Afinal de contas, sustentabilidade e ESG são a mesma coisa?
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Afinal de contas, sustentabilidade e ESG são a mesma coisa?

Essa é uma boa pergunta e a ouço com frequência, mas a resposta curta é não. Simples assim. Porém, é preciso conhecer um pouco dos dois temas para ver que ambos os termos se conectam.

Sustentabilidade é o termo mais antigo, e de forma costumeira está relacionado ao tema de meio ambiente seguido do tema econômico e raramente ouço alguém falar em sustentabilidade social fora dos círculos desse meio. Como nós conhecemos hoje nasceu em 1983. Na década de 80 já se discutia o crescimento econômico dos países e o impacto que isso causava no meio ambiente. Nesse período, o secretário geral da ONU instituiu uma comissão independente para entender os desafios e propor soluções chamada de World Commission on Environment and Development (também conhecida como Brundtland Commission). O resultado da comissão foi um guia chamado "Our common future" que tinha como base três pilares: crescimento econômico, proteção ao meio ambiente e igualdade social. Você consegue ler o documento aqui.

Um dos pontos que chamam atenção ao tema é que o termo sustentabilidade, como colocado pela comissão, era amplo e permitia que mais organizações fossem agregando significados. Ao passo que também tornou o tema popular e ganhou velocidade a partir da década de 90.

O que torna o conceito de sustentabilidade tão amplo é a sua própria natureza aberta. Com o passar do tempo, mais e mais elementos foram sendo conectados ao termo. Do ponto de vista de negócios, ele esta mais para direção que uma organização deve tomar.

Já o termo ESG foi criado em 2004 na conferência "Who Cares Wins", que juntou investidores, empresas, governos e consultorias. Mas o conceito do que o ESG representa é bem mais antigo, e não tem relação com sustentabilidade e sim com mensuração. Organizações de todos os portes usam vários critérios e indicadores para controlar sua performance, e o ESG é um conjunto desses critérios. E isso é essencial para as organizações se compararem, definirem metas claras e conseguirem alcança-las.

Para quem deseja conhecer os primórdios do tema, pode pesquisar o documento que foi publicado nesta conferência aqui.

Como colocado, o tema não é novo, porém ele vem causando bastante impacto no mercado global e nas relações entre empresas, governos e sociedade. Hoje circulam no mundo mais de U$30 trilhões em ativos sob gestão relacionados ao ESG, no Brasil a B3 tem o ISE, índice de sustentabilidade empresarial, que é usado para avaliar as organizações que desejam ser reconhecidas por suas práticas ESG. 

Nos últimos anos o assunto ganhou mais velocidade na proporção que o aquecimento global aumenta,  que cresce também a diferença entre os mais pobres e mais ricos, que crises de saúde explodem e tantas outras mazelas que não estamos conseguindo vencer. Nessa esteira, fundos como a Blackrock, anunciam através do seu CEO Larry Fink, que organizações que não se envolverem ativamente com o tema de ESG estarão fadadas ao fracasso no longo prazo (estamos falando de um cara que lidera uma gestora de fundos com mais de U$8 trilhões em suas carteiras), além de comprometer o mundo e outras organizações que investem em serem de impacto positivo sem esquecer seus acionistas. 

Ambos os termos se relacionam hoje fortemente com o conceito de "capitalismo de stakeholders", que estimula organizações a não se focarem apenas no resultado para seus acionistas e sim para toda a rede da qual faz parte, que também chamamos de valor compartilhado. Se quiser saber mais, apresento um pouco desse tema aqui.

Mas de verdade, escrevi tudo isso para basicamente dizer a diferença entre ambos que é:

De forma simples ESG são critérios e indicadores, sustentabilidade é um conceito norteador.

Ambos são extremamente importantes para o mundo em que vivemos mas não são a mesma coisa. Costumo dizer que só podemos falar de ESG se tivermos uma tese de sustentabilidade clara, ou seja, porque a organização que atuar nesse tema, em que áreas, até quando e com quem. Uma vez que isso esteja claro, será possível definir indicadores e persegui-los. Aqui sustentabilidade tem relação com os valores da organização, o papel que ela deseja atuar no mundo e sociedade mas do que por quais critérios será medido, comparado e monitorado, que é onde entra o ESG.

E também uma organização pode ter excelentes indicadores ESG, porém não ser uma empresa que se preocupa de fato com a sustentabilidade dentro dos seus pilares sociais e ambientais. Nesse sentido, ela apenas se mantém dentro das regras e faz a governança disso, como por exemplo empresas que investem em tratamento da água usada na sua produção, respeita todos os direitos trabalhistas corretamente e tem um conselho independente para monitorar e orientar o corpo executivo.

Ainda vai continuar usando os dois termos como se fossem a mesma coisa?

Muito esclarecedor, Leo. Confesso que eu não tinha essa visão.

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