27 de novembro
Você já observou que nesta época do ano, todo mundo fica "bonzinho". É um clima que toma conta das pessoas, que pega cada um de nós pelo coração sem deixar outra saída que não a da paz e amor.
Mesmo aquelas pessoas mais pessimistas, amarguradas, rancorosas, antipáticas — até os crônicos "mal amados" —, todos acabam de alguma forma deixando escapar um sorriso, uma demonstração de amizade, uma palavra de esperança às vésperas do Natal. Ninguém resiste às luzes, às cores, à euforia das crianças, à certeza de que será lembrado com um presente ou mensagem, por mais simples que seja.
Porque Papai Noel existe. E acontece como no belo poema de Paulo Leminski, onde o barro toma a forma que você quiser e você mal sabe estar fazendo apenas o que ele quer. Em cada novo Natal nos tornamos um "bom velhinho", mesmo que sem ter sua altura, peso, olhos azuis, bochechas vermelhas, barbas brancas e cantar o tradicional "ho, ho, ho". Mesmo que sem vir da Finlândia, cruzando o céu em um trenó puxado por renas.
Papai Noel é, na verdade, mais uma ideia inteligente criada para que o nascimento do Menino Jesus possa penetrar nos corações daqueles que ainda não descobriram que Ele, a cada Natal, renasce para trazer sua imprescindível mensagem de amor à humanidade. Você não percebe, mas durante todo o ano Papai Noel está pelas ruas do seu bairro, da cidade, do País. Ele é muito esperto, gosta de se disfarçar para sentir na própria alma se cada uma das pessoas que ele tanto ama, e das quais ele espera permanentes gestos positivos, está levando a sério, praticando seus ensinamentos.
Papai Noel muitas vezes se disfarça de catador de papéis (ri das suas renas disfarçadas de cachorros, mas se condói com a indiferença de tantos); de jardineiro (sofre vendo a natureza ser maltratada); de gari (quando percebe que o desperdício de uns, falta para outros); de enfermeiro (quando confirma que a dor iguala pobres e ricos); de professor (imagina um mundo mais justo pela oportunidade do saber). Papai Noel é assim, negro, branco, amarelo, vermelho, mestiço e presente em todas as partes, em diferentes momentos de nossas vidas.
Presentes que têm muito mais valor do que qualquer bem material sonhado por nós, Papai Noel pode trazer. Tem muita gente precisando de um consolo pela perda de um ente querido, uma palavra de esperança na doença, um abraço carinhoso que tire a solidão, um simples obrigado a quem tanto deu de si, um estímulo para os inseguros. Até um alerta para os que insistem em não acreditar na força do amor.
Este ano, que já foi tão difícil para o Mundo, vamos deixar que o clima de Natal entre, de verdade, em cada um de nós. Nada de dar esmolas no semáforo, nada de dar "caixinha" para quem tem emprego e apenas cumpriu a sua obrigação trabalhando como você, nada de comprar os mesmos presentes de sempre para as mesmas pessoas apenas pela "obrigação". Muito menos enviar mensagens do tipo "Feliz Natal. Próspero Ano Novo." Não!
Vamos inovar, vamos entender que alguém solidário, bom e preocupado conosco criou, num passado remoto, simbologias religiosas ou não, mas que atravessaram milhares de anos e servem para nos trazer felicidade. Vamos "ser" o Menino Jesus ou o Papai Noel, exercendo o que eles realmente representam para a humanidade: paz, amor e fraternidade. Vamos olhar na alma de nossos semelhantes e lhes oferecer o que temos de melhor: nosso sincero desejo de uma vida melhor.
Vamos levar aos que estão sofrendo, seja na doença, solidão, desamparo ou falta de esperança, uma palavra, um gesto de carinho, um sincero presente que lhe traga alegria de viver. Nada de ser "bonzinho", vamos ser justos e solidários.
Ricardo Viveiros