9 anos sem Amy Winehouse: "Se eu me achasse famosa, eu me mataria"​

9 anos sem Amy Winehouse: "Se eu me achasse famosa, eu me mataria"

Há exatamente 9 anos o mundo perdeu a dona da voz considerada a mais marcante da primeira década deste século: Amy Winehouse. Aos 27 anos, a cantora e compositora morreu após consumir mais álcool do que seu corpo, já afetado pelo uso de drogas e pela bulimia, pode aceitar.

No documentário “Amy, The Girls Behind The Name”, de 2015, é possível conhecer um pouco mais da vida da artista. O título está disponível no YouTube, onde há também um outro material sobre ela: “The Final Goodbye”.

Os dois documentários mostram Amy com problemas em relação ao uso de drogas e uma história complicada com o marido, Blake. Foi ele, inclusive, que apresentou a Amy heroína e crack. Segundo ele, as drogas erradicavam rapidamente qualquer sentimento negativo. A sogra da cantora dizia que os dois eram almas gêmeas. Não podiam viver sem o outro, mas também não podiam viver juntos. A relação de dependência das drogas era nutrida mutuamente, juntos eles se destruíam.

A relação com a fama também era algo difícil. Amy não era o tipo de artista que desejava ser reconhecida a qualquer preço. Tinha medo do que poderia acontecer caso ela se tornasse uma celebridade. Sentia-se feliz por cantar bem e poder fazer isso a qualquer momento. Era através das músicas que expressava seus sentimentos. Em 2003, quando perguntam se Amy acha que seria famosa, ela diz que não, e completa “Acho que eu não aguentaria. Provavelmente, iria enlouquecer.”

O pai de Amy sempre foi uma figura ausente. Na infância, ela sentia falta da presença paterna mesmo quando ele estava em casa, pois não colocava limites, não se posicionava enquanto autoridade. Ele e a mãe da cantora se separaram quando ela tinha 9 anos, e isso fez com que a menina mudasse de comportamento. De alegre, passou a xingar as pessoas e já na adolescência começou a fazer tatuagens e piercings. Foi nessa época, entre 13 e 14 anos, que começou a tomar antidepressivos.

Já um pouco mais conhecida, foi questionada sobre parecer não se preocupar em ser primeiro lugar e Amy afirma: “Sucesso pra mim não é assinar com uma gravadora ou algo assim, sucesso pra mim é ter a liberdade para trabalhar no que eu quiser, em sempre poder jogar tudo para o alto e ir para o estúdio quando quiser ir”. A verdade é que o mundo do showbusiness está longe de ser um ambiente onde há liberdade. Há prazos para tudo. Produção, divulgação, turnês.

Em 2004 Amy rompe com o namorado e passa dias bebendo até ser encontrada machucada em casa. Nesse momento, decidem levá-la a uma clínica de reabilitação. O pai afirma que ela não precisa ser internada. Ela então produz o grande álbum de sua carreira “Back to the Black”. Hoje, seu pai afirma que talvez interná-la naquele momento teria sido a melhor opção. Possivelmente o álbum não existiria, talvez ela não tivesse se tornado um dos nomes mais importantes da música, mas ele teria a filha ao seu lado.

Em 2007, após lançar Rehab, Amy ganha o prêmio de “Melhor Artista Feminina” no Brit Awards. Um repórter a questiona “Vencer o Brits, mudou alguma coisa? Aconteceu alguma mudança, ou foi algo gradual?”. E ela responde: “Não vejo as coisas assim. Sei que parece decorado. Quanto mais eu falar, menos você acreditará. Não vejo dessa forma, mas eu não ligo. Se eu me achasse famosa, eu me mataria. Porque a fama é assustadora. É muito assustadora.”.

Nenhum dos dois documentários mostra Amy tendo ajuda profissional de psicólogos. Há uma grande preocupação com o vício nas drogas, mas não parece haver tanta preocupação nem com a bulimia, nem com o processo de se tornar famosa e ter a vida exposta.

Nesse momento, Amy já é um ícone. Em um encontro com o artista de hip hop Yasiin Bey ele percebe que ela estava orgulhosa e quase envergonhada por estar indo tão bem. Ao mesmo tempo, expressava preocupação e temor com o que aconteceria e como lidaria com tudo. Ela questionava “O que devo fazer agora?”.

Monrw Lipman, Presidente e CEO da Republic Records, conta que todos queriam ficar perto de Amy e que, na opinião dele, nada pode te preparar pra tal nível de sucesso. Não existe manual. Você pode avisar um artista, pode tentar prepará-lo, mas, até o fim do dia, quando tudo terminar, será uma experiência jamais vivida.

Será que realmente não havia nenhuma maneira de prepará-la pro sucesso e pras mudanças que a fama traz? Londres tem um jornalismo de celebridades intenso, há muitos paparazzis. Mas a cidade também é um dos principais centros do mundo nos estudos sobre “Psicologia da Fama”, até mesmo por essa questão cultural. As experiências podem ser novas ao final de um dia, mas Amy poderia sim ter contado com ajuda profissional para ressignificar esses momentos.

Em 2007 Amy tem uma pequena overdose, como descreveu Blake. Segundo o médico que a atendeu, ela quase morreu. Nessa época, ela tinha uma turnê programada na América do Norte, e as amigas pediram que ela não fosse para que pudesse se tratar. O empresário afirmou que não havia nada que ele pudesse fazer, pois ela tinha esses compromissos. Então, a amiga confisca o passaporte de Amy e os shows são cancelados.

Amy e Blake são internados em uma clínica de reabilitação. Depois de 3 dias saem e bebem muito. Ele quebra uma garrafa e corta o braço. Ela faz o mesmo e diz que fará qualquer coisa que ele fizer. Ela confessava aos mais próximos: “O amor está de alguma forma me matando”.

É feito um contrato com ela de que se ela não estivesse “limpa”, não faria mais nada. O Grammy se aproximava, ela consegue estar sóbria e vence o prêmio. À Juliette, confessa “isso é tão chato sem as drogas”.

Segundo a amiga, tudo o que ela queria que lhe dissessem era “Desista. Pare”. Falta novamente uma figura, como ela esperava que fosse o pai na infância, que conseguisse impor limites. Ela não podia fugir da própria vida.

Então, começou a ter desavenças públicas e a mídia tratou de ampliar isso. Nick, amigo e ex-empresário diz que de repente se tornou legar fazer piadas sobre a aparência magra, resultado de uma bulimia, ou de drogada dela. Ela era notícia o tempo todo, sempre de maneira pejorativa.

Aqui no Brasil vemos casos parecidos. Fábio Assunção é um desses exemplos. Devido aos problemas com drogas sempre foi criticado e virou até meme “ativar o modo Fábio Assunção”, referindo-se a beber muito.

Após um tempo afastada, Amy conseguiu ficar 4 semanas sem beber. Blake estava preso e ela estava em um novo relacionamento. Mas não via mais sentido no álbum Back to Black, apesar das pressões para continuar o trabalho com ele.

Aproximadamente um mês antes de morrer, soube que a turnê era iminente e se embebedou para não poder ir. Foi levada desmaiada para o aeroporto e viajou em um jato particular. Ela dizia a todos que não queria cantar. Aparentemente, era obrigada.

Durante uma apresentação, Amy entra no palco e cai. Está confusa. O público grita pra que ela cante, e ela parece estar fora de si, sem perceber o que está acontecendo. O pianista, Sam, disse que parecia o fim, nada mais parecia importar a Amy. A turnê foi cancelada. 

Esse foi o último show de Amy. Ela parecia feliz por ter cancelado a turnê e estava animada para ir a um casamento no dia 24 de julho, um dia após sua morte. Antes de partir, ela fez contato com as melhores amigas para se reconciliar, o que infelizmente não deu tempo de acontecer.

Até hoje, o empresário e o ex-marido são vistos por parte do público como responsáveis por Amy ter chegado a esse nível de vício, que acabou com sua vida.

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