#3 - Planejamento Estratégico: Por que Muitas Estratégias Fracassam?

Nos textos anteriores eu busquei tratar de dois dos motivos mais comuns da falha na execução do planejamento estratégico: 1 – Distância entre a estratégia e a Operação (Link Aqui) e 2 – Falha na comunicação da estratégia (Link Aqui).

Neste texto eu pretendo lançar luz sobre outro aspecto realmente preocupante e sobre o qual eu já vi muitas empresas errarem feio: A falta de capacidade de executar a estratégia.

Como sabemos, muitas organizações veem seus planejamentos estratégicos falharem, e as razões vão além de ideias fracas ou metas irreais. Grande parte dos insucessos pode ser atribuída à falta de recursos adequados e limitações na capacidade de execução, incluindo tanto as capacidades individuais dos colaboradores quanto as capacidades físicas e estruturais da própria organização.

1. Quando os Recursos Humanos não são levados em consideração

Os recursos são o combustível de qualquer estratégia eficaz, e alocá-los corretamente é essencial para o sucesso. Empresas que falham em direcionar recursos para as áreas críticas, como o caso da Circuit City, uma grande rede varejista norte-americana especializada em artigos de informática e eletrônicos e foi pioneira no formato de superloja de eletrônicos na década de 1970.

No esforço de contornar desafios financeiros, a empresa, ao invés de revisar aquisições arriscadas que havia feito nos últimos anos tentando ampliar sua rede de lojas, optou por eliminar sua equipe de vendas experiente, um recurso fundamental para a prestação de um atendimento especializado ao cliente. Basicamente ela havia demitido aproximadamente 3.400 colaboradores mais bem pagos e iria contratar outros ou recontratar com salários mais baixos baseados no mercado.

O resultado foi a perda de uma grande vantagem competitiva que sempre a colocou em destaque, afetando a sustentabilidade e imagem da marca que anunciou sua falência em janeiro de 2009. Quando definitivamente fechou as portas mais de 30.000 funcionários perderam seus empregos.

Claro que outros erros foram cometidos e mesmo a marca em si foi ressuscitada anos depois, mas este foi um aspecto que marcou bastante a história dessa rede de superlojas.

Para evitar esse tipo de falha, é essencial entender quais funções são críticas para a estratégia e como apoiá-las com recursos adequados.

Richard Simons, em Strategy Execution, recomenda o uso da ferramenta JDOT (Job Design Optimization Tool) para identificar o equilíbrio entre demandas e recursos, ajustando cargos e papéis para garantir que quem exerce maior impacto tenha a autonomia e o apoio necessários.        

Existem outras abordagens, mas o que deve ficar muito claro aqui é que ao realizar um planejamento estratégico é preciso avaliar também de que forma as pessoas colocam aquela estratégia para funcionar e quais competências, conhecimentos e habilidades já são patrimônio da empresa e suas áreas e quais outras precisam ainda ser adquiridas e consolidadas para que a estratégia não venha a falhar.

2. Capacidade Física e Estrutural: O Suporte Necessário para Colocar Planos em Prática

Além de garantir a competência individual dos colaboradores, a capacidade de execução depende fortemente da infraestrutura física da empresa e de seus recursos materiais e tecnológicos. Estratégias ambiciosas, como expansão de mercado ou inovação de produtos, exigem mais do que apenas pessoal qualificado; elas pedem instalações adequadas, tecnologia moderna, sistemas logísticos e processos operacionais robustos.

Por exemplo, uma estratégia que demanda altos níveis de produção deve considerar a capacidade de sua planta e o estado dos equipamentos. Se a infraestrutura for insuficiente ou inadequada, isso criará um gargalo que impedirá a estratégia de progredir. Além disso, a organização deve avaliar se possui acesso a insumos e redes logísticas capazes de sustentar o plano.

A análise da capacidade física da empresa envolve:

• Avaliação das Instalações: As plantas, os escritórios e as demais instalações da empresa devem estar adequadas às demandas do plano.
• Tecnologia e Sistemas: Ferramentas e sistemas devem estar atualizados para facilitar a execução eficiente e a integração das áreas.
• Logística e Cadeia de Suprimentos: Redes logísticas precisam estar preparadas para suportar aumentos na demanda ou mudanças de distribuição.
• Capacidade de Expansão: A infraestrutura deve permitir adaptações rápidas a demandas variáveis sem prejudicar a continuidade dos serviços.

Ou seja, quando olhamos o panorama geral fica claro que é preciso ter esse duplo olhar sobre a capacidade de execução da estratégia: recursos e uma infraestrutura física adequada são fundamentais, mas também é vital capacitar e responsabilizar os profissionais. Mesmo com os recursos certos, uma estratégia falhará se os colaboradores não estiverem adequadamente treinados ou se lhes faltar clareza sobre suas responsabilidades.

Simons destaca a importância de compreender as “esferas de controle, apoio e influência” de cada cargo, mas essa abordagem deve ser complementada com uma visão ampla da capacidade física. Ao desenhar funções com suporte e alcance adequados e ao assegurar que a infraestrutura e os sistemas estejam prontos para o desafio, as empresas podem fortalecer a execução da estratégia de forma robusta e coordenada.

A pergunta que fica para hoje é: Será que sua empresa está realmente pronta para executar a estratégia, tanto do ponto de vista de pessoas como de capacidade física?        

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