#6 - “Contrarianismo” – a dor do bom desempenho
As últimas semanas não têm sido nada fáceis para o investidor brasileiro.
Na verdade, nem os últimos meses. E também não só para o investidor brasileiro.
Tanto por aqui quanto nos principais mercados financeiros do mundo, ações e ativos de risco, de maneira geral, têm sofrido quedas significativas e não tem sido nada fácil mantê-los na carteira.
Para completar, não faltam vozes e ofertas gritando para o investidor abandonar tudo e voltar para a renda fixa, que acaba de ultrapassar a fatídica barreira do “1% ao mês”.
“A renda fixa voltou!”
“Agora, é a hora da renda fixa!”
A vontade é de cair fora da bolsa e atender ao chamado tentador.
Não é mais ou menos assim?
Nós, do Clube do Valor, gerimos mais de meio bilhão de reais de centenas de clientes e sabemos muito bem como funciona o emocional de quem investe.
Não se trata apenas de clientes, mas de famílias e de histórias de vida. De propósitos e de objetivos. E também de emoções e anseios.
Por isso, fazemos nosso trabalho sempre com muita diligência e cuidado.
Sabemos o quão importantes são os resultados que entregamos para os objetivos dos nossos clientes. Sabemos também da importância da disciplina para o alcance de resultados acima da média.
E sabemos que os resultados superiores à média de mercado que objetivamos entregar aos nossos clientes só virão se soubermos como lidar com esse desconforto.
Hoje, eu pediria que você, nobre leitor(a) e investidor(a), colocasse um pouco de açúcar ou adoçante no seu café.
Com tanto desconforto que o mercado tem gerado ultimamente, você merece adoçar um pouco esse momento.
No Pain. No Gain!
Hoje, eu gostaria de falar um pouco sobre essa dor.
Mais do que isso, falar de como essa dor é parte inevitável de um processo de obtenção de resultados acima da média em investimentos.
E, por fim, falar também sobre como lidar com essa dor e diminuí-la o máximo possível, para que você evite sucumbir à tentação de fugir dela.
Afinal, só quem aprende a lidar com ela colhe os frutos e os louros de tê-la enfrentado.
Alcançando assim uma performance acima da média, que traz uma satisfação intensa e proporciona a tão sonhada tranquilidade financeira.
Vamos lá?
O mais importante para o investidor é ter um cinto de ferramentas. Entenda…
Para começar, gostaria de evocar novamente Howard Marks, autor de “The Most Important Thing” (“O Mais Importante para o Investidor” é o título da versão traduzida) e “Mastering the Market Cycle" (“Dominando o Ciclo de Mercado”, na versão traduzida), que citei semana passada.
Marks traz um conceito que ele chama, em inglês, de “contrarianism” (“contrarianismo”), ou seja, a prática de se ter uma posição contrária à maioria, oposta ao consenso de mercado.
Esse é um dos 20 itens mais importantes que ele sugere que um investidor de sucesso deve carregar no seu cinto de ferramentas.
Segundo ele, apenas um investidor que pratique o contrarianismo pode obter resultados diferentes da média do mercado.
Vou dar um exemplo.
Em meio à atual adoração da renda fixa, o “contrarianista” seria aquele que faria a seguinte pergunta:
“Mas e a renda variável? Não está ficando mais barata e atrativa também em função da mesma alta de juros que tanto atrai a manada nesse momento?”
É claro que, para alcançar o objetivo de obter resultados melhores do que a média de mercado, não basta simplesmente fazer tudo ao contrário do que a manada está fazendo.
Afinal, “resultado diferente” não necessariamente significa “resultado melhor”.
Além de contrariar o mercado, é preciso que se faça isso acertando quando o consenso está errado sobre algo.
Ser um "contrarianista'' não é simples.
Existem vários mecanismos que tornam difícil manter posições contrárias à do consenso de mercado.
O primeiro é que o ser humano, como já comentei aqui nessa coluna, é um ser social e, como tal, é influenciável por seus pares.
Se seu amigo contar para você que saiu da bolsa recentemente e comprou um CDB de 3 anos pré-fixado a 12% ao ano, você vai sentir vontade de fazer o mesmo.
O segundo mecanismo é que esse mesmo ser humano é um mestre em extrapolar o passado recente para o futuro distante.
Se as ações vêm tendo um desempenho ruim nos últimos meses, a "intuição" humana diz que seguirão caindo indefinidamente.
O terceiro ponto é um tanto quanto estranho, mas é real, já observei ele diversas vezes.
Uma pessoa que sai da bolsa após um período de queda sente um alívio que parece desconectado da realidade.
A partir do momento em que não está mais em ações, é como se a queda que sofreu não tivesse acontecido.
Mas ela aconteceu e foi real.
Se ela não estiver mais com a posição, vai sentir como se não tivesse perdido nada.
E isso torna ainda mais tentadora a ideia de sair das ações.
Todos esses fenômenos agem em conjunto para empurrar o investidor para a zona de conforto.
No entanto, se ele atende ao chamado, junto com o alívio de estar fazendo o mesmo que a maioria…
…vem também o preço que essa atitude cobra: um resultado medíocre a médio e longo prazo na carteira, que pode não ser o suficiente para atingir os objetivos aos quais o investimento se propôs.
A SUA MÃE JÁ AVISARÁ: VOCÊ NÃO É TODO MUNDO!
A lógica disso é muito simples e não se aplica somente ao campo dos investimentos: ao fazer o que a maioria faz, você obtém os mesmos resultados que a maioria obtém.
Nem melhor, nem pior.
Da mesma forma, quando se trata de investimentos, quem toma as mesmas decisões que a grande maioria das pessoas vai obter os mesmos resultados que essa grande maioria obtém.
Quem gerir seus investimentos fazendo apenas aquilo que lhe for confortável e que não causar nenhuma dor só vai obter resultados medíocres.
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E esses resultados medíocres podem não ser suficientes para que você atinja os objetivos que traçou para a sua carteira.
Nobre leitor(a) e investidor(a), você pode ter certeza de que toda performance consistente acima da média traz consigo alguma dor e/ou desconforto.
Seja a dor de manter uma posição em renda variável em momentos como o de agora, nos quais o consenso geral do mercado grita que o melhor é sair totalmente da bolsa e ir para a renda fixa, seja o desconforto de não estar comprado nas ações queridinhas do mercado e sim em muitas que são mal-faladas e evitadas.
Beleza, André, entendi.
Mas, lá em cima - você disse que falaria também sobre como lidar com essa dor e como diminuí-la o máximo possível.
E aí, como eu faço isso?
CONHEÇA A TI MESMO E VENÇA A BATALHA
Indo direto ao ponto - para não deixar seu café adoçado esfriar -, vou deixar algumas sugestões aqui:
A primeira delas é ter clareza sobre o seu perfil de investidor e sobre a adequação da sua carteira a ele.
Tem pessoas que lidam muito bem com momentos como o atual e não perdem o sono ou o bom humor por causa da queda do mercado.
Mas tem outras que não.
Tem pessoas que simplesmente não podem ou não querem - de jeito nenhum - ver seu saldo investido cair de um mês para o outro, mesmo que, em momentos de alta, elas também não ganhem tanto quanto poderiam ganhar se investissem em ativos de risco.
Contudo, está tudo bem, cada um é como é e ninguém pode nem deve se forçar a ser diferente do que é.
Como eu sempre costumo dizer, o mais importante é chegar no fim do dia, deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo com a sua carteira de investimentos.
Cada um à sua maneira.
Então, como dizia a inscrição à entrada do santuário de Delfos, na Grécia antiga: “conhece-te a ti mesmo, e conhecerás o Universo e os Deuses”.
ALÉM DO HORIZONTE EXISTE UM LUGAR CHAMADO "LONGO PRAZO"...
A segunda sugestão que eu deixo pra você é ter clareza sobre o seu horizonte de investimentos e sobre a adequação da sua carteira a ele.
Se você investiu em ações, mentindo para si mesmo que era para o longo prazo…
…mas só estava querendo tirar uma casquinha da alta do mercado para pagar pela viagem do ano que vem…
…então você investiu errado.
Da mesma forma, se você cogitava utilizar o valor da sua carteira para aproveitar alguma oportunidade que surgisse de compra de imóvel…
…também estava com a alocação errada.
Ações são para o longo prazo, não cansamos de repetir isso.
E longo prazo não é 1 ou 2 anos, mas sim, no mínimo, 5 - e de preferência 10 ou 20 anos.
É nesses "horizontes de tempo" que a bolsa mostra seu poder multiplicador de patrimônio a despeito de quedas como a que está acontecendo esse ano.
"O conceito de estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie,em inglês strategy, Em alemão strategie…"
A terceira sugestão é ter clareza e convicção sobre a estratégia que você está seguindo.
Nem todo desconforto vindo de uma queda do mercado é algo a ser simplesmente suportado “porque vai voltar”.
Nem toda ação vai recuperar.
Quando o investimento é mal-feito, tem perdas que são permanentes mesmo.
Então, para ter tranquilidade de que você está investindo do jeito certo e que as perdas do seu portfólio, ou da sua estratégia, são realmente apenas temporárias, tenha clareza do porquê você tem a carteira de ações que tem e certeza de que essa estratégia faz sentido.
É dessa forma que você vai garantir que não está apenas tomando decisões de investimento diferentes da maioria, mas também mais acertadas, como eu mencionei ali em cima.
Claro que você não precisa saber de tudo nessa vida.
DEIXA A VIDA ME LEVAR…
Depois que tudo isso estiver alinhado, a quarta e última sugestão só poderia ser essa: vá arrumar o que fazer.
Se seu perfil de risco e seu horizonte de investimentos permitem que você tenha uma parte do seu patrimônio investido em ações e você está investindo segundo uma estratégia clara e sabidamente vencedora no longo prazo, para quê ficar olhando o mercado todo dia?
Para sofrer? Só pode!
Aproveite que você não trabalha com isso e vá se ocupar com outra coisa.
Deixe esse sofrimento para nós, que fizemos do mercado de investimentos a nossa profissão… Vá se divertir, focar no seu trabalho, fazer um curso ou uma viagem, ler um livro, passar tempo com as pessoas que ama.
Se você ficar olhando o mercado constantemente, isso só vai aumentar a chance de cair na tentação e tomar uma atitude que vai lhe trazer conforto agora, mas da qual você pode se arrepender depois.
Portanto, feche a tela de cotações e as notícias e vá viver!
Olha o nosso querido Zeca aí…
Espero ter conseguido ajudar um pouco nesse momento desconfortável e doloroso.
Conte com o Clube do Valor para lhe ajudar!
Ah, e atendendo a pedidos da nossa equipe de marketing - sabe como são os estagiários - siga o CDV no instagram.
Uma ótima semana e que você consiga minimizar o sofrimento desse momento para colher os frutos dos resultados acima da média que certamente virão!
Forte abraço,
André Trein.