Além do Setembro Amarelo: O papel das Instituições de Ensino na promoção da saúde mental e no apoio integral ao estudante

Além do Setembro Amarelo: O papel das Instituições de Ensino na promoção da saúde mental e no apoio integral ao estudante

De acordo com os dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram por suicídio globalmente, o que corresponde a 1% de todas as mortes. A OMS também indicou que o Brasil está na 8ª posição entre os países com as maiores taxas de suicídio. Ademais, os adolescentes foram a faixa etária mais afetada, com um aumento alarmante de 81% nas mortes por suicídio entre 2010 e 2019. Complementando essas informações, a Associação Brasileira de Psiquiatria estima que 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, sendo a depressão a condição mais prevalente.

Essas informações revelam uma constatação preocupante: os adolescentes frequentemente figuram como os mais representados nas estatísticas de suicídio. Esse fenômeno não apenas é preocupante, mas também oferece uma oportunidade crítica para analisar os fatores que contribuem para o elevado impacto nessa faixa etária. Considerando que os jovens estão amplamente inseridos nas instituições de ensino, é urgente que essas instituições, embora não sejam responsáveis diretas pelo diagnóstico e tratamento de transtornos mentais, desempenhem um papel estratégico, estando atentas para identificar sinais de alerta, apoiar o desenvolvimento integral dos alunos e encaminhar adequadamente os casos que necessitam de atenção especializada.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que "toda pessoa tem direito à educação", o que sugere que a educação deve promover o bem-estar integral dos alunos. Nesse contexto, as instituições de ensino devem ir além da mera transmissão de conhecimento acadêmico e assumir um papel abrangente na formação dos indivíduos. É fundamental que essas instituições promovam relacionamentos interpessoais saudáveis, identifiquem e abordem dificuldades emocionais, desenvolvam e valorizem habilidades socioemocionais. Para cumprir essa missão, devem implementar práticas que ultrapassem os limites físicos institucionais e reflitam um compromisso com o bem-estar holístico dos alunos, contribuindo assim para a formação de cidadãos mais preparados para enfrentar os desafios da vida e para transformar positivamente o meio em que vivem, possibilitando que se tornem agentes transformadores em suas comunidades e até mesmo no mundo.

Outros pontos importantes a serem questionados e estudados são: por que os adolescentes são os mais afetados? Será que o fato de estarem em uma fase de construção de identidade, que ainda não está clara para eles, é um fator contribuinte? Poderia ser a intensa atividade hormonal, as emoções exacerbadas ou o nascimento de um novo "eu" que essa fase representa? Essa etapa traz a sensação de que as dores são permanentes e não passageiras? As espinhas parecem ser eternas, assim como os desamores e as decepções? Uma nota baixa marcará para sempre sua trajetória? As pressões por escolhas profissionais, sem a descoberta do sentido da vida e sua importância para a execução de um propósito no mundo, afetam mais os jovens? Há gatilhos de prazer disfarçados de curtidas em redes sociais que se confundem com a transmissão de dopamina? A necessidade de ser uma “manchete permanente de novidades” para ser aceito no grupo ou de adquirir objetos, mesmo sem poder, apenas para seguir a “manada”, contribui para essa vulnerabilidade? Será que o imediatismo desta fase, aliado ao caráter definitivo atribuído ao que é provisório, gera frustrações? Como essas frustrações estão sendo trabalhadas? Como os adolescentes estão sendo ouvidos?

As instituições estão apenas transmitindo conhecimento ou também construindo junto com eles? Estão formando intelectuais sem inteligência emocional ou enxergando além, dando sentido aos seus talentos e à importância de suas profissões para si mesmos e para o mundo? Até onde estamos verdadeiramente os ouvindo? Friedrich Nietzsche já observava a complexidade da vida e da autoidentidade ao afirmar: “Torna-te quem tu és” (Nietzsche, 1882). Esse pensamento destaca a importância do processo contínuo de autodescoberta e autoafirmação, essencial durante a adolescência. Portanto, uma análise crítica dessas questões é fundamental para ajustar as práticas educativas, proporcionando um ambiente que favoreça o desenvolvimento integral dos adolescentes, reconhecendo e valorizando suas singularidades e potencialidades.

Por fim, sabemos que anualmente, em setembro, temos uma série de campanhas, palestras e iniciativas dedicadas à saúde mental. Desde 2015, no Brasil, o Setembro Amarelo foi instituído como o mês de conscientização sobre a prevenção ao suicídio. Embora seja inegável a importância de um período que enfatize essa temática, é imperativo transcender este intervalo temporal e promover discussões sobre saúde mental de forma contínua. É necessário eliminar mitos, fomentar a escuta ativa, desenvolver estratégias de acolhimento constante e dedicar-se ao estudo aprofundado da mente humana, dos indivíduos e de suas relações com o meio. Além disso, é crucial analisar índices e identificar grupos mais vulneráveis, ampliando o conhecimento para todos(as), a fim de promover uma perspectiva mais sensível e o despertar do autoconhecimento como uma ferramenta essencial de autocuidado para cada indivíduo.

É fundamental reconhecer que, diariamente, milhares de pessoas sofrem de diversos transtornos mentais, de janeiro a dezembro, todo dia, a todo instante. São fevereiros de transtorno de ansiedade generalizada (TAG), julhos de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), novembros de anorexia e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). São dias de delírios, alucinações e depressão. São pedidos de ajuda silenciosos e a incerteza se conseguirão começar ou finalizar o dia. Já questionava Michel Foucault: "Como podemos estabelecer o discurso da loucura em uma sociedade que, frequentemente, silencia suas vozes mais vulneráveis?" A reflexão que emerge é: como estamos realmente ouvindo nossos adolescentes/estudantes? Quais são as vozes que estão sendo ouvidas e quais permanecem silenciadas? São com essas inquietações que desejamos que todos os meses tenham a sua cor!

Eduarda Narciso

Jornalismo | Redação | Marketing de Conteúdo | Marketing Digital

3 m

👏💛

Katarina Botelho

Master of Business Administration - MBA | Universidade Católica de Pernambuco

3 m

👏👏👏

Alessandra Bellotto

Talent Acquisition | Executive Search | Headhunter | Associate at Signium | Psicóloga

3 m

Tema tão pertinente, expressado de forma clara e reflexiva! Uma leitura que planta a semente da transformação no que diz respeito ao papel da educação em ouvir, entender, respeitar e significar (principalmente em ações) a saúde mental. Excelente artigo!

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