24 de março
Em 24 de março de 1966 entrava no ar a TV Globo São Paulo, uma emissora pertencente ao grupo de comunicação iniciado pelo jornalista Irineu Marinho, que ao longo do tempo cresceu e se fez presente em todos os meios (jornal, rádio, TV, revista e agência de notícias). A corporação ultrapassou as fronteiras do Brasil, tornando-se conhecida e respeitada em todo o Mundo.
Irineu Marinho Coelho de Barros nasceu em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, em 1876. Foi filho exemplar e aluno aplicado. Estudou no tradicional colégio William Cunditt, do professor escocês de mesmo nome. Apaixonado por livros, Marinho fundou o Grêmio Literário Sílvio Romero. Como gostava de literatura, também criou dois jornais, "O Ensaio" e "A Pena".
Mais tarde, foi para o Liceu de Humanidades de Niterói. Nessa época, passou a escrever regularmente no maior jornal do estado, com sede em Niterói, "O Fluminense". Tempos depois, foi morar do outro lado da Baía de Guanabara, em terras cariocas. Arrumou emprego de revisor no "Diário de Notícias", onde escrevia Rui Barbosa. Marinho foi de repórter a diretor de Redação, em carreira de muito aprendizado.
Em 1903, casou-se com Francisca Pisani, "Dona Chica", e tiveram seis filhos: Roberto, Heloísa, Ricardo, Hilda, Helena (falecida com pouco mais de um ano de idade) e Rogério. Trabalhava duramente, em média 15/16 horas por dia, para manter a família e educar os filhos. Depois do "DN", foi para o "A Notícia", agora convivendo ao lado do poeta Olavo Bilac e do dramaturgo Arthur Azevedo, ambos também jornalistas.
Irineu Marinho, sempre foi um profissional combativo. Fez a defesa de causas de interesse coletivo e nacional. Corajoso crítico do sistema, combateu os "coronéis" da economia e da política. Enfrentou os primeiros trustes internacionais que chegaram ao Brasil, entre os quais a Brasil Railway Co. e a Lumber Corporation. A primeira construindo e mantendo ferrovias, a segunda, sua subsidiária, explorando madeira e terras marginais das estradas de ferro, ambas empregando métodos pouco ortodoxos.
Em 1911, o jornalista Irineu Marinho, tornou-se sócio de um veículo de comunicação. O primeiro jornal vespertino do Rio de Janeiro, "A Noite" registrava em seu capital social 25 contos de réis de Marinho. Segundo informações de então, esse dinheiro teria sido emprestado por amigos. O jornalista, agora também empresário da comunicação, tornou-se vítima da esperteza de seus desafetos. Em 1913, a Brasil Railway, "planta" um representante secreto na sociedade do "A Noite": Geraldo Rocha.
Quando da revolta do Forte de Copacabana, em 1922, no Rio de Janeiro, denominada "Os 18 do Forte", ação político-militar pioneira do Movimento Tenentista, Marinho se mostrou favorável ao levante. Os revoltosos defendiam ideais positivistas, na sua maioria pertenciam às forças armadas, lutavam por uma política democrática e se posicionavam contra o governo e o sistema econômico oligárquico, então concentrado nas mãos das elites agrárias. Em consequência de seu posicionamento, Marinho acabou preso por quatro meses.
Em 1924, abatido pelo que havia sofrido, Marinho saiu em férias com a família, viajou para a Europa. Adepto da teoria de que trabalhando se descansa ainda mais, procurou conhecer novas técnicas de impressão e equipamentos gráficos. Na sua ausência, o "laranja" da Brasil Railway, Geraldo Rocha, convoca uma assembleia de acionistas e aumenta o capital do jornal. Tal golpe, deixou Marinho acionista minoritário, o que acabou por tira-lo da empresa que fundara.
Em 1925, Irineu cria seu próprio veículo de comunicação, "O Globo". A primeira edição do jornal, que se tornaria um dos mais importantes da América do Sul, foi às bancas em 29 de julho daquele ano. O sonho nem havia vivido a realidade do primeiro mês, e Irineu Marinho morre de um enfarto. Seu primogênito, Roberto, responsável como o pai, entregou o comando do jornal a Euricles (assinava Evrycles) de Matos, experiente jornalista e poeta baiano. Em 1931, com a morte de Euricles, um Roberto Marinho já mais experiente assume o controle de "O Globo". Sob os exemplos do pai, cria um dos maiores e mais respeitados grupos de comunicação do Planeta, com emissoras de rádio e TV, jornais, revistas, editora, programadora de canais, publicidade, produtora de cinema, gravadora, agência de notícias, eventos, pesquisa; sem falar da Fundação Roberto Marinho – responsável por relevantes investimentos em educação, cultura, patrimônio histórico e meio ambiente.
Hoje, seus filhos dirigem lado a lado com executivos a corporação, chamada de "Vênus Platinada". Esse apelido tem origem no que aconteceu após o incêndio, em 1976, quando a fachada do novo prédio – por ideia de José Bonifácio de Oliveira (Boni) e Hans Donner, o genial designer – foi pintada de prata. Ficou resplandecente como pretendia a programação da emissora, reconhecida por qualidade e premiada no Brasil e no Exterior. A Globo está entre as cinco maiores emissoras de televisão do Mundo.
Hoje, a TV Globo São Paulo comemora 54 anos. Junto com a TV Globo Rio de Janeiro e cerca de 120 emissoras, entre próprias e afiliadas cobrindo todo o Brasil. Oferece um jornalismo ágil e corajoso, como sempre foram os seus idealizadores: Irineu e Roberto Marinho. Tenho orgulho de ter trabalhado no grupo, no jornal, nas rádios Excelsior e CBN e na TV Globo.
Ricardo Viveiros