60 mais: por que você deve parar de dizer isso
Uma das coisas que sempre me incomodou dentro do Marketing foi a forma como a geração prateada é denominada: os 60+, ou dependendo, se estivermos falando da maturidade, 50+.
Porque eles simplesmente não são um grupo homogêneo!
Você que é mais vivido e está lendo esse artigo, comenta aí se estou certa 👇
No exato momento em que estou escrevendo isso, chego a pensar: ah, mas isso é óbvio!
Mas não é.
O etarismo é uma realidade bastante dura em nossa sociedade. As pessoas deixam de aprender e perdem qualidade de vida por medo de serem taxadas de "velhas". Segundo a OMS, 1 em cada 2 pessoas no mundo agem com preconceito contra a idade.
Quando trabalhei em meu último emprego formal, em uma multinacional que é tipo a Premier League dos sonhos de todo profissional de marketing, ouvi de uma diretora que havia me contratado (para uma vaga digital): "Ah, mas você já tem 40 anos... não entende muito de digital, né?". Foi um choque para mim.
Lógico que as empresas e as pessoas precisam ter "product market fit" rs. Não durei muito lá não... mas não apenas por isso, fui co-responsável pelo meu desligamento. Mas, de fato, a empresa que era dos sonhos na minha cabeça, simplesmente desmontou, como um castelinho de areia que alguém chuta na praia.
Pensei na época: "Estou no lugar errado".
No momento quase concomitante ao meu desligamento, estava montando a Mais Vívida . E, se hoje (4 anos depois) estou aqui trabalhando com envelhecimento, longevidade e lifelong learning, preciso falar sobre etarismo - pelo viés pessoal e pelos diversos estudos que tive a oportunidade de acessar.
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Veja mais aqui: A discriminação por idade é um desafio global.
Uma das coisas que tem levado empresas a nos procurarem quase que diariamente é devido a dificuldade de enxergar o público mais vivido, o que de certa forma é um tipo de etarismo.
Mas o mais impressionante é que não apenas olha-se para o contexto dos colaboradores (até por que o percentual de colaboradores em empresas privadas no Brasil com 50 ou mais anos não chega aos 2 dígitos por aqui - um relatório da Distrito recente mostra que inclusive este não é um desafio restrito a grandes organizações).
O mais impressionante é que as empresas em geral não tem a mais vaga noção de quem é o seu cliente, comprador ou usuário, mais vivido. Ou seja, como falar com ele, como entender seus comportamentos e sua individualidade, como dirigir uma estratégia de lançamento de produto a quem tem mais de 50 anos, como atendê-los de forma a gerar a melhor experiência possível.
Nesta entrevista para o Meio & Mensagem, o Hype 50+, hoje sob o nome Data 8, das empreendedoras e amigas Layla Vallias e Cléa Klouri , fala sobre o primeiro estudo relevante no Brasil sobre longevidade e a invisibilidade dessas gerações no mercado consumidor.
Este ano, a Agência AlmapBBDO atualizou as informações já levantadas antes, retratando que a falta de representatividade continua latente. Confira aqui um resumo rápido na ótima reportagem do site da Expo Fórum Longevidade.
Bom, mas onde quero chegar com isso tudo. Como uma pessoa dentro de uma grande empresa, que participa de definição de metas e estratégias nacionais e globais muitas vezes, você precisa olhar para isso!
Quando for fazer um próximo lançamento, cuidado com a segmentação "60+" ali na caixinha de seleção de público-alvo da sua campanha - a comunicação fala com qual persona deste público? Adeque sua comunicação e atente para estereótipos como "um idoso de cabelos bem brancos e de bengala" ou "uma sessentona branca de olhos azuis que não parece brasileira" (os bancos de imagens também não ajudam). Defina quem é seu cliente nesta faixa de idade e perceba que 60+ é diferente de 70+, que por sua vez, é diferente de 80+ e 90+.
Se você atende clientes por telefone, tenha certeza de que grande parte deles muito provavelmente são os que não se adaptaram às novas tecnologias e interfaces de atendimento, e preferem ligar para resolver um problema ou entender uma funcionalidade de seu aplicativo, preferem conversar com alguém. Mas lembre-se: muitos se adaptaram também (olha o etarismo aí! rs)
Faça esse levantamento e me procure. Vamos conversar!
Polímata/Estrategista/ESG/Pesquisador/Soluções em Descarbonização e Mudanças Climáticas
1 aViviane Palladino - Ela/ Dela É um prazer falar contigo por intermédio deste post, quanto ao texto e ao relato de suas experiências que são gratificantes lhe digo, dentro de pouco tempo tudo isto vai mudar sobre preconceito e discriminação terá uma tendência forte de mudar... pois ainda este ano será revelado a uma boa parcela da sociedade os efeitos dos caminhos que adotamos desde os anos de 1996, que afetaram de forma silenciosa o Brasil e o mundo como um todo, e hoje os efeitos acumulados ao longo destes anos são de certa forma dramáticos, causando problemas em todos os setores. E lhes digo, você tomou o caminho mais promissor, embora por muitas vezes o que se desenhava a sua frente era algo totalmente contrário, acompanho a sua evolução por aqui. Estas pessoas 40+, 50+, 60+.... vão ajudar muito os mais novos a entender o que foi perdido, negligenciado ou simplesmente ignorado... você terá com estes o fator de mudança e ajuste de tudo. Muito obrigado e se precisar estou por aqui.
Entrepreneur | Angel Investor | Mentor | Speaker
1 aExcelente Viviane Palladino !
Diretor Educacional do Isaac Tecnologia da Informação e da ARCO+| Palestrante para Instituições Educacionais| membro de conselhos consultivos e familiares para Instituições de ensino e fornecedores educacionais.
1 aMuito bom Viviane! Eu hoje tenho 66, trabalho numa fintech com aproximadamente 800 pessoas, e eu sou a única pessoa com mais de 60. Numa empresa que trabalha a questão da importância da diversidade. Hoje temos aqueles que que querem aprender o tempo todo e aqueles que pensam saber tudo. Os que pensam saber tudo são velhos, e os que estão sempre prontos para aprender são jovens, o conceito de velho evidentemente é muito diferente de idosos. Eu sei que sou um idoso que aprende o tempo todo, os jovens que trabalham comigo me ensinam e aprendem, isso é fundamental no aprofundamento desta conversa. Eu como imigrante digital sei muito menos, mas continuo aprendendo, entretanto tenho outras soft skils que muitos jovens não tem aprendem comigo. Quer saber mesmo o que eu penso. VIVA A DIVERSIDADE!
Discordo do seu ponto de vista. A denominação "60+" contem um "+", portanto esse pequeno símbolo faz uma grande diferença: ele engloba todas as faixas etárias a partir de 60 anos. E nao quer dizer que todas sejam homogêneas. Aliás, qualquer termo que se queira usar jamais daria conta de refletir as heterogeneidades, até porque elas existem, e muito frequentemente, dentro de uma mesma faixa etária. Outro ponto do qual não se pode fugir é o marco legal: uma pessoa é legalmente considerada "idosa" a partir dos 60 anos. Mas esse marco tem implicações que vão muito além do legal: há também as psicológicas. Portanto, ao fazer uma campanha de marketing, nada mais natural que usar os "60+" com referência, aliás, é muito positivo, pois estamos com isso quebrando paradigmas e afirmando uma realidade que é novidade: os quase 28 anos de vida que adicionamos desde 1950. Muito necessário portanto, não ter receio de botar às claras esse fato de forma cabal, evidente, como em outros movimentos que visam derrubar preconceitos. Por fim, também prefiro o termo "idadismo", mais próximo do entendimento comum do brasileiro comum.
Jornalista e palestrante. Arquiteto de inovações de impacto socioeconômico. Integrante do Conselho do Idoso de S. Paulo. Ajudo a repensar a longevidade e a maturidade moderna. Ricardomucci.com
1 aViviane Palladino - Ela/ Dela você levanta um tema interessante, porém estacionamos diante de um dilema: como definir a população 50+? Idoso? Velho? Melhoridade? Sênior? Maduro? Quando nos referimos a jovens, não segmentamos por período: tem jovem de 15, 20, 30 e 40 anos. Aliás, o mercado consumidor parece que estacionou nos 45 anos. Daí pra frente é um salve-se quem puder. Juventude não é novidade, mas longevidade sim. Eu por exemplo, estou tentando viabilizar uma fintech 50+. Não quero excluir os 60+, 70+ ou 80+. Porém, o dilema persiste. Entendo longevidade como processo e não como data ou período definido de vida, portanto me interessa dialogar com este público partir dos 50 anos, antes de ele vislumbrar que terá mais 20, 30, 40 ou até 50 anos pela frente, porque ele precisa se preparar para enfrentar a longevidade, com saúde, qualidade de vida e renda. Como a expectativa de vida evoluiu muito depressa no Brasil, ninguém se preparou adequadamente para lidar com esse fato, nem a sociedade e muito menos governos e empresas. Honestamente, acho que não há uma única resposta para a questão que você coloca, mas o debate é muito saudável e vamos aprender errando, aprendendo e corrigindo, como sempre. Bjs.