Açúcar: de olho no longo-prazo
O comportamento do mercado, mais especificamente a alta dos últimos dias, tem deixado todos de certa forma intrigados. Isso porque temos novamente um repique nos preços que levanta a dúvida: em termos de fundamento, a estrutura do mercado se reverteu para baixista ou a queda se caracterizou como uma forte correção? A resposta é complexa, já que sim, a estrutura dos spreads se normalizando tanto no NY quanto no Londres é um indício de que o aperto de trade-flow se amenizou, o que por si só é um fator baixista; por outro lado, quanto mais distante é a tela, mais observamos a proximidade dos preços atuais das máximas recentes. Por exemplo, o fechamento do Mai’21 de hoje foi a 15.86 contra a máxima de fevereiro a 17.52, enquanto o settlement do Mar’22 a 15.99 se aproxima das máximas de fevereiro a 16.28; a relação para o Mar’23 é de 14.44 contra 14.34, sequencialmente. Essa dinâmica é interessante, pois mostra as telas longas cedendo menos ao longo de março e subindo quase igualmente as curtas ao longo de abril, o que nos leva a crer que um prêmio climático tem se estendido para o futuro. Hoje nossas estimativas de aumento produtivo dos principais players apontam o próximo ciclo como superavitário em apenas 1,5 mm t, já que levam em conta o clima chuvoso atual no HN e o mix açucareiro no CS. O prêmio climático citado acima se constitui exatamente disso, a possibilidade de que qualquer percalço venha a ocorrer no meio do caminho; se analisarmos o Centro-Sul isoladamente, com base na seca acumulada da entressafra e as preocupações dos produtores acerca de uma quebra no ATR, o stress de longo-prazo já começa a fazer sentido. Se trabalharmos também com uma queda expressiva de moagem, que não é o cenário base atual, a coisa começa a mudar de figura. Como dito, esse ainda não é o cenário base porque, além de antecipado, precisamos lembrar que o canavial segue muito mais jovem nessa safra (e resistente à seca) e a arbitragem de preços sustenta o mix mais voltado ao açúcar. O mercado poderia estar ainda em maior carrego, não fossem os boatos acerca da trading recebedora do H1 estar atrasando as nomeações e uma possível volta às compras pelos especuladores incentivados pelo cenário técnico de curto-prazo. Então, nesse momento poderíamos dizer que sim, o mercado se livrou do problema de trade-flow apertado do início do ano, mas logo se coube de encontrar outros fundamentos de longo-prazo, factíveis, para se sustentar em patamares altos em dólares.