2025 pode trazer estabilização ou ligeira redução nos preços do gasóleo
Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, crê que a descida do Brent e os esforços para ampliar a oferta de gasóleo na Europa podem levar a uma estabilização ou ligeira redução nos preços em Portugal
Que balanço podemos fazer do mercado de combustíveis em 2024?
Como principal commodity energética, a cotação do petróleo, em particular do Brent, principal referência global, manteve-se relativamente estável ao longo do ano, oscilando entre mínimos próximos de 70 dólares por barril e máximos alcançados acima de 90 dólares por barril. Os picos registados em março e abril foram impulsionados por fatores conjunturais, como tensões geopolíticas e decisões estratégicas da OPEP+ para restringir a oferta. No entanto, a tendência de descida na segunda metade do ano refletiu uma desaceleração económica global, sobretudo na Europa e na China, dois grandes consumidores de energia.
E em Portugal?
Por cá os preços dos combustíveis acompanharam as variações do Brent com o atraso habitual. No entanto, a partir de setembro, a relação entre o Brent e os combustíveis foi negativo. Mas entre agosto e setembro, os preços dos combustíveis começaram a subir, mesmo com o Brent a manter-se estável nos valores próximos dos mínimos.
Este comportamento pode ser explicado por vários fatores específicos do mercado europeu e português. O principal fator foi a valorização do dólar face ao euro nos últimos meses. Como o petróleo é cotado em dólares, a depreciação do euro aumentou o custo de importação, mesmo sem alterações significativas na cotação do Brent. Adicionalmente, os preços dos combustíveis em Portugal incluem custos de refinação, transporte e uma carga fiscal elevada, o que amplifica os impactos cambiais.
Outro fator relevante foi a dinâmica interna de oferta e procura, com o regresso sazonal da atividade económica no outono a pressionar eventualmente os preços. Este desfasamento entre a evolução do Brent e dos combustíveis é típico de mercados como o português, fortemente regulamentados e sujeitos a impostos elevados, bem como as políticas energéticas europeias que incluem taxas de carbono e estímulos à transição energética.
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E o que podemos esperar de 2025?
A continuidade das incertezas geopolíticas, aliada à possibilidade de novas decisões da OPEP+, pode sustentar alguma volatilidade nos preços em 2025. Com as perspetivas de desaceleração económica, o Brent poder-se-á manter em níveis moderados, entre os 70 e os 80 dólares /barril, especialmente se a procura global continuar enfraquecida.
Em Portugal e no que concerne aos combustíveis, a descida do Brent e os esforços para ampliar a oferta de gasóleo na Europa podem levar a uma estabilização ou ligeira redução nos preços do gasóleo. No entanto, a gasolina, mais sensível às taxas de carbono e regulamentações ambientais, pode manter-se a preços mais elevados. A transição para veículos elétricos e híbridos poderá reduzir a sensibilidade dos consumidores às flutuações do petróleo, mas o impacto total ainda será gradual.Mais há riscos e oportunidades para o próximo ano.
Quais?
Uma recessão global poderia pressionar os preços do Brent ainda mais para baixo, favorecendo os consumidores. Por outro lado, restrições no Médio Oriente ou restrições na oferta podem inverter rapidamente essa trajetória, elevando os custos para os consumidores finais.
Mas, de forma geral, 2025 deverá ser marcado pela transição energética, mais ou menos acelerada, dependendo sobretudo do crescimento económico, em que os preços dos combustíveis tradicionais continuarão a ser relevantes, mas cada vez mais pressionados pela regulação e mudanças no comportamento do mercado.
E como vê a questão da pressão de Bruxelas para que Portugal acabe com os apoios aos combustíveis?
A União Europeia pressionou os Estados-membros a eliminarem subsídios aos combustíveis fósseis para cumprir as metas do Acordo de Paris. Embora necessário, este movimento é politicamente sensível, especialmente num contexto de crise energética e económica.
Para Portugal, o desafio é equilibrar a redução dos apoios com políticas que protejam os mais afetados, como agricultores e transportadoras, bem como famílias mais vulneráveis. Contudo, o país tem um forte potencial para liderar a transição energética, com recursos abundantes em energias renováveis, como solar, eólica e hidrogénio verde. A chave será canalizar receitas de impostos de carbono para transferências destes setores e mitigar impactos sociais.