Farewell "Indústria Brasileira"

Muitas vezes as coisas acontecem muito rápido e uma mentira é dita tantas vezes que acaba virando verdade, por isso nunca podemos deixar de lado nosso senso crítico e a nossa capacidade imparcial de avaliação. Essas são as melhores ferramentas que temos para criar nossas próprias conclusões.

Antes de mais nada, quero deixar claro que esse texto não tem nenhum objetivo eleitoral. Todos os dados/gráficos apresentados aqui foram retirados do WorldBank (www.worldbank.org) e compilados por mim. Esses dados são de domínio público e facilmente tratáveis, uma vez que o Banco Mundial já os disponibiliza em formato Excel. Seria muito hipócrita da minha parte dizer que também não tem cunho político. É óbvio que tem. Porém me esforçarei o máximo para passar essa discussão política da forma mais saudável e menos invasiva possível. Meu desejo de fato é apenas motivar a discussão apresentando alguns dados de uma maneira um pouco mais ponderada para que possamos avaliar com calma e criar a indignação necessária para rir das mentiras que são ditas em rede nacional.

Acho que todos nós concordamos que se tivéssemos no Brasil um estoque infinito de madeira, seria muito mais interessante encher o país de faculdades e cursos técnicos de marcenaria para exportarmos móveis ao invés de exportarmos diretamente madeira para depois importar os móveis, certo? Não! Errado. Infelizmente nossa atual política prefere exportar a madeira para depois importar os móveis prontos.

Nós temos uma das maiores reservas do mundo de minério de ferro (e grandes reservas de metais nobres como Niquel, Zinco, etc) e uma das indústrias siderúrgicas mais decadentes do planeta. Conseguimos chegar ao ponto de importar até aço laminado mesmo que sejamos um dos maiores exportadores de minério de ferro do mundo. É industrialmente inaceitável que nossa politica tributária inviabilize o beneficiamento do minério aqui de tal forma a tornar o país autônomo no consumo de aço (seja fundido, forjado, laminado, etc).

Nesse momento apresento abaixo a variação do preço das ações da Gerdau e da Usiminas, compiladas percentualmente nos últimos 5 anos, para que tiremos nossas próprias conclusões do que foi feito da Siderurgia aqui na “pátria amada”:

Figura 1: Variação percentual das ações da USIMINAS e da GERDAU nos ultimos 5 anos

E infelizmente esse fenômeno não está ligado somente ao mundo do aço. O que existe é um processo lento mas gradativo de diminuição das exportações de bens manufaturados, ou seja, a conhecida desindustrialização.

Eu sei que podemos viver numa bola isolada e tentarmos desenvolver a indústria nacional exclusivamente voltada para o mercado interno. O maior professor de todos os tempos, a História, nos ensina que isso é perda de tempo.

Para mostrar o efeito da diminuição sensível de bens manufaturados, apresentamos o gráfico abaixo:

Figura 2: Percentual de bens manufaturados sobre o total de exportação

Acredito que o gráfico seja auto-explicativo. Porém é muito complicado fazer a comparação com os países lá de cima. Vamos detalhar o fenômeno aqui. É claro que o ideal é tentarmos nos aproximar dos países de cima ao invés de namorarmos com os níveis de potências industriais como a Argentina. Gostaria de apontar apenas o patamar que a Coréia do Sul atingiu. Notem que anos atrás as pessoas mal sabiam diferenciar as Coréias uma da outra. Hoje, muitos de nós, temos carros coreanos, aparelhos de televisão de tecnologia coreana ou mesmo celulares de tecnologia coreana. Por que não pesquisamos o que foi feito lá e tentamos fazer alguma coisa parecida aqui?

Apresento agora, um detalhamento do gráfico acima:

Figura 3: Percentual de bens manufaturados sobre o total de exportação / Brasil

Concordemos que é absolutamente óbvio o que está acontecendo. Porém o mais preocupante é que esse índice em particular tem uma inércia muito grande. Quanto mais para baixo ele for, mais lento será a sua volta para os níveis superiores. E antes que alguém venha me dizer que estou proclamando a volta dos militares, digo que não é verdade. Precisamos apenas direcionar a politica industrial para uma situação minimamente razoável. O pior de tudo isso é ouvir de alguns entendidos do assunto que diminuir IPI para os carros e para a linha branca é investir na indústria.

Um outro assunto que está sendo muito mal tratado ultimamente, assunto esse que tem influência direta no desenvolvimento industrial do país, é a chamada inflação. As politicas de combate, recessão, arrocho salarial, etc não estão no programa desse texto. Apresentarei apenas os dados para discutirmos em cima de informações claras. Notem que inflação, do ponto de vista teórico, é um cálculo bastante relativo. Usarei novamente os dados do Banco Mundial. Podem existir pequenas variações em relação a outros métodos de cálculo, porém conceitualmente a curva é a mesma.

Figura 4: Inflação anual nos últimos anos

Parece ridículo mas não é: a escala do gráfico acima é logarítmica e está em percentual. Isso mesmo: 20 anos atrás a inflação passava dos 1000%. A comparação com a Alemanha é a Coréia é apenas ilustrativa. Vamos detalhar melhor o nosso caso.

Figura 5: Inflação anual nos últimos anos / Brasil

Acrescento apenas que em 1995 a inflação registrada pelo Banco Mundial (com dados do FMI) foi de 66%.

Independente das referências aos presidentes, é fácil notar pelo perfil da curva a partir de 2009 que estamos entrando em um patamar desconfortável de crescimento monotônico. Eu extrapolei 2014 para 7% que é muito provavelmente o valor que vá ser medido como inflação oficial desse ano. Fica claro pelos dois conceitos já apresentados que do ponto de vista industrial/econômico não estamos em uma direção sustentável.

Por último gostaria de apresentar alguns comentários sobre o PIB. Vamos primeiramente apresentar dados para discutirmos em cima de algo palpável.

Figura 6: PIB / Países da América do Sul

Da definição oficial do site do WorldBank: Annual percentage growth rate of GDP at market prices based on constant local currency. Aggregates are based on constant 2005 U.S. dollars. GDP is the sum of gross value added by all resident producers in the economy plus any product taxes and minus any subsidies not included in the value of the products. It is calculated without making deductions for depreciation of fabricated assets or for depletion and degradation of natural resources.

Resumo das várias curvas da figura 6: o Brasil é o verde que em 2013 está por último. E agora cabe a comparação com todos os países apontados, afinal estamos com um nível de crescimento inferior a todos os nossos vizinhos. Vamos detalhar novamente o gráfico para melhorar a visualização:

Figura 7: PIB / Países da América do Sul / Últimos 5 anos

Esse gráfico compara o último ano do Lula com o mandato da atual presidente. Ou seja, o país foi entregue com 7,5% e a partir de 2011 (em um fenômeno de crise mundial que só ocorreu aqui) fomos caindo. Nota de sinceridade: não coloquei o crescimento de 2014 para não ficar ridículo.

Eu acredito e reconheço os avanços significativos que o país, através de seus governantes, alcançou em outras áreas. Tenho certeza de que muitas coisas estão caminhando com “curvas” rumo aos países de fato desenvolvidos(*). Porém gostaria de compartilhar esse texto para que reflitamos sobre o que está acontecendo em algumas áreas fundamentais e que não está sendo discutido com o carinho e atenção que merece.

(*) Recado genérico ao discurso populista: País desenvolvido não é aquele que todo mundo tem carro porque podemos financiar em 10 anos. País desenvolvido é aquele que a pessoa que pode ter quantos carros quiser, usa transporte público.

Augusto Barbosa

Head Comercial | Diretor Comercial | Diretor Marketing | Especialista em GTM & RTM | Inteligência Mercado | Gerente Nacional | Inteligência Comercial | CX | Trade Marketing | Planejamento Estratégico

10 a

Excelente material. Muito bom!

Julio Faustino

Lead Mechanical Engineer - Mining and Metals

10 a

Any added value industry in Brazil these days are an aberration considering the country challenges and intrinsic difficulties to produce anything to compete in a global market. For Steelmaking it is an interesting case, if you compare Brazil and Australia (both the largest producers of Iron Ore), to imagine both countries turning to start adding value (making steel to export) rather than just lower cost Ore, Brazil would also lag plentiful and its own access to Metallurgical Coal and Power as said. It makes more sense these days for any company to open a Steelmill in North America or Australia as these 2 raw resources (both Coal and Power). are locally available and cheaper than in Brazil.

Eng. Osvaldo B. Melo

Consultor, Engenheiro, Analista, Coordenador e Supervisor

10 a

Acredito que não é possível esta aproximação Ricardo, pois provavelmente você será rotulado como "arrogante" ou "exibido" pelos seus contatos. Acho que esta separação "Social Leisure" e "Social Work" é o melhor caminho para manter os ambientes social e profissional calmos.

Ricardo Polisel Alves

Tech Strategy & Advisory Latin America | Tech M&A

10 a

Brilhante o seu texto, Renan! Bravo!! Posso dar "share" na minha taimelaine do Face - pra inserir um pouco de inteligência lá também? :-)

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