Agronegócio e Gestão
Não é segredo a vocação do Brasil para produção de alimentos. Suas condições climáticas, de solo e tecnologia permitem produção capaz de atender a demanda interna e ainda abastecer o mercado internacional.
Nasci e fui criado em meio a produtores rurais e cooperativas agropecuárias e desde 2007 trabalho diretamente no agronegócio, precisamente no setor sucroenergético. Dentre as varias lacunas que percebo (questões politicas, econômicas, de logística dentre outras) uma coisa em comum me chama a atenção: a forma como é realizada a gestão destas propriedades.
É normal nos depararmos com situações onde o produtor não conhece os custos de sua produção ou então confunde os custos com todos os gatos do período. Em fazendas onde se tem mais de uma atividade, este problema é ainda maior pois não são aplicadas técnicas para apurar o custo de produção das diferentes culturas ou atividades. A conta que muitos fazem é: se as receitas que obtiveram superaram os gastos e ainda sobrou uma "quirelinha", significa que a situação está boa, porém nem sempre isso reflete a realidade.
Ter a gestão da propriedade, que engloba levantamento dos processos, planejamento de produção, estimativa de vendas, levantamento e análise de custos, previsões climáticas, previsões de produção da região (nacional e/ou internacional) são fundamentais para que o produtor se mantenha na atividade por mais tempo, pois estas informações o subsidiarão para tomadas de decisões antecipadas e mais assertivas.
Costumo dizer os produtores rurais são Agro-Empresários, pois assim como acontece nos centros urbanos, uma propriedade é capaz de gerar renda para o proprietário, postos de trabalho - diretos e indiretos, aplicação de tecnologia, recolhimento de impostos, ou seja, tudo o que uma empresa urbana faz, porém ainda vejo que muitos não se deram conta disso e que, diferentemente das empresas, consideram os gastos com gestão como despesas e não como investimento.
A gestão permite antecipar alguns cenários, além de fornecer informações importantes que possibilitam enxergar os gargalos (como por exemplo a hora de trocar um trator que está tendo um alto custo de manutenção). O que precisa ficar claro é: Quanto custa para o produtor ter uma informação de qualidade que lhe permitirá fazer tudo o que citei anteriormente? Eu acredito que isso não tem preço!
Portanto, penso que ainda temos alguns paradigmas a serem quebrados. Talvez o mais famoso deles seja: "Meu avô e meu pai sempre fizeram assim, então porque tenho que mudar?"
A resposta pode ser sentida quando vemos famílias tradicionais do agronegócio terem que vender suas propriedades para quitarem dividas pelo simples fato de não enxergarem os gargalos de seu processo produtivo ou por investir tudo em uma cultura que já se previa que não teriam bons preços de comercialização. É o velho truque: "Se meu vizinho está plantando é porque é bom!". Mas o solo de sua propriedade permite o plantio desta cultura? As etapas de manejo são conhecidas? Existe mercado para venda da produção? É possível fechar um contrato com prestador de serviço antecipadamente para garantir um preço melhor? As empresas agropecuárias da região conseguirão atender no que tange ao fornecimento de insumos e prazos de entrega? Em fim, são muitas as variáveis e também são muitas as respostas.
O fato é que em mundo cada vez mais globalizado, onde concorremos com produção agrícola dos mais diversos países (e muitos deles com subsídios) o espaço para quem produz sem uma gestão eficiente tende a desaparecer.
Apesar de tudo isso, não podemos deixar de reconhecer a garra, esforço e sucesso dos agro-empresários para contribuição econômica, social e ambiental do nosso País! É uma classe que merece ter mais reconhecimento por tudo o que fez, faz e ainda tem por fazer para nosso desenvolvimento!
Vamos em frente, faça sol ou faça chuva, com problemas econômicos e políticos! Esse é nosso lema e eu quero contribuir da melhor forma possível para a evolução do Agronegócio Brasileiro, tentando sempre aliar produção com a Gestão e enxergar oportunidades onde outros só vêm problemas!
Economista com atuação no Agronegócio e Educação Corporativa
9 aExcelente artigo! Eu acredito que rm breve quem não tiver profissionalismo na gestão vai sucumbir na atividade.