Afinal, você é um empreendedor ou um empresário?
Há certos debates que, de tempos em tempos, ressurgem e demandam algum tipo de atenção. São temas que insistem em reaparecer, talvez buscando um novo olhar que os mantenha vivos. Ou, mais provavelmente, são questões ainda mal resolvidas e, por isso, exigentes de uma nova significação. A discussão entre empreendedor e empresário se encaixa neste padrão.
De acordo com uma visão bastante difundida, o empresário e o empreendedor são “bichos” muito diferentes. O empresário, alega-se, é aquele que escolhe abrir uma empresa ou herda um negócio. Representa uma profissão. Ser empresário envolve possuir uma responsabilidade jurídica que se concretiza, mas não se limita, a um número de CNPJ. Seu foco estaria voltado à perpetuação da empresa, o que é entendido usualmente como a manutenção das operações por meio de uma boa gestão.
O empreendedor, por sua vez, não se definiria como uma profissão, mas como um estado de espírito ou um traço de personalidade. Segunda esta perspectiva, empreendedor é um indivíduo cuja existência se mescla com a ideia de mudança. Não importa se é dono(a) de uma empresa; o importante é que o(a) empreendedor(a) possui um certo “potencial inovador”, de sorte que realize projetos e promova transformações. E daí decorrem as máximas: “você deve empreender na sua vida!”, “o bom gestor deve ser um empreendedor”, e muitas outras.
O problema com essa visão, todavia, recai sobre aquilo que não é dito. Sob a superfície, no imaginário popular, repousam figuras simbólicas que, como luz e sombra, fazem girar as engrenagens da discussão. A imagem do empresário é, em geral, a de um homem mais velho, bem-sucedido, que construiu um império e pode desempenhar a função de vilão em uma novela. O empreendedor é o jovem idealista e audacioso que luta heroicamente contra um dado sistema de coisas, buscando dar vida a sua criação.
Dessa oposição fundamental, decorrem as variações. O empresário que abraça uma causa e se lança na filantropia seria a antítese (ou a redenção?) do empresário “padrão”. O empreendedor desmedido, que demite colaboradores sem piedade, é o anti-herói que revela sua crueldade diante dos olhos de todos. Jogos de opostos, sempre dançando e criando o movimento.
Ainda assim, há algo de mais intrincado nessa polaridade. É curioso constatar, por exemplo, que tudo aquilo que existe já foi inovador algum dia. O empresário de hoje já foi, por si ou pela sua ancestralidade, empreendedor. Obviamente, isso não significa que o destino dos empreendedores esteja selado. Sempre é possível vender uma startup e buscar um “novo desafio”, uma outra inovação que reencene a jornada heroica. Se isso é um talento ou simplesmente a negativa em amadurecer, cada caso fala por si mesmo.
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Talvez o relevante seja perceber que, ao voltarmos ao debate que opõem empresário e empreendedor, estamos tentando equacionar as ideias de estabilidade e novidade. A estabilidade do empresário pavimenta o caminho do crescimento ou gera a estagnação. A novidade do empreendedor concretiza ideias revolucionárias ou destrói sem discernimento. Como opostos, essas ideias não se permitem existir ao mesmo tempo. Exatamente por isso, voltaremos, de novo e de novo, a essa discussão.
Ainda assim, espremida entre estes lugares imaginários está a vida concreta. E a vida não se basta em categorias fixas. Logo, se você se vir enredado(a) nesse tipo de debate deveria dar um passo para trás e se perguntar: O que busco hoje: estabilidade ou novidade? Não importa se você é um empreendedor ou um empresário. O que importa é desempenhar a melhor função para o seu negócio no momento presente.
Guilherme Fowler A. Monteiro , economista e doutor em administração pela USP, é professor de estratégia do Insper, parceiro do byebnk.