Afinal, você sabe o que é um ghostwriter?
A maioria das pessoas tem uma ideia preconcebida sobre o que faz um ghostwriter ou, no nosso bom português, o autor fantasma. Alguns confundem o conceito com uso de pseudônimo, achando que é aquele escritor que não coloca o seu próprio nome como autor e sim algum outro, fictício, no lugar. Algo como Eric Arthur Blair fez, pois somente alguns sabem que ele é George Orwell de “1984” e “A Revolução dos Bichos”.
A maioria entende que é a pessoa que realmente escreveu o livro, e que deixa outra pessoa, também real, ganhar os créditos pela autoria. Esta é a definição mais próxima da verdadeira, e deixa dúvidas sobre quais seriam as vantagens desse arranjo para as duas partes, principalmente para o verdadeiro autor, incógnito. Por que alguém toparia isso?
O primeiro ponto a esclarecer é que o trabalho não se limita a obras literárias. Artigos, discursos, papers acadêmicos, aulas, apresentações, votos matrimoniais, cartões de agradecimento, qualquer tipo de comunicação escrita pode se valer da habilidade desse profissional. O ghostwriter é a pessoa que escreve qualquer conteúdo para outra pessoa, que é creditada como o autor final, e por essa autoria é reconhecida.
Um bom escritor, por princípio, é aquele que consegue ter tanto a criatividade necessária para conceber uma ideia original quanto a necessária para comunicá-la da forma mais efetiva. O trabalho de um ghostwriter é essencialmente usar a sua aptidão para facilitar a transmissão de conhecimentos. Sabedoria e experiências não se espalham sozinhas, precisam de instrumentos. Se o autor, por vários motivos, não tem tempo ou habilidade para escrever e se há alguém que maneje a ferramenta da escrita com mais competência, por que não usar?
Vou lançar mão de um exemplo real. Uma pessoa terminou um curso em sua área de atuação com conteúdo rico, em que aproveitou toda a matéria e quer, por isso mesmo, apresentar como trabalho de conclusão a proposta de criar um novo conjunto de aulas em um formato inovador, para melhor disseminar os conhecimentos que adquiriu. A ideia está toda em sua cabeça, e é realmente interessante. Só que esse aluno não tem tempo e não gosta de escrever. Saberia explicar verbalmente, até mesmo apresentar academicamente o conceito, mas não escrevê-lo, como exige o trabalho final. Pois bem, eu vou escrever para essa pessoa.
As minhas principais responsabilidades, como ghostwriter, incluem:
- Entrevistar o cliente para entender sua voz, estilo de escrita e perspectivas sobre o tópico a ser abordado.
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- Pesquisar e reunir informações relevantes sobre o assunto.
- Redigir o texto de forma que reflita a "voz" do cliente.
- Revisar e editar o texto até que fique alinhado com as expectativas do cliente.
- Manter a confidencialidade sobre meu envolvimento no projeto, caso seja este o combinado.
Para mim, como profissional, fica a satisfação imensa do desafio, de aprender sobre o assunto de que trata o projeto, ver a minha habilidade sendo colocada em prática, conseguir criar as conexões de linguagem que vão levar a mensagem do meu cliente às pessoas que ele deseja alcançar, de forma clara e objetiva, em sua melhor performance. Se ele ganhar todos os créditos no sucesso de seu projeto, eu vou me sentir muito recompensada.
Eu sou uma artesã de ideias, uma arranjadora de palavras. O meu trabalho é expandir sentidos e criar as condições para que o conhecimento alcance a sua maior potência, que se espalhe e dê frutos. A minha satisfação é ver que aquela sabedoria não ficou estancada só por falta de uma habilidade que eu tenho, literalmente, para dar e vender.
O reconhecimento público pelo trabalho final é corretamente dado à pessoa que detém a substância, o conhecimento, a ideação. E mais do que merecido. Saber que aconteceu por meio da minha habilidade de transmitir ideias no formato da escrita é o que me faz sentir muito realizada com a autoria fantasma.
Diretor
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