7 passos para trás na implementação do ESG e da sustentabilidade empresarial

7 passos para trás na implementação do ESG e da sustentabilidade empresarial

Estamos sempre lendo artigos com os autores e os grandes gurus mostrando as etapas, fases e passos para o sucesso, para se conseguir o cliente ou ainda para ser mais imbatível no mercado. Toda vez que leio alguns artigos muito bons lembro dos velhos jogos de tabuleiros que também tinham casas que faziam com que o seu peão desse passos para trás. Meu filho odeia quando isso acontece.

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Por isso resolvi escrever este reverso: 7 passos para não conseguir implementar ou acelerar o processo de ESG e sustentabilidade na sua empresa. Seria como perder pontos no seu jogo de tabuleiro, ou andar atrás na amarelinha do planeta em que dependem todos os seres humanos. Ou seja, o que não devemos fazer. 

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LEIA ATENTAMENTE,  TUDO A PARTIR DAQUI É O QUE NÃO FAZER!

A partir daqui, tudo está sendo argumentado ao contrário!!!

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Vamos lá ver estes argumentos "reversos":

1.        Fale de catástrofes ambientais, de mortes e de muitas coisas ruins para que as pessoas fiquem com medo, tristes e desamparadas. Com isso elas iniciarão o processo de ESG e sustentabilidade na empresa.

Essa estratégia não está ultrapassada, utilize bastante, pois muitos programas e reportagens mostraram e ainda mostram as possibilidades e catástrofes que estão acontecendo. Muitos assuntos ruins e aterrorizantes acabam motivando muito o ser humano, o que não gera uma sensação de impotência e descaso. Este assunto não precisa ter um sex appeal, como dizem alguns publicitários. O tema não precisa ser tratado como algo que pode ser feito, que é interessante, que quem atua se diferencia e que daqui a pouco será default. 

2.        Desenvolva suas metas e objetivos de ESG e sustentabilidade de acordo com os desafios do planeta, mesmo que seja algo desconexo com o seu negócio.

Mais do que o negócio da empresa, a sustentabilidade é algo urgente que pode afetar todos os seres vivos do planeta. A partir desta premissa, todos os temas de sustentabilidade são válidos e importantes para serem trabalhados por todas as empresas. Se queremos efetivamente fazer uma transformação nas questões sociais e ambientais não podemos enxergar somente a lucratividade de curto prazo, mesmo que isso possa atrapalhar a saúde financeira da empresa. As metas e objetivos de sustentabilidade da empresa têm que seguir os grandes temas que são colocados pelas ONGs, órgãos ambientais e organismos internacionais. Escolhemos as metas e objetivos da empresa pautadas em quantas crianças iremos salvar, quanto animais em extinção serão salvos, quanto de CO2 ajudaremos a diminuir, passando por metas relacionadas a saúde, bem estar e fome. Portanto, os indicadores que forem mais atrativos para a empresa ou que os gestores tiverem um relacionamento pessoal com o assunto é o ideal.

3.        O desenvolvimento sustentável tem que ser tratado exclusivamente pelo departamento de ESG e sustentabilidade. Tenha o seu departamento de sustentabilidade como o foco principal de gestão da sustentabilidade da empresa. Não deixe que outras áreas interfiram e não deixe que a alta liderança tenha mais trabalho com este tema.

A área de ESG e sustentabilidade está inserida na organização para cuidar de todo o processo de implementação dos conceitos, estratégias e ações referentes ao tema. Se você tem um processo de tornar o seu fornecedor mais sustentável, é bom que você tenha uma pessoa que trabalhe diretamente com este tema, para não atrapalhar os funcionários do departamento de compras, pois são muito ocupados para lidar com mais este assunto. Na mesma lógica temos que planejar para que o presidente da empresa não se envolva pessoalmente com este tema, pois afinal ele tem toda uma empresa para gerenciar. A alta gestão tem que estar ciente que existe uma área responsável, porém não devem se envolver no assunto, pois sustentabilidade é um assunto e negócio é outro. 

Assim como muitas áreas da empresa este assunto é específico e deve ser tratado somente por pessoas qualificadas, instruídas e treinadas para tal. 

4.        A área de ESG e sustentabilidade é a detentora de todo o conhecimento da empresa. Não é necessário treinar outras pessoas neste assunto, pois afinal por que a área de contabilidade tem que ser treinada neste tema?

Além da contabilidade existem muitas áreas na empresa que nada tem a ver com o tema. Para estas áreas não há a necessidade de treinamento sobre sustentabilidade, pois é um gasto desnecessário e sem fundamento. O ideal é sempre treinar o funcionário para ganhar dinheiro no curto prazo, pois este é o fundamental para a empresa. Este conhecimento é específico da área de sustentabilidade e para isso que as pessoas são pagas.

5.        O comprometimento para este tema tem que ser somente para as pessoas externas e não para as internas, pois é aí que está a construção da imagem da empresa. Comunique, faça anúncios em TV, revista e rádio, mesmo que não haja profundidade no seu projeto. O importante é ter uma ótima imagem, afinal o consumidor não entende nada disso mesmo.

Nada como ter uma ótima imagem externa de uma empresa sustentável, mesmo que isso não seja reconhecido pelas pessoas internamente. As pessoas internas são impactadas também pelo ambiente externo, ou seja, se você fizer propaganda na hora da novela, todos os seus funcionários provavelmente estarão assistindo e com isso você está fazendo o treinamento de sustentabilidade para eles. E não faz mal que o seu projeto ou ação de sustentabilidade não tenha muita profundidade, afinal, no papel cabe tudo. Pode dizer que atingiu tantas mil pessoas, ou salvou tantas árvores, ou melhorou a produção e a diminuição de lixo em X por cento que ficará lindo no comercial. Nesta área não há auditoria mesmo, a auditoria é para a área financeira e de processos financeiros, não para esta área tão bonita que é o desenvolvimento sustentável. 

O comprometimento de todo o público interno sempre é feito em cima das metas, objetivos e valores, coisas tangíveis, mensuráveis. Como você medirá a emoção e comprometimento de uma pessoa em um projeto de voluntariado? Ou numa ação ambiental de eliminação de produtos tóxicos nos seu produtor? Realmente não vale muito a pena esta visão sentimentalista no mundo corporativo.

O importante é o consumidor ter a percepção que a sua empresa é sustentável, mesmo que ele não saiba direito o que é isso. Basta colocar umas fotos de árvores, bichos e crianças sorrindo que o consumidor achará que sua empresa está crescendo num movimento sustentável. O consumidor não entende mesmo o que é isso, inclusive pesquisas de mercado mostram estes dados.

6.        Pense e haja somente para seus clientes e consumidores. Estas informações e o poder de mobilização para este tema está nas mãos dele somente. E, afinal, precisamos ter foco, não podemos nos relacionar profundamente com todos os públicos envolvidos com uma empresa. 

A empresa precisa ter o foco e o relacionamento sobre o tema do ESG e da sustentabilidade somente com os seus clientes e consumidores, pois eles são o principal público. Você não precisa falar sobre este tema com o seus outros público envolvidos como ONGs, governos, universidades, fornecedores, entre outros. Precisamos somente ter foco naqueles que dão retorno diretamente para a empresa, o que fizermos a parte é perda de tempo ou perda de recursos. Temos que pensar pragmaticamente, pois o retorno financeiro é o que move e o que a empresa respira. E este retorno ainda tem que vir a curto prazo, se não consigo nem enxergar o que me dará de retorno dentro de um tempo este relacionamento, não vale a pena investir neste relacionamento. Mesmo que lá no futuro isso me de algum retorno de imagem, reputação ou negócios, o importante é agora.

7.        Siga os passo-a-passo de todos os autores de ESG e sustentabilidade, pois eles sabem o que dizem e simplificaram vários conceitos complexos para os gestores de sustentabilidade

Assim como todos os outros passo-a-passos na área da administração, é fundamental que o gestor de ESG e sustentabilidade vá atrás de todos as listas que todos os estudiosos fazem sobre como implementar mais rapidamente a sustentabilidade na sua empresa. Afinal, eles são experts no tema e o gestor simplesmente entende da sua empresa. E logicamente, como estes passos são universais, todos eles irão encaixar perfeitamente na empresa o qual você trabalha. Não esquecendo que a sustentabilidade parece complexa, mas com estes passos ela se torna simples.

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Logicamente que todos estes  7 pontos num primeiro momento podem parecer certos, porém é nas entrelinhas que se encontra a não verdade.

Pode parecer exagero, mas estas frases são a realidade de muitos dirigentes e altos executivos de negócio de muitas empresas. Além de acadêmicos que dizem que estes passos realmente são fundamentais para a implementação de estratégias em administração. Os temas do ESG e da sustentabilidade são banalizados e dados como apêndices ao negócio. Algumas vezes até sofre de apendicite e, em tempos de crise, é extirpado sem nenhum problema.

Estes 7 passos para trás visam exatamente trabalhar com o oposto de como deve ser o sucesso de uma empresa sustentável. E diferente dos gurus de gestão, acredito que são 7 pontos iniciais, mas ainda superficiais e que existem muito mais pontos deste assunto para que a empresa acelere ou implemente o desenvolvimento sustentável na sua organização. Para este assunto, muitos outros pontos serão inventados e aprimorados ao longo dos próximos anos. Além de serem segmentados por mercado, por atuação de cada empresa, por setor e por região.

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Temos que ter muito cuidado, pois a "moda" do ESG trouxe muitos "experts", consultores e gurus do tema com muitos e muitos anos de experiências. E influencers que aprenderam muito nestes últimos meses. E não estão entregando como já ouvi de alguns colegas consultores e de profissionais de mercado.

O ESG, a sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável está cada dia mais sendo inserido na realidade das empresas. Ainda há muito o que realizar, desenvolver e criar. Espero que estas palavras venham a ajudar nesta construção deste novo paradigma, mesmo estando ao contrário!

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Meu artigo aqui do LinkedIn de julho de 2020 atualizado, que achei importante divulgar neste momento!

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foto: Pedro Sumiyoshi

Marcus Nakagawa é professor doutor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e conselheiro da Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável); pesquisador do NOSS EACH/USP; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Idealizador da plataforma Dias Mais Sustentáveis. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos; Administração por Competências; e 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019).

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Marcelo F. Sestini

Estudos de vulnerabilidade socioambiental , susceptibilidade física, impacto ambiental. Investindo em transição de área/carreira, buscando atividades relacionadas ao comportamento e aspectos sociais e culturais.

1 a

Excelente. Com relação ao primeiro ponto,realmente, apesar da necessidade de estar atento e de que os tomadores de decisões considerem seriamente os eventos extremos, tem gente que apela ao alarmismo exacerbado para ficar na mídia e ter ganhos com isso.

Leonardo de Oliveira Cadurim

Governança direcionada a ESG, inovação, sustentabilidade, geração de valor, melhoria e integração de áreas e processos. Gestão para ODS, certificações ISO e Empresas B. Mudar o comportamento de empresas e organizações.

1 a

Ótimo Naka. Realmente ainda tem muitas empresas, empresários e líderes que pensam assim. Não considerar as questões sociais e ambientais nas decisões estratégicas é um enorme risco. Fazer de qualquer jeito, sem mapear todos os stakeholders, riscos e materialidade também pode gerar problemas futuros. No resumo de tudo, precisa ter a visão sistêmica dos negócios associado ao olhar empático para com as pessoas e o meio ambiente, visando fazer o bem e bem feito. Isso também gerará resultados financeiros, atrairá clientes e bons trabalhadores. A imagem da empresa é mera consequência.

José Manoel Rodrigues

Escritor, biógrafo, pesquisador de histórias de vida em comunidades e no 3º Setor

1 a

Arrisco incluir um oitavo passo nessa lista, se o professor Naka me permitir. Esse 8º passo diz que o passado (ou a tradição) leva à sustentabilidade. Empresas consolidadas, presas às ideias de seus fundadores, são sustentáveis por si sós. ESG é um conceito generalista, sem necessidade de pensar as características da empresa para implantá-lo. A tradição é o que vale. Porém, um belo dia uma destas empresas tradicionais vai terceirizar uma parte dos seus serviços. E aí? O gestor não conversará sobre metas e objetivos comuns de sustentabilidade com a "terceirizada". Afinal, a outra empresa tem sangue diferente. Não pertence à "família". Esta é uma visão individualista, pressiona as relações socioambientais sob o peso da atividade produtiva. Ao mesmo tempo, é paradoxal: esse tipo de terceirização agrega parceiros, mas não há troca, compartilhamento de saberes. De fato, estou curioso para saber como o ESG entrará nos processos de Terceirização. Já existirão experiências positivas? Deixo aqui, professor, a minha sugestão para que esse tema seja, quem sabe, objeto de um artigo seu futuramente.

Marcio Brandão

Corporate Sustainability/ESG Consultant, Professor Associado na FDC - Fundação Dom Cabral, Advisor Professor at FDC

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Compartilhado no grupo do Linkedin "Realidade Climatica/Climate Reality - Brazil" - linkedin.com/groups/8196252/

Marcio Brandão

Corporate Sustainability/ESG Consultant, Professor Associado na FDC - Fundação Dom Cabral, Advisor Professor at FDC

1 a

Sharing in Linkedin group "Shareholder Engagement on ESG" - linkedin.com/groups/3432928/

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