Afinal, para que serve um pai?
Lauren Lulu Taylor (Unsplash)

Afinal, para que serve um pai?

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No século XXI, o papel dos pais na família tem sido tópico de discussão e debate contínuos. Embora as mães sejam tradicionalmente vistas como a cuidadora principal, a importância dos pais no desenvolvimento infantil e na dinâmica familiar não pode ser ignorada. O trabalho de autores como Warren Farrell e outros tem lançado alguma luz sobre o papel vital que os pais desempenham nas famílias modernas.

Uma das principais áreas em que os pais desempenham um papel fundamental é no desenvolvimento físico, emocional e psicológico dos seus filhos.

Alguns trabalhos de investigação têm demonstrado de forma sistemática que os pais que estão envolvidos na vida dos seus filhos têm um impacto positivo no seu bem-estar emocional, no desempenho académico e desenvolvimento geral (Sarkadi et al., 2008). Crianças com pais envolvidos possuem melhores competências sociais, maior autoestima e menos problemas comportamentais.

No livro "Father and Child Reunion", Warren Farrell aborda a importância de os pais estarem envolvidos na vida dos seus filhos desde o nascimento. Farrell argumenta que os pais que estão ativamente envolvidos na paternidade têm um impacto profundo na vida dos filhos e que a sua ausência pode levar a resultados negativos significativos, não só para as crianças, como também para a sociedade como um todo. De acordo com Farrell, pais ausentes podem contribuir para uma série de problemas sociais, desde crimes contra pessoas e património, abuso de drogas e gravidez na adolescência.

Para além dos benefícios emocionais e psicológicos, os pais também desempenham um papel crucial na saúde e no desenvolvimento físico dos seus filhos. Pais envolvidos têm maior probablidade de incentivarem os filhos a adotarem hábitos e estilos de vida mais saudáveis, como nutrição adequada e exercício físico regular. Este envolvimento pode ter um impacto significativo na saúde geral dos filhos, que perdura muito para lá da infância (Puhl, 2018).

Outro papel importante que os pais desempenham no século XXI é o de coparentalidade.

Casais que compartilham responsabilidades parentais têm relacionamentos mais fortes e têm maior probabilidade de virem a ter casamentos bem-sucedidos (Cowan & Cowan, 2014). Pais que desempenham um papel ativo na paternidade, como trocar fraldas, alimentar e brincar com os filhos, têm maior probabilidade de desenvolver laços fortes, não só com os filhos, como também com as suas parceiras.

A educação por parte do pai pode ter um impacto positivo em ambos os sexos, mas de maneiras diferentes.

Para as raparigas, a presença de um pai envolvido na sua educação pode ter um impacto positivo na sua autoestima, autoconfiança e autoimagem. Um estudo publicado no Journal of Family Issues concluiu que as raparigas que têm um relacionamento próximo com os seus pais, têm menos problemas emocionais e comportamentais, e uma maior probabilidade de virem a ter sucesso académico e profissional no futuro. Além disso, a presença de um pai envolvido pode ajudar as raparigas a construirem uma imagem de masculinidade positiva e ainda a prevenir comportamentos de risco, como o uso de drogas e gravidez na adolescência.

Para os rapazes, a presença de um pai envolvido na sua educação pode ajudá-los a desenvolver competências sociais e emocionais, bem como a construir relacionamentos saudáveis com os outros. Rapazes com pais envolvidos apresentam menor probabilidade de serem agressivos ou de virem a ter problemas comportamentais, e têm mais sucesso académico. A figura paterna também pode ser importante para ajudar os rapazes a desenvolverem uma identidade masculina saudável e positiva.

Os pais portugueses têm-se adaptado ao século XXI como poucos.

Por exemplo, um estudo realizado em 2019 pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) revelou que os pais portugueses estão mais envolvidos na criação dos filhos do que há algumas décadas. De acordo com o estudo, cerca de 80% dos pais portugueses relataram estar muito envolvidos nas tarefas diárias de cuidado dos filhos, incluindo alimentação, banho e brincadeiras.

Além disso, o estudo também demonstrou que os pais portugueses estão cada vez mais interessados em equilibrar as suas responsabilidades profissionais e familiares, com mais da metade dos pais entrevistados a afirmarem que têm horários de trabalho flexíveis ou reduzidos, para poderem cuidar dos filhos.

Outro estudo interessante é o "Inquérito à Família e Parentalidade em Portugal" realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2015, que revelou que os pais portugueses passam em média cerca de 2,5 horas por dia a prestarem cuidados aos filhos, um aumento significativo em comparação com décadas anteriores.

Estes dados sugerem que os pais portugueses estão cada vez mais envolvidos e ativos na criação dos filhos, o que é uma tendência positiva e que, entre outros fatores, pode ser atribuido à crescente consciencialização na sociedade portuguesa sobre a importância da paternidade ativa para o desenvolvimento saudável das crianças.

Os pais portugueses ainda têm espaço para crescer!

Embora os pais portugueses estejam mais envolvidos na criação dos filhos do que há algumas décadas, as mães continuam a ter mais responsabilidades em relação ao cuidado e educação dos filhos. Ainda de acordo com o estudo da FFMS, cerca de 86% das mães entrevistadas relataram estar muito envolvidas nas tarefas diárias de cuidados prestados aos filhos, incluindo alimentação, banho e brincadeiras. Além disso, cerca de 67% das mães indicaram que, na maior parte do tempo, cuidam dos filhos sozinhas.

Portanto, apesar de haver uma mudança positiva na participação dos pais na criação dos filhos em Portugal, ainda existe uma desigualdade significativa na divisão de responsabilidades entre homens e mulheres em relação à paternidade e à maternidade. Este desequilíbrio que ainda persiste entre o tempo efetivo que um pai e uma mãe dedicam aos filhos pode impactar de forma negativa o saudável desenvolvimento de rapazes e raparigas.

É importante que continuemos a trabalhar em direção a uma igualdade de papéis real, não apenas em Portugal, mas em todo o mundo, para que as crianças possam crescer em ambientes mais saudáveis e equilibrados.

Em resumo, a importância dos pais no século XXI não pode ser exagerada. Os pais desempenham um papel crítico no desenvolvimento emocional, psicológico e físico dos seus filhos, bem como para a saúde e bem-estar das suas famílias e comunidades. A educação por parte do pai pode ter um impacto significativo na vida de raparigas e rapazes, ajudando-os a desenvolver competências, comportamentos e atitudes saudáveis e positivas em relação a si próprios e em relação aos outros e à sociedade em geral. Autores como Warren Farrell destacam a necessidade de os pais estarem ativamente envolvidos na vida dos seus filhos desde cedo, e enfatizam as potenciais consequências negativas dos pais ausentes. É importante que continuemos a promover e a apoiar o envolvimento ativo dos pais nas famílias modernas.

Os pais portugueses, por tudo o que fazem, merecem o nosso respeito e admiração.

Obrigado, pais!

João Pestana


Referências:

  • Farrell, W. (2001). Father and child reunion. Penguin.
  • Cowan, C. P., & Cowan, P. A. (2014). When partners become parents: The big life change for couples. Routledge.
  • Puhl, R. M. (2018). Father involvement and child health outcomes. Current Opinion in Psychology, 25, 82-85.
  • Sarkadi, A., Kristiansson, R., Oberklaid, F., & Bremberg, S. (2008). Fathers' involvement and children's developmental outcomes: A systematic review of longitudinal studies. Acta Paediatrica, 97(2), 153-158.
  • Flouri, E., & Buchanan, A. (2002). Father involvement in childhood and trouble with the police in adolescence: findings from the 1958 British cohort. Journal of Family Issues, 23(3), 407-426.
  • "Os pais portugueses e o cuidado dos filhos", Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2019.
  • "Inquérito à Família e Parentalidade em Portugal", Instituto Nacional de Estatística, 2015.

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