Além da probabilidade: O poder de gerir impactos

Na gestão de riscos, a tendência de concentrar esforços na redução da probabilidade de eventos adversos é comum. Embora essa abordagem seja essencial, ela pode gerar um desequilíbrio significativo se negligenciar outra dimensão crítica: a redução do impacto. Focar predominantemente na probabilidade pode resultar em uma vulnerabilidade diante de eventos inevitáveis ou oportunidades desperdiçadas. Tanto as ameaças quanto as oportunidades apresentam incertezas, e lidar com os impactos — negativos ou positivos — é essencial para uma gestão de riscos eficaz.

Ao lidar com ameaças, a primeira reação é tentar prevenir que elas aconteçam. Isso inclui reduzir a chance, por exemplo, de um potencial problema com fornecedores, falhas tecnológicas ou a inadequação a novas legislações. No entanto, nem sempre é possível evitar tais riscos completamente. Focar apenas na probabilidade pode deixar uma organização despreparada para lidar com os impactos negativos, caso o evento se concretize. A prevenção não garante que o impacto seja reduzido, e é aí que muitas vezes reside o erro estratégico.

Por outro lado, ao lidar com oportunidades, o foco exclusivo na probabilidade de sucesso pode limitar a organização na exploração de potenciais benefícios. Se uma empresa não estiver preparada para lidar com o impacto positivo de uma oportunidade, ela pode perder uma grande chance de crescimento.

A gestão de impactos — tanto negativos quanto positivos — deve ser uma prioridade. A capacidade de responder a danos ou amplificar ganhos quando um risco se concretiza pode ser decisiva para o sucesso ou fracasso. O impacto muitas vezes é negligenciado porque a gestão de riscos é tradicionalmente vista como uma maneira de evitar problemas, e não como uma ferramenta para se preparar para lidar com eles.

Exemplos de ações junto aos Impactos Negativos:

1. Ameaças relacionadas a fornecedores: Quando uma organização depende de um único fornecedor, ela está vulnerável a interrupções no fornecimento, falências ou problemas de qualidade. Para responder ao impacto de um risco com fornecedores, uma estratégia eficaz é diversificar a base de fornecimento, estabelecendo contratos com múltiplos fornecedores para o mesmo produto ou serviço. Caso um fornecedor falhe, o impacto de uma interrupção é reduzido pela capacidade de recorrer a outras fontes, garantindo a continuidade das operações.

2. Ameaças relacionadas a tecnologia: No contexto de tecnologia, ataques ou falhas de sistemas críticos podem paralisar uma empresa, impactando operações e finanças. Para responder a esse impacto, é oportuno implementar redundâncias tecnológicas, como backups regulares e servidores de contingência, que garantem a continuidade dos serviços em caso de falhas. Ainda que o evento de falha não possa ser evitado, o impacto negativo é reduzido com ações preventivas.

3. Ameaças relacionadas a novas legislações: Mudanças regulatórias podem representar ameaças significativas para empresas que não se adaptarem a tempo. No entanto, a resposta aos impactos negativos pode ser realizada por meio de um compliance ativo e um time jurídico preparado para reagir rapidamente a novas legislações. Ter processos internos flexíveis e ajustáveis permite que a organização se adapte rapidamente a mudanças regulatórias, minimizando custos de adequação ou penalidades.

Exemplos de ações junto aos Impactos Positivos:

1. Oportunidades com fornecedores: Parcerias estratégicas com fornecedores inovadores podem abrir portas para novas tecnologias ou condições comerciais mais favoráveis. No entanto, a maximização do impacto positivo dessa oportunidade exige um relacionamento bem gerido e a capacidade de negociar contratos flexíveis que permitam expansões ou ajustes rápidos, de acordo com as novas necessidades do mercado.

2. Oportunidades tecnológicas: Quando uma nova tecnologia é implementada com sucesso, o impacto positivo pode ser significativo, resultando em maior eficiência ou novos mercados. Para aproveitar ao máximo o impacto, é importante ter equipes prontas para escalar a implementação e integrá-la rapidamente em toda a organização e/ou demais soluções. Além disso, uma abordagem de inovação aberta, que permita à empresa integrar novas tecnologias rapidamente, potencializa o impacto positivo.

3. Oportunidades legislativas: Novas legislações ou incentivos governamentais podem criar oportunidades financeiras e de expansão de mercado. Se uma organização estiver preparada para responder a essas mudanças, ela pode obter benefícios significativos, como incentivos fiscais, subsídios ou exclusividade de mercado. A capacidade de antecipar-se às mudanças legislativas e ajustar as operações de forma ágil pode garantir que a empresa seja uma das primeiras a capturar os benefícios dessa oportunidade.

Focar exclusivamente na redução da probabilidade de riscos, cria uma lacuna perigosa na gestão de riscos. O verdadeiro sucesso reside no equilíbrio entre gerenciar a probabilidade e preparar-se para os impactos, tanto os negativos quanto os positivos.

Ao agir sobre o impacto negativo de ameaças, a organização protege-se contra grandes perdas, e ao maximizar o impacto positivo das oportunidades, ela garante que o valor gerado seja capturado plenamente. Esse equilíbrio proporciona resiliência e agilidade em ambientes voláteis e incertos, onde as ameaças e oportunidades estão frequentemente interligadas.

A abordagem correta para gerenciar impactos não apenas limita os prejuízos, mas também abre caminho para inovações, novos mercados e vantagens competitivas. Ignorar essa dimensão significa perder a chance de transformar o risco em um fator de crescimento, ao invés de um simples potencial problema a ser resolvido.

O foco excessivo na probabilidade de ocorrência de eventos pode ser insuficiente para uma gestão de riscos eficaz. A capacidade de gerenciar o impacto, minimizando os efeitos negativos e maximizando os positivos, é o que distingue uma organização resiliente e bem-sucedida. As empresas devem equilibrar ações que visam reduzir a probabilidade de eventos adversos com estratégias robustas para responder a impactos e aproveitar oportunidades. Somente assim estarão realmente preparadas para enfrentar e prosperar em um ambiente de incertezas.