5 Ases no jogo: você não sabe porque perdeu?
Um dia você acordará inspirado e pensará: "Eu tenho que faturar mais". Seu ticket médio de consumo de cerveja diminuirá e você terá um incremento drástico no ticket gasto em farmácia. Sim, você será pai. Gastos com fraldas, remédios e noites em claro estão a caminho. Para pagar as contas do bebê que está a caminho, você terá que vender mais para manter a família feliz. Quanto ao sono, eu ainda estou procurando por ele.
Todo empreendedor tem seus rompantes de querer vender seus produtos ou novos produtos, para novos clientes, dominar o mundo com sua empresa e seus produtos. Isso é "padrão" no pensamento de todo empreendedor. Se você ainda não pensou em "dominar o mundo", provavelmente pensará. E quando falamos em todo o mundo, um dos temas que sempre vem à mente nesse processo é o nosso querido governo.
O governo é um cliente que tem todos os problemas multiplicados de um cliente complicado. Demora para pagar, tem multa se entregar atrasado, não sabe direito o que quer, e quando sabe, parece não saber. Compra mais caro do que deveria (porque não sabe comprar), inclui o frete no item, tem "amigos" para fornecer, etc... etc...
Então, em 2015, o empreendedor decidiu aumentar as vendas vendendo para o governo. Sonhar faz parte do processo, especialmente com as contas da farmácia chegando.
A primeira coisa que ele fez foi estudar, estudar e estudar novamente. Mas não é complexo, é muito complexo: SRP, pregão eletrônico, licitação, pregão presencial, edital, Comprasnet, Sicaf, UASG, etc.
Então, tudo pronto. Agora é só pegar uma licitação grande de R$1.000.000,00 e a meta do semestre foi atingida. Foi uma barbada, com os pés nas costas. As contas estão pagas, fraldas, leite em pó, mamadeira, tudo pago à vista. Igual a uma propaganda: "Sonhe que a Pepsi paga".
Uma procura detalhada revela um pregão eletrônico de 200 unidades de um produto com valor de mercado em torno de R$ 400,00, totalizando R$ 80.000,00 em um único produto. Claro, não é 1 milhão, mas já deixa qualquer um feliz da vida.
Começa a calcular os custos, preço de compra, frete, impostos, capital de giro (lembrando que o governo demora para pagar), IPI, etc. Tudo é calculado, pega o preço de referência e bingo, vai vender, vai dar certo, vamos faturar R$ 80.000,00. Feliz e cansado, vai para casa pensando na logística, como será feita para conseguir comprar e entregar. Dorme se sentindo um mega empresário com vasta experiência em vendas governamentais, até pensa em adicionar a experiência no LinkedIn.
Ao acordar, lembra que é melhor ler o edital completamente, e em papel é melhor. Pega o edital e imprime-o. Lá se vão 50 páginas impressas com regras, normas, leis, etc., mas é necessário. Após duas horas, chega na parte que trata do prazo de entrega e, sim, o chão desaparece dos seus pés. Sua vasta experiência se transforma em "conhecimento de Windows 95".
Lê novamente e pensa, está errado, não pode ser verdade. Bom, vou mandar um e-mail perguntando o que acontece se atrasar a entrega e se esta correto este prazo de 5 dias para entrega. Para a surpresa, a resposta é curta e grossa, está certo o que você leu, é assim mesmo. Se atrasar é multa e são 5 dias de prazo de entrega.
O Edital especificava que o prazo de entrega eram 5 dias úteis para entrega dos produtos licitados, depois da emissão da Ordem de Fornecimento. Você está pensando, sim, vai dar tempo.
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Não...não vai dar.
Fazendo as contas de cabeça, do interior do Rio Grande do Sul, para o interior de Minas Gerais, mesmo por entrega expressa, deve levar 5 dias ou mais se tudo correr bem. Mas quando que ocorre tudo bem com as entregas?
Não, melhor não.
O Problema: Manter os 200 itens do produto vendido por poucos fornecedores/importadores e de baixo giro, para entregá-los quando o governo quiser e se quiser, é assumir muito risco. Isso porque a compra do governo só é garantida depois da emissão da Ordem de Fornecimento, não quando você ganha a licitação. Além disso, há o risco de ficar sem o produto para entregar, ser multado ou inabilitado para outras licitações.
Dica: Antes de querer vender para o governo, confira se na sua cidade há onde apresentar os documentos no SICAF, pois em algumas cidades isso não é possível e será necessário deslocar-se para outra cidade.
O fato: O sonho foi água abaixo porque não teríamos condições de atender àquele prazo. O mais frustrante é que isso foi um direcionamento para alguém que é "amigo" e está próximo ao local da compra.
Existem negócios que não foram feitos para você ganhar, foram feitos para outros ganharem. Há cartas marcadas, gravem isto. Identifiquem as cartas marcadas e não percam tempo em jogos perdidos.
Publicado originalmente em 10 de março de 2016 no portal Ecommerce Brasil