4 de 23 metas do GBF têm a alimentação como foco #csa1
Foto: divulgação

4 de 23 metas do GBF têm a alimentação como foco #csa1

O Global Biodiversity Framework (GBF), Quadro de Biodiversidade Global de Kunming-Montreal, em tradução livre, trouxe à tona metas audaciosas para a proteção da biodiversidade, incluindo quatro delas especificamente sobre a alimentação, embora direta ou indiretamente todas estão correlacionadas com a segurança alimentar dos próximos anos. 

O acordo foi assinado na COP-15 por 188 governos. 

Resumo da COP-15

Enquanto muitas pessoas estavam de olho na Copa do Mundo, outro evento entrava em campo: A 15ª Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (COP-15) que aconteceu em Palais des Congrès, em Montreal (Canadá), de 7 a 19 de dezembro. 

Por lá, 188 governos buscaram emplacar 4 objetivos e 23 metas entre 2030 e 2050. Em partidas de futebol, dois times jogam e apenas um vence, as decisões da COP-15 demonstram que o pior adversário da biodiversidade é a própria humanidade, sendo ela também a responsável por minimizar os efeitos da exploração do meio ambiente. Se perder esse jogo, coloca em risco a própria existência e não uma taça dourada. 

Destaque para o 30x30

As mudanças climáticas são questionadas pelos chamados negacionistas. No entanto, as perdas significativas da qualidade do solo, da água e do ar, por exemplo, já afetam a fauna/flora, a temperatura da Terra, os avanços das desertificações, entre outros problemas ambientais, a ponto do planeta não ter mais biocapacidade em suprir as necessidades de consumo dos humanos. 

Nas metas 2 e 3, destaca-se recuperar 30% das áreas terrestres, marinhas e de água doce que foram degradadas e conservar 30% desses serviços ecossistêmicos até 2030, respectivamente.

4 objetivos estabelecidos no GBF até 2050

Não é coincidência que 2050 e 2030 tenham tantos acordos, metas e objetivos, além dos estabelecidos pelo GBF. De agora até 2030/2050 ainda é possível reverter os avanços das mudanças climáticas, tornando-se irreversíveis depois disso, se todos os países não agirem agora, como cita a Avaliação de Riscos das Mudanças Climáticas

Nesse sentido, e especificamente sobre a biodiversidade, ficou estabelecido os seguintes quatro objetivos globais:

  1. Aumentar as áreas de ecossistemas naturais até 2030, com redução de 10x as taxas de extinção de espécies ameaçadas, bem como aumentar o número de espécies selvagens e nativas.
  2.  Utilizar a biodiversidade de forma sustentável e apoiar um desenvolvimento sustentável até 2050. 
  3. Proteger o conhecimento tradicional e de povos indígenas/comunidades locais, alinhando o compartilhamento dos benefícios monetários e não monetários de recursos genéticos. 
  4. Facilitar o acesso e transferência de tecnologia para estrutura da biodiversidade global, além de mais recursos financeiros, capacitação, cooperação técnica e científica. 

O ponto-chave da discussão é: Como vão cumprir com essas metas? 

A busca por soluções que protejam a biodiversidade é antiga e muitos dos acordos entre países são perfeitos no papel, mas não saem dele. 

Um exemplo é Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, que aconteceu em 1992, e já tinha metas parecidas. No entanto, pouco se fez em prol do meio ambiente nos últimos 30 anos, a ponto de ter que pressionar os países a agirem efetivamente.


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Fonte: Dicionário Priberam

O que prometem sobre a alimentação até 2030 e 2050

Além dos quatro objetivos, também foram estabelecidas 23 metas que abrangem todos os aspectos sociais, econômicos, financeiros e ambientais para a proteção da biodiversidade. Entre elas, a alimentação e combate à pobreza são pautas urgentes, seja porque o atual sistema de produção dos alimentos é ineficiente, seja pelo aumento do grau de insegurança alimentar que causa fome mundo afora. 

As metas que descrevem ações para a alimentação diretamente são as 7, 10, 14 e 16. 

Meta 7

Principal: reduzir a poluição de todas as fontes até 2030.

Secundários: 

• reduzir pela metade o uso de pesticidas e produtos químicos altamente perigosos.

• combater as pragas com base na ciência.

• reduzir a poluição plástica.

• reforçar a segurança alimentar. 

Até pode parecer que os tópicos sejam distintos, mas são complementares, na verdade. Atualmente, o uso indiscriminado de pesticidas afeta diretamente a biodiversidade e o controle de pragas. 

E a poluição plástica também é um grave problema ambiental, tanto aos animais quanto à segurança alimentar. 

Meta 10

Nesta meta a busca é por uma agricultura mais agroecológica, entre outras técnicas inovadoras para  produção de alimentos. 

O que, provavelmente, causará uma certa discórdia entre quem defende o Veganismo é também a prática da aquicultura, pesca e silvicultura na lista, pois existem as pessoas que defendem a não exploração dos animais. 

Meta 14

Já a meta 14 abrange:

• Estratégias para a erradicação da pobreza;

• Avaliações sobre os impactos ambientais;

• Alinhamento das atividades públicas e privadas em prol da integração da biodiversidade.

O Índice Global da Fome 2022 indica que quase 830 milhões de pessoas ao redor do mundo estão desnutridas e destaca ainda que "Diante da terceira crise global de preços de alimentos em 15 anos, é mais óbvio do que nunca que nossos sistemas alimentares atuais são inadequados para acabar de forma sustentável com a pobreza e a fome", bem como indica: 

"Todos os níveis de governo devem envolver atores e capacidades locais e promover estruturas locais fortes de tomada de decisão. Essa transformação só terá sucesso se comunidades, organizações da sociedade civil, pequenos produtores, agricultores e populações indígenas puderem usar seu conhecimento e experiência local para moldar a política alimentar."
Índice Global da Fome 2022        

Meta 16

Por fim, a meta 16 incentiva o consumo sustentável com políticas de apoio, leis, acesso à informação, educação e redução global do consumo excessivo. Aqui o destaque é para a redução do desperdício de alimentos em pelo menos 50% até 2030. 

E por que desperdiçar menos alimentos contribui com a preservação da biodiversidade? 

Porque de 8 a 10% dos Gases do Efeito Estufa (GEEs) são produzidos por alimentos que foram jogados fora, o que contribui diretamente com as mudanças climáticas e desequilíbrio ecológico. Além disso, os alimentos em aterros sanitários entram em estado de decomposição e liberam metano, que potencializa ainda mais os efeitos nocivos ao meio ambiente. 

Em suma, o acordo histórico é, ao menos, um registro das intenções de contribuir com a preservação da biodiversidade. Se serão cumpridas, apenas os próximos anos poderão responder. 

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