Afinal: o que é Política?

Afinal: o que é Política?

Gosto muito de analogias, acredito que elas oferecem uma didática – quando bem utilizadas – muito pontuais e de fácil entendimento. Para o saber, ou os saberes, o conhecimento em si, a melhor é a de um oceano. Nadar na superfície, próximo a areia, exige um saber relativamente simples, mas que se somente o tiver, talvez não consiga desbravar outras maravilhas do mar: como surfar, ou mergulhar, ou ficar horas a fio boiando em uma praia tranquila. Há também o nível de tensão, saber nadar o básico para não se afogar provavelmente gerará uma carga de estresse sobre quanto tempo você aguenta ficar ali, na água, e sobre que mudanças imprevisíveis no mar, para alguém como você, podem te afetar. Assim é o saber, você pode e é muito digno somente querer um pouco, mas isso também te renega outras maravilhas e uma carga de tensão sobre não entender muito bem como as coisas acontecem e te afetam (podendo inclusive ser “enganado” por alguém próximo a ir mais a fundo, e isso te prejudicar).

Feita essa analogia, damos início a resposta para a pergunta do título, o que é política? A contribuição mais simples vem do entendimento da própria palavra, onde sua origem na Grécia antiga seria politeía ou politiké, que tem como significado “todos os procedimentos da pólis“. É fundamental entender que pólis é a tradução do Grego antigo para cidades, que naquele tempo seriam como países hoje, uma vez que nada acontecia fora das cidades (chamadas de cidades-estados hoje). Bom, então fica claro que a Política provém de alguns milhares de anos atrás, muito diferente e ao mesmo tempo muito parecido com o que temos hoje. Em resumo, a politeía ou politiké, seria algo relacionado ao local onde as pessoas viviam, as pólis, mais especificamente a organização de todos os procedimentos dentro da pólis.

Logo, política é uma organização social de todos os procedimentos que devem ser feitos e tomados dentro das cidades, devendo aqueles que vivem nelas saber e cumprir. Então, em uma explicação bastante simples, é um conjunto de ações que regulam de certa forma, o que pode ou não ser feito, e o que deve ou não ser feito.

Aprofundando um pouco mais, temos duas reflexões filosóficas importantes, a primeira de Aristóteles, para muitos o “pai” da política, que diz: “o homem é, naturalmente, um animal político“. A segunda provém de um conjunto de filósofos e pesquisadores de diversas áreas que há alguns anos chegaram a conclusão que antes mesmo de conseguir estabelecer uma comunicação sólida, o homem – aqui como figura pré histórica, das cavernas – já era um animal ou um ser político, parece viagem, mas não é. Se a política é um conjunto de “regras” ou comportamentos sociais que identificam os iguais – os moradores das pólis – então de alguma forma as primeiras famílias e grupos de famílias diferentes que se juntaram, adotavam alguma forma, ainda que primitiva, de “fazer política” para se diferenciarem dos outros – geralmente inimigos – e se identificarem, permitindo algum convívio.

Em sequência, precisamos entender que segundo outro gigante filósofo, Platão, os primeiros que souberam e entenderam o que havia por trás ou em conjunto com a política, conseguiram atingir algum nível de poder, liderança ou ambos, e em grau maior a influência sobre os demais.

“Não há nenhum problema em não gostar de política, apenas saiba que serás liderado por aqueles que gostam”
Platão

Com poucas palavras, o significado é: tudo bem você não gostar de política, mas se não entender o mínimo, em nossa analogia oceânica, não souber nadar o básico, suas chances de se afogar sozinho aumentam, e ainda, é bem capaz que alguém te leve para o afogamento inevitável, por simples influência.

Voltemos ao início, as famílias, aos homens das cavernas, ao ser pré histórico. Só existia uma função primordial para esses: sobreviver (o que consistia proteção, comida, água e etc….) e para isso, realizar algumas funções não tão confortáveis com o passar do tempo. Imagine que um homem sozinho é capaz de caçar um pequeno animal para não passar fome, porém é mais arriscado fazer com algum animal de médio porte, para uma alimentação por mais tempo ou se proteger do frio. Então, a partir da lógica de uma filosofia naturalista, ao observar outros animais, o homem percebe que precisa de um “bando”, uma “matilha” para caçar, e com isso surge um problema: como convencer um outro homem, mesmo que da mesma vivência que a sua, do mesmo conjunto, de parar de caçar somente para si e se juntar a você em uma empreitada maior? A resposta, a essa altura você já deve imaginar: fazendo política.

Reduzir política a convencimento ou negociação é um equívoco comum, porém a grande diferença está no “contrato” onde diz o que as “partes” abrem mão e recebem em troca. Em uma negociação ou um processo de convencer a outra parte a fazer algo que ela de início não queria, é preciso de alguma forma mostrar ou apresentar alguma “recompensa” ou algo que motive a uma mudança de ideia. AQUI ESTOU FALANDO APENAS DE ATO E AÇÕES LÍCITAS. NEGOCIAÇÕES ILÍTICAS OU AÇÕES QUE CONVENÇAM A OUTRA PARTE A ALGO FORÇADO NÃO ENTRAM EM MINHA EXPLICAÇÃO EM NENHUMA HIPÓTESE.

Dessa forma, a política já te diz exatamente o que você vai dar e o que você deve esperar em troca. Um pequeno exemplo: nas cidades-estados da Grécia antiga, as pólis, os cidadãos tinham muitos afazeres mais ligados a necessidades básicas e portanto menos tempo e até interesse em organizar a própria cidade – eu consigo imaginar um ateniense dizendo a outro: “eu mal tenho tempo de plantar direito, quem dirá de decidir as regras para vestimentas“. Acontece que essa situação não mudou, e em sua origem – do homem primitivo – também se consolidou assim, quando esses perceberam que algumas tarefas poderiam ser designadas a outros para que ganhassem tempo para gastar no que era primordial.

Trazendo para nossa realidade, o “acordo” ou o “contrato social” (não que de fato tenha havido um papel assinado por alguns e que determinou isso) diz que: já que todos os cidadãos tem uma medida de tempo igual (as 24 horas do seu dia) e não seja possível cuidar do que seja sua necessidade primordial e ainda do coletivo, então você (os cidadãos) cede, entrega, delega, essa responsabilidade a um outro cidadão (ou grupo deles) para que ao invés de focarem em muitas coisas primordiais de suas próprias vidas, esses trabalhem e usem seu tempo pensando na vida do coletivo, ou do bem coletivo. Isso te lembra o processo de votação e de um governante?

Quando alguns perceberam lá na Grécia antiga que poderiam ser esses a abrirem mão de seu tempo pessoal para o tempo do coletivo, surge a prática política, como disse anteriormente, muito diferente, mas muito parecida com o que temos hoje. De volta a Platão, não tem problema algum você não ter tempo para “fazer política”, até porque isso não se resume a se candidatar ou entrar para um movimento social, mas ao entender como ela funciona você sabe exatamente o que você delegou e o que você espera e tem que cobrar em troca.

Nesse momento, a reflexão óbvia e correta é que todos nós somos animais políticos por natureza, como nosso colega afirmou, tem uns 2.500 anos. Desse ponto, já se pode imaginar o que tem por vir, toda a história da humanidade passa inevitavelmente por política, em menor ou maior grau de intensidade, de forma clara ou tácita, mas sempre passa por ela. As duas guerras mundiais, a Guerra Fria e o fim da União Soviética, para falarmos do Século XX; as Revoluções Industriais e todos os gigantescos avanços tecnológicos e de comunicação do Séc. XIX; até o Império Mongol do Séc. XIII ou o período de conclaves e concílios da Idade Média.

Aqui não é uma forma de assustar você leitor ou leitora, que tenha de entender tudo isso para saber política. Na verdade, é exatamente o contrário. Ao compreender a política, você consegue observar tudo isso com uma lógica mais encadeada e submeter aos seus próprios conjuntos de críticas, o que você decide ser bom ou ruim, ou certo ou errado e ao menos argumentar e defender seu ponto de vista.

O pensamento sobre as definições sobre política, não se resumem a essa explicação mais histórico filosófica, porém para alcançar o profundo do oceano, deve se ir descendo de pouco em pouco.

Abraços.

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