Aconteceu na TI...

Aconteceu na TI...

Boas vindas aO Negócio da TI. Como pedido na enquete em que você votou, neste artigo (que ficou loooongo!), contarei três dos incontáveis “causos” por que passei em toda a minha vida profissional. Não são necessariamente engraçados, mas o motivo é sempre ilustrar a relação e os cuidados que devemos (ou podemos) ter com o universo da TI.  

Tirando da reta*: É óbvio que em todas as profissões, de jogador de futebol a professor universitário, passando por Analistas de Suporte ou de Sistemas ou de Neg... de negócios, não (muitos risos), existem charlatães, vigaristas, maus profissionais. Eu acredito que eles nem sejam a maioria em nenhuma profissão (nem taxista), mas formam uma minoria barulhenta que mancha e compromete a imagem de toda a categoria. Assim, por favor, quando eu falar de trambiqueiros, estou falando de exceções não de regras, em todas as profissões que eu citar!

O brasileiro tem a pretensão de entender de tudo (desde jogo da velha a física quântica, David Dunning e Justin Kruger explicam). Mas isso tem um motivo. O mesmo brasileiro tem o mau hábito de tentar levar vantagem em tudo (do jogo da velha a uma discussão sobre física quântica, aqui, o Gérson explica). Assim, vemos mecânicos se aproveitando de quem não tem noção de mecânica, para cobrar mais, especialmente pelo conserto da rebinboca da parafuseta, médicos que receitam com base, não na doença, antes no rebote que vem do laboratório, corretores que vendem seguros que não cobrem o que o cliente quer, para poder cobrar mais barato e ganhar dos concorrentes, vigaristas que aplicam (quem diria?) o conto do vigário, onde a vítima é quem pensa ter saído vitoriosa (aplicando um golpe!!) e por aí vai. Com informática não é diferente, técnicos que cobram para “formatar o computador”, para “trocar uma placa que não precisa ser trocada” etc.

 O técnico larápio 

Como eu disse, “nasci para a TI” em um provedor de internet num pequeno município. Não raro, precisávamos mexer em configurações dos computadores de pessoas e empresas. As empresas, em regra, tinham seus “profissionais de suporte”. Eu tenho uma coleção -e só fiquei no provedor por 1 ano- de histórias com profissionais técnicos de suporte  trambiqueiros. Desde um que cogitou instalar duas redes (a do nosso provedor e a interna da empresa) na mesma placa, usando as entradas de cabos diferentes até um que, quando ligamos o computador do cliente, a imagem apareceu totalmente distorcida e ele disparou “É, acho que vamos precisar trocar a placa onboard de vídeo”.  

Nesse ambiente, um grande amigo, Anderson Couto, profissional honestíssimo, tentou entrar no mercado de suporte a computador. Além de honesto, Anderson era (e é!) bastante competente, estudioso e conhecedor de hardware e configurações de computadores. Na conversa com um possível cliente com quem tinha mais intimidade -pense, cidade pequena, todos se conheciam-, Anderson não teve medo de usar o melhor argumento contra o sujeito que prestava serviço para aquela empresa: “Amigo, o cara(suporte) está te roubando, ele troca peças que não precisam troca, fica com as suas, que estão boas(!) e as vende”. A resposta do cliente: “Ah, pode ser, mas eu fico com a nova, é preventivo, eu gosto dele”. 

O Gerente do CPD - 1 

Eu era um auxiliar da mosca que pousava no cocô do cavalo do bandido, lá pelos idos de 1988, quando meu pai me obrigou a estudar “esse negócio de processamento de dados”, já escrevi sobre isso no meu primeiro artigo. Graciosamente, os chefes da firma me deixavam ficar estudando no computador do meu setor (Tesouraria) após o expediente. Como eu era solteiro, ficava, de boas, até bem tarde da noite. Uma vez, aprendendo o comando “DEL”, na minha aula de DOS, querendo apagar os dados do meu disquete (de 5 1/4” - mais jovens, por favor, se preciso, dêem um Google), mandei o comando “DEL C: A:*.*” (Nem me perguntem o que passou pela minha cabeça, mas eu lembro vividamente do comando). O sistema mandou a mensagem “Are you sure(Y/N)? (Tem certeza(S/N)?)” e eu lasquei, sem medo, o dedo no “Y”.  

No dia seguinte, a responsável pelos pagamentos chegou para trabalhar em seu computador (o que eu estava usando para estudar) e... tá-dãã... Nada funcionava, o sistema de cheques “não entrava”. Fui zoado à exaustão pelos colegas, eu teria que trabalhar de graça para pagar pelo estrago... Então, veio o GERENTE DO CPD, nunca me esqueço, Frederico (Fred para os íntimos ou hierarquicamente superiores). Era uma figuraça, andava, não, volitava pelos corredores da empresa como um semideus, com uma caixinha de disquetes (de 5 1/4”) embaixo do braço. Ele se sentou na frente do micro (que ainda não era Windows, era DOS!!) e ficou lá a manhã toda. Letrinhas verdes passando rápido pela tela para lá e para cá. Parava, fazia cara e pose de “o pensador” e, após umas 4 horas, consertou o meu erro, salvou o dia e volitou de volta, altivo, para o CPD.  

Eu pensei que devia minha vida àquele sujeito. Chateado, fui para um bar, onde encontrei um amigo, Daniel (caraca! Por onde andará o Daniel??) que cursava justamente Informática, no NCE da UFRJ. Narrei o ocorrido, ele riu da minha cara e disse. “Fernando, ele não fez nada demais. Se você fez DEL e depois ninguém mais mexeu no micro até de manhã, ele só fez UNDEL. Deve ter dado um trabalhinho, porque teve que recolocar as primeras letras nos nomes de muitos arquivos, mas eu tenho certeza de que ele tinha um backup para guia-lo”. Eu cursava Administração e, daquele dia em diante, eu jurei que, tornando-me administrador de uma grande empresa, jamais seria enganado por outro Gerente de CPD. 

O Gerente do CPD - 2 (Tá bom, uma “piadinha” real, vai!) 

Nessa mesma empresa, a primeira em que trabalhei, um novo sistema foi comprado e um novo Gerente do CPD foi contratado. Argentino, gente boníssima (aqui permitam-me preservar o nome), ainda era um tanto principiante na arte da gerência. Certa vez, fazendo testes de rotinas do sistema novo (naquele tempo, as coisas não eram como hoje, ambientes diferentes para desenvolvimento, homologação, produção), ele simplesmente apagou 5 dias de trabalho das meninas da produção. (Elas tiveram que trabalhar extra por 2 semanas para “relançar” o que haviam produzido). Daquele dia fatídico em diante, costumávamos dizer que, aos sábados de manhã, a esposa do gerente o acordava, animada e perguntava: “Amor, vamos fazer uma sacanagem?” e ele respondia “Claro”. Levantava-se, punha a roupa e ia para o CPD trabalhar! 

Fique bem.

* o usual é “disclaimer”, mas preferi usar o “português claro”. 

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