A agitação social no Brasil de hoje. Por: Carlos Varela Luc
A turbulência social no Brasil de hoje
Por: Carlos Varela Luc
O Brasil é, como todos sabemos, um país de acentuadas assimetrias, económicas, políticas e sociais no qual muito dificilmente se conseguirá fazer uma regra que possa cobrir todas as situações e, menos ainda, agradar a todos.
O Brasil atravessa um momento particularmente difícil, em que devem imperar os superiores interesses do país no imediato mas, principalmente, nos médio e longo prazo. Não é possível obter ou manter condições, ditas conquistas, sem que haja cobertura financeira para elas ou, em alternativa, o governo que nada produz para vender, terá de aumentar receitas via impostos, situação em que todos pagarão.
Não é crível, menos ainda aceitável, que durante manifestações se deprede os bens públicos e privados. Queimar 9 ônibus (Cinelândia/entorno da Praça Floriano - Rio de Janeiro ) significa queimar cerca de 5 milhões de reais sem que alguém tenha algum ganho. Partir vidros e saquear lojas é prejudicar e roubar os comerciantes que, mercê da crise, já têm magras receitas e estreitas margens de lucro, trabalham duramente para manter os seus negócios e postos de trabalho.
É com grande pesar que vejo a destruição, semelhante à que assisti nos anos do chamado PREC (Processo Revolucionário em Curso), período do pós-25 de Abril de 1974, Revolução dos Cravos, sobre a qual escrevi na passada semana. Foi uma época em que Portugal "deitou fora" uma imagem de estabilidade política e económica e bens materiais cuja soma, que nunca foi feita, envergonharia a minha geração que promoveu a desejada mudança política abrindo "as portas" à democracia. Nesses anos destruiu-se património público e privado que viria a fazer muita falta ao país e que, ainda hoje, passados 43 anos, se está a pagar.
De modo nenhum poderei defender o regime autoritário, baseado numa polícia política, em partido único, assente em premissas patrióticas sem base de sustentação, alheio ao desenvolvimento económico do país, mas daí a poder concordar com a destruição de valores morais e materiais, ainda que com motivos ditos válidos, vai uma grande distância. Tive o privilégio de viver acontecimentos importantes na história do país onde nasci, concordando com as causas que conduziram à revolução dos Cravos nunca poderei aceitar a política da "terra queimada" que muitos quiseram seguir, diziam que só reduzindo tudo a cinzas se poderia criar um país democrático, e os ignorantes, tolos, imbecis e outros que tais deixavam-se levar nessa conversa destruindo o pouco que havia. Em todas as manifestações havia agitadores, diziam-se "formados" na então União Soviética (tive oportunidade de conversar com alguns), fazia dó ouvi-los parecia que tinham engolido uma fita gravada o que, se não fosse dramático seria hilariante.
Gostaria de ver o Brasil crescer, desenvolver-se, ocupar o lugar de destaque, na economia mundial, a que tem direito por via das suas gentes de bem, trabalhadores com uma grande capacidade de produção, das suas imensas riquezas naturais. Sei que o país está simplesmente a atravessar uma fase da sua história, ainda que de má memória, mas confrange-me ver destruir principalmente sabendo que há mais de 14 milhões de desempregados que lutam com muitas dificuldades e que carecem da ajuda do estado para sobreviver.
É evidente que muito contribuíram para o actual estado das "coisas" todos os que, de uma ou outra maneira, roubaram o estado mas, o Brasil, numa demonstração da sua capacidade de regeneração, denuncia, acusa, investiga e castiga os que cometeram actos menos honestos e nada dignos de pessoas nas quais o povo confiava.
Adoptei o Brasil como a minha terra do coração e custa-me ver a condução de massas humanas, entre os quais muitos desesperados, por agitadores parasitas à sociedade (as imagens televisivas mostram-nos claramente), semelhantemente ao que aconteceu nos idos anos 70 do século passado em Portugal, meu país natal.
É lamentável que o Brasil-país como um todo seja julgado com base nos acontecimentos do Rio de Janeiro e de São Paulo a que se somam outros focos dispersos. Aqui, no Estado de Santa Catarina, essas "loucuras" (leia-se depredação de bens públicos e privados) têm uma menor expressão, só muito pontualmente há acontecimentos com comportamentos tão hostis a uma sociedade organizada, respeitadora e com profundos vínculos ao trabalho, é um estado mais "educado", mais respeitador ou não fora a dominante influência europeia, principalmente germânica.
Faço votos para que o Brasil, este magnífico e grandioso país, saiba ultrapassar este período de crise recuperando-se rápidamente.
A riqueza de uma nação mede-se pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes (Adam Smith)
Por: Carlos Varela Luc