A cor da crise no empreendedorismo
Eu não sei se você é uma pessoa branca ou negra, mas o que eu sei é que esse fato definiu a sua vida e define a minha vida também. Quando falamos de violência contra mulheres, nós precisamos aumentar o recorte para falarmos de mulheres negras. A cada 23 minutos um jovem negro é assinado e aí entramos no enlutamento, na dor e na violência que diversas mães negras sofrem. Essa mulher perde seu filho na mão do Estado e depois ela precisa continuar sem nenhuma acompanhamento psicológico.
No Brasil são cerca de 180 casos de estupros por dia. A cada 2 minutos uma mulher é vítima de violência, mais de 50% dos assassinos são os próprios parceiros das vítimas e mais de 60% das mulheres mortas são negras, pesquisas mostram que nos últimos dez anos os homicídios contra mulheres brancas caíram enquanto que para as mulheres negras, esses índices só aumentam.
A mulheres negras são vítimas de violências historicamente, no pós abolição elas passam a ocupar as vagas de empregadas domésticas sendo antes mucamas, de babas sendo antes amas de leite, por que se abole a escravidão, mas não se pensa em mecanismos de inclusão e sobrevivência para a população negra, que fica a margem da sociedade.
A reflexão sobre a imagem das mulheres também é uma parte importante do enfrentamento a estereótipos discriminatórios que autorizam violências. No caso específico das mulheres negras, no Brasil, esses estereótipos são agravados pela carga histórica escravagista de objetificação e subalternidade que reforçam mitos racistas como o da mulher negra hipersexualizada sempre disponível. “Mulheres pretas têm quadris mais largos e, por isso, são parideiras por excelência”, “negras são fortes e mais resistentes à dor”. Percepções falsas como essas, sem base científica, essa é a violência que classificamos como obstétrica, mulheres negras são 53,6% das vítimas de mortalidade materna, 65,9% das vítimas de violência obstétrica e isso, novamente, pelo mito de sermos mais fortes.
Essa barreira permanece porque por mais escolaridade que a mulher negra tenha, a sociedade insiste em nos posicionar em lugar de servidão, além disso a sociedade criou uma fantasia que a mulher negra, por todo esse histórico, é a mulher forte, que suporta tudo, nos tirando o direito de sermos frágeis. Nós somos fortes porque o Estado é omisso a tudo que acontece conosco.
A base da base da base da pirâmide é formado pelas mulheres negras, são essas que, em sua maioria, criam seus filhos sozinhas, porque são abandonadas pelos seus companheiros. É real a solidão da mulher negra, a mais mal remunerada e quem, em meio a pandemia, é obrigada a ir buscar o sustento porque, novamente, não tem apoio do Estado.
Dentro de diversos cenários, percebemos que as mulheres negras estão na rua neste período de isolamento, porque a maioria não tem reserva de emergência para manter a casa ou os negócios. Quem tinha um planejamento, que previa uma crise? Com este cenário muitas mulheres, principalmente as negras, vão se arriscar no empreendedorismo por sobrevivência.
O empreendedorismo é romantizado, colocam a falsa ilusão de que empreender é libertador, a maioria que empreende é mulher, estas são as que estão à frente de negócios precários ainda não formalizados, empreendem por necessidade, são as mais atingidas neste momento.
Diante desse entendimento, cabe às políticas públicas e às organizações que buscam minimizar e eliminar essas situações de pobreza e de vulnerabilidade social, atuar de forma a ampliar as oportunidades em termos de recursos e aprendizados que potencializem o universo dessas mulheres, ou seja, que favoreçam o protagonismo desse público no sentido da transformação social desejada.
*Kelly Baptista Atua há 18 anos com projetos geração de renda, em especial para mulheres em situação de vulnerabilidade social e qualificação profissional de jovens periféricos, durante 11 anos, atuou como Coordenadora de Projetos Sociais do Consulado da Mulher, a ação social da marca Consul, o trabalho com mulheres de diversas comunidades brasileiras me proporcionou aplicar valores de solidariedade, cuidado, diversidade, gênero e educação popular, de 2016 a 2018 foi Conselheira Municipal de Políticas para Mulheres da cidade de São Paulo, atuando fortemente para a melhoria dos órgãos municipais envolvidos. Pós-graduada em Gestão Pública pela Unifesp, atualmente está como Head de negócios de impacto social, do Instituto Plano de Menina, que em 2020 atenderá 10 mil meninas Brasil a fora, estimulando-as a se tornarem protagonistas das suas vidas. Eleita em 2014 uma da 25 jovens mulheres líderes, um programa de fortalecimento em questões de gênero e juventude, o projeto visava promover o desenvolvimento das capacidades das mulheres jovens no Brasil, facilitando assim que sejam sujeitos no exercício dos seus direitos atuando em três eixos idealizado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Gerente Operacional da A BANCA | Pesquisadora em Metodologia Freireana e Literatura Marginal | Coach ANIP | Colunista de Quebrada
4 aObrigada pela contextualização histórica de uma luta de sobrevivência que não deixa de ser as mesmas nos dias atuais para as mulheres negras. Se faz necessário e urgente desvelar o empreendedorismo romantizado e gourmetizado que se discuti em espaços majoritariamente brancos e heterossexual, precisamos avançar com as pautas das mulheres empreendedoras negras e que estão na base da pirâmide. Gratidão pela escrita.
Compras/ Viagens Corporativas/ Facilities
4 aCaroline Santos, Tânia Chaves, Nêuber Oliveira leitura necessária. Gratidão Kelly Silva Baptista!
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4 aLilian Ferreira e Fabiana Ivo recomendo muito a leitura deste artigo da minha mana Kelly Silva Baptista