foi provocada por Kofi Annan - então diretor geral da ONU - a fazer alguma coisa sobre estes assuntos. Porém, no meu singelo ponto de vista, o maior desafio que estas empresas que foram desafiadas tem é: a inércia capitalista.
Pense que todas as empresas, nascidas no capitalismo, têm o lucro acima de qualquer coisa. E mesmo com a chegada do ESG - diante dos desafios ambientais, sociais e de governança - as metas para tal não mudaram. Ou seja, as empresas seguem fazendo o que sempre fizeram, com as mesmas metas agressivas de produção e venda, e ainda assim, querem trazer questões ESG para dentro de casa.
Se você está chegando agora ao tema, e trabalha numa empresa com metas agressivas rumo ao lucro, ele pode soar como algo impossível, inviável, incabível ou ainda como algo de mentira, de fachada. Tem sido realmente assim para muitos negócios. Segue tudo igual, sem mudança estrutural nenhuma, sem abrir mão de absolutamente nada e nem perder absolutamente nada, diante de alguém que vai tentar sugerir ações ambientais, sociais ou de governança. E, sem dinheiro nenhum,esta pessoa precisa provar que tudo, ali dentro, mudou.
Recomendados pelo LinkedIn
Eu queria conseguir ser da turma que compra pipoca pra assistir esse circo de pseudo mudanças, mas, não tenho estômago pra isso! Montei uma startup para efetivamente pegar na mão das empresas e começar a jornada de mudanças de forma paulatina e eficaz, pelo menos no S do ESG, apresento a vocês, a @Paresi.
O plot Twist deste cenário caótico de “temos que fazer ESG” versus “precisamos lucrar mais do que nos anos anteriores” são as pessoas. Por trás de cada departamento que tem que bater meta, tem sempre uma pessoa, pelo menos uma, que está muito incomodada com as questões ambientais, sociais e/ou de governança. Tem alguém sugerindo apagar as luzes ao sair do ambiente, tem alguém recolhendo doações para presentes de natal, tem alguém apresentando um processo novo para governança da empresa. Bora encerrar este primeiro artigo da série dizendo que, se você quer mergulhar pela primeira vez no tema, de uma forma mais profunda, montamos um Curso Básico de ESG gratuito - que tá com uma avaliação bem boa, ou seja, as pessoas que tem feito tem curtido o conteúdo - e pode ser uma bela forma de começar a entender mais deste cenário.
Nestes últimos 20 anos tentaram jogar para debaixo do tapete a necessidade latente de mudar a lógica do mundo. Não só em questões ambientais, sociais e de governança, mas também a própria lógica capitalista, o acúmulo de riquezas, a redução de desigualdades, a inclusão produtiva e diversos outros temas cada vez mais fortes e mais pertinentes, o ESG vem como uma sugestão linear de mudanças. Um norte, um farol. O plano é olhar para dentro, de nós mesmos, e de nossos negócios, e entender por onde queremos começar. Entendendo que toda decisão gera uma renúncia, precisamos estabelecer ao que cada um de nós vai renunciar (às vezes cotidianamente), em prol de algo que está além dos nossos umbigos. Igualmente ao que nossos negócios vão renunciar, em prol de deixarem um legado transformador na sociedade que os consome.
Não tem como implantar ESG sem deixar algo para trás. Sem abrir as portas para o novo. Isso inclui repensar (pré) conceitos, repensar ganhos materiais, repensar metas e objetivos. Ouvir novas vozes, conhecer novas maneiras, reinvestir o dinheiro, colher no longo prazo, incluir o excluído, lutar pra ser ouvido, ouvir o silenciado e realmente por a cabeça no travesseiro no final do dia com a certeza de que, finalmente, estamos trabalhando de forma justa neste planeta.
A jornada é longa, senhoras e senhores, moças e rapazes, meninos e meninas, mas nós somos a geração convocada para iniciarmos esta caminhada. E então, vamos?
Jornalista e Artesã | MBA em Gestão com ESG | Relações com comunidades vulneráveis
1 aGeovana Conti sou sua fã 🤜🏿