Adaptações
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Adaptações

Em meio ao isolamento social, quero lhe pedir uma coisa...

Você consegue se lembrar do seu primeiro dia de aula na escola? Lá, quando você era criança?

Você consegue, por um instante, fechar os olhos e se transportar para aquele momento?

Acredito que sim…

Agora, pense: quais sensações você sentia naquele momento? Medo? Insegurança? Incerteza? Ou… Saudade de casa?

Dependendo da forma que você lidou com essa situação, este pode ter sido um dos dias mais traumatizantes da sua infância. Tanto que, agora, você pode estar sentindo um leve aperto no coração, apenas por se pôr naquele lugar novamente.

Aquele lugar de quem não sabe, quem não entende, quem não conhece, quem não compreende o que está acontecendo.

E, com isso, você rapidamente quer voltar para o agora. E é bem possível que esteja se perguntando aonde eu quero que você chegue com todos estes questionamentos e sugestões.

E o que eu quero, de verdade, é que você reflita comigo, sobre mudanças bruscas e adaptações... Especialmente as quais estamos vivendo.

Você não sabe

Você não sabe o que está acontecendo. Eu não sei, e, possivelmente, muitos também não.

Todos estão caminhando rumo à respostas que ainda nem sequer sabemos se existem. 

Não entendemos o que se passa. Não conhecemos essa versão de vida, de manter-se preso dentro da própria casa, como uma proteção. Não compreendemos a dimensão das coisas. E, com isso, nos vemos diante da angústia.

Angústia que invade, afoga, dá medo.

Angústia que machuca e que faz com que duvidemos de tudo que vivemos até então.

Seria esse o fim do mundo? O fim de tudo que conhecemos? O fim do amor, da paz, da felicidade? Seria, este momento, o fim de nossas vidas?

Tentamos entender o que está acontecendo. Uns perguntam incansavelmente. Outros silenciam-se e choram. Outros, desacreditam do que vêem. E há aqueles que tentam ser fortes, mas que sabem que, por dentro, tudo está bagunçado.

Você não conhece

Você não conhece as consequências desse momento, porque é a primeira vez em que você o vive.

Você não sabe como será, daqui algumas horas, quando o mundo girar mais um pouco.

Você não sabe como será a sua vida, de agora em diante, considerando as novas obrigatoriedades e prisões.

Você não sabe como irá se relacionar com os outros. Pensa nas pessoas nas quais você ama, e que não estão ao seu lado neste momento. Pensa em lembranças lindas, que parecem se transformar em lágrimas sem fim em seu rosto.

Tudo está confuso. A sua rotina desmoronou. Os seus horários mudaram. Talvez até a sua alimentação tenha mudado. 

Tudo que você mais ouve, neste momento, é que precisa ser assim.

É que você, enquanto ser humano social, precisa passar por isso. Precisa ficar aqui, preso, por horas a fio, sentindo a angústia de querer voltar ao que era.

Fica aqui, olhando para as paredes que lhe parecem limitar até a respiração, sem compreender o que pode estar lhe esperando do outro lado.

Você chora.

Você reclama.

Aquieta-se.

E volta a sofrer ciclicamente.

Mas… Os dias têm passado.

E os dias realmente passam.

E quando você se dá conta que eles passam e que, com eles, diversos acontecimentos fluem e se dissipam, as coisas parecem ficar mais leves.

Você percebe, inclusive, que aquelas paredes possuem janelas que lhe entregam um mundo ensolarado, com um ventinho de inverno que acaricia o seu rosto.

Você percebe que o relógio continuou trabalhando, mesmo quando tudo parou. 

Você começa a sorrir para quem tá perto e para quem tá longe, sentindo abraços quentinhos nem que seja por pensamento.

Você entende as coisas de uma forma mais racional, e mantém as suas emoções um pouco mais adaptadas. Compreende a dimensão das coisas, e se protege do que é estranho, mas permitindo-se aprender e conhecer mais sobre tudo.

E aqui, amigo, aqui é o momento em que você se dá conta que é capaz de se adaptar em qualquer situação.

É capaz de pensar criticamente, refletir, e entender que tudo na vida nos ensina algo.

E mais do que nos ensinar, nos faz crescer. Reflete em quem somos, nos tornamos e queremos nos tornar.

E, meu bem, quando você percebe tudo isso, você finalmente se adaptou à sua escola.


Ou você pensou que eu estivesse falando da quarentena?


Pense em quantas vezes você se adaptou às dificuldades e aos momentos, aparentemente, confusos, e entenda o quão forte e incrível você é, diante de qualquer situação. Unidos venceremos mais esta fase. 

Você vai sair dessa.

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